segunda-feira, 7 de julho de 2008

O domingo de Kenji Ueta

As janelas estão abertas e duas enormes árvores parecem querer invadir a sala. No asfalto, sentido JK-centro, a palavra “DEVAGAR” até que é levada a sério. Já para quem sai da avenida Paraná e entra na Itororó, encontra uma reta convidativa até a JK. Sem redutores de velocidade e sem pardais. Por isso, é perigosamente comum carros e motos rasgarem a avenida em assustadora velocidade numa via quase no centro da cidade.

O tempo é quente, mas o vento, mesmo leve, tem força para mexer com os galhos mais finos. O sol é forte, se esparramando sobre as copas das árvores do Bosque dos Pioneiros ou Bosque 2, como é chamado por todo mundo. Agora, quase 9 da manhã ainda há pessoas caminhando em torno dele. Duas horas antes, o local estava tomando de gente de idades e pesos variados indo e vindo, caminhando e correndo. No final do dia, eles voltam.

Se agora tivesse uma trilha sonora de Paul Mauriat, que morreu em novembro do ano passado aos 81 anos, e se fosse possível dar um “mute” no ronco dos motores, a imagem à minha frente teria o poder de varrer as preocupações e criar o ilusório campo de paz e tranqüilidade.

Nesta sala, entre dezenas de fotos de Maringá em preto e branco nas paredes, uma me leva a fazer comparação com este cenário. A foto tirada pelo pioneiro Kenji Ueta, o primeiro fotógrafo da Cidade Canção, é da década de 50. Seu Kenji subiu em alguma construção na esquina da Duque de Caxias com a Brasil e conseguiu dar profundidade à fotografia, sendo possível ver a avenida principal até a praça Rocha Pombo.

Ruas sem asfalto, crianças brincando próximas ao canteiro central, homens na calçada, ou o que viria a ser calçada, os famosos Cadillac, dois jipes, uma charrete, bicicletas, casas baixas e uma enorme mata emoldurando a foto na parte superior. Tudo em harmonia. Novamente recorro a Paul Mauriat. Então, vou olhando mais detidamente. À esquerda da foto, muita gente na praça Raposo Tavares e instalados nela um circo e um parque de diversões.

Não perguntei ao seu Kenji, mas tenho certeza de que é uma tarde de domingo em Maringá. Reforço esta certeza ao ver as seis portas da Casa Paratodos fechadas. Então, substituo a orquestra do maestro francês e ponho no alto-falante da história da menina Maringá um ritmo mais apropriado para a ocasião: uma marchinha do Braguinha ou um sertanejo de raiz. Fico a imaginar o que os que virão vão dizer da gente ao olhar nossas fotografias e vídeos. E será que eles ainda terão o privilégio de ver o que vejo agora das minhas janelas?

(Publicado no jornal O Diário do Norte do Paraná, dia 25 de novembro de 2007)