sábado, 28 de fevereiro de 2009

Livro: “O Jornal do Bispo" – Capítulo 37 – A FOLHA DO NORTE E A COPA DO MUNDO DE 1970

O País respirava futebol naquele 21 de junho de 1970. Não era para menos. O escrete canarinho poderia chegar ao tricampeonato. A seleção comandada por Zagallo havia vencido todos os jogos da Copa do Mundo do México e tinha pela frente a Itália, que, com muita garra, chegara à final no Estádio Azteca, na Cidade do México.

A redação da Folha do Norte, que sempre ficava fechada aos domingos, porque não havia edição na segunda-feira, estava cheia de repórteres. O televisor, em preto e branco, evidentemente, estava ligado. Em cores, só viria a ser lançado dois anos depois.

A. A. de Assis, o chefe de redação; Valdir Pinheiro, o editor de esportes; Francês, que fazia as matérias locais; Moracy Jacques, o fotógrafo; e Walter Poppi, que havia sido contratado no dia anterior, eram alguns dos telespectadores.

Naquela época, televisor era artigo de luxo. Por isso, a torcida foi engrossada com funcionários de outros departamentos. O satélite colocava as imagens minutos antes do início da partida. Fora o jogo, dava para ver a execução do Hino Nacional e nada mais.

Na narração, a bela, apaixonada e ufanista voz de Geraldo José de Almeida. “Brasil, patrão da bola”. Era este o seu principal bordão. Em campo, Félix, Carlos Alberto, Brito Piaza, Everaldo, Clodoaldo, Gerson, Jairzinho, Tostão, Pelé e Rivelino.

Os jornalistas não estavam naquele domingo na redação apenas para assistir a decisão. Estava tudo preparado para uma edição especial na segunda-feira. As páginas internas já estavam prontas e faltava “apenas” o Brasil ganhar o tricampeonato para o material ir para as rotativas.

Valdir havia preparado várias matérias sobre a seleção, a campanha e o currículo dos craques com as fotos correspondentes. Uma página inteira foi dedicada a eles. O editor não esqueceu dos reservas Leão, Ado, Zé Maria, Baldochi, Fontana, Joel Camargo, Marco Antonio, Paulo César, Roberto Miranda, Dário e Edu.

O departamento comercial trabalhara muito contando com a possibilidade de faturar alto. Havia anúncios em todas as páginas. Se a seleção perdesse, além da tristeza, o prejuízo seria dos maiores. As empresas só concordaram em anunciar em caso de vitória. Derrota e a edição estaria suspensa. Quem gostaria de ler um jornal trazendo informações sobre a vitória da Itália?

Pelé fez o primeiro, de cabeça. Bonisengna empatou numa falha de Clodoaldo. Igualdade no marcador na primeira etapa e muitas dificuldades para Moracy Jacques tirar fotos das imagens da partida.

O fotógrafo da Folha já vinha fazendo isto desde a primeira partida da seleção, contra a Tchecoslováquia, e depois Inglaterra, Romênia, Peru e Uruguai. Era uma prática comum nos jornais da época.

Os assinantes da Folha do Norte eram brindados com fotos distorcidas, de pouca resolução e nitidez. Mas, todo leitor tinha a compreensão da impossibilidade do fotógrafo estar no local e enviar a foto para a redação no mesmo dia e daí ser publicada no dia seguinte. Poucos, naquela época, tinham uma mente tão fértil para imaginar esta tecnologia do século XXI.

Gerson marcou o segundo, num tirambaço de fora da área. Jairzinho, que havia feito gols em todos os jogos anteriores, ampliou pra 3 a 1. Moracy não sabia se assistia ou se fotografava.

Depois dos 40 minutos, com o título garantido, o Brasil passou a tocar a bola e a dar espetáculo. Como fez Clodoaldo, driblando cinco italianos num curto espaço. Mas havia tempo para fechar o placar em alto estilo.

Bola com Pelé na entrada da área, que rola milimetricamente para o capitão Carlos Alberto. Um tiro forte, seco, à meia altura, no canto direito do goleiro Albertosi, que nada pôde fazer. Brasil 4 a 1. Festa em todo o País e também na redação da Folha do Norte do Paraná. Alegria e alívio.

No dia 22, os leitores da Folha viram a capa com uma enorme foto de Pelé. Nas internas, tudo sobre o Brasil na Copa do México. Valdir Pinheiro, A. A. de Assis e Walter Poppi deram todos os detalhes do jogo naquela edição histórica.

Em quase todas as páginas, anúncios das empresas, que pegaram carona na festa da vitória cumprimentando e congratulando-se com a seleção. O time era muito bom e o ufanismo também. Um clima excelente para exaltar a pátria e vender anúncios. Uma nova edição extra da Folha do Norte só viria a ser rodada em 10 de maio de 1972, no Jubileu de Prata de Maringá.


Edição especial do tricampeonato mundial, em 1970
(Reprodução)

Livro: “O Jornal do Bispo” - Capítulo 36 – UM PEDALANDO, OUTRO NA GARUPA

Em quase todas as tardes de domingo, entre 1967 e 1970, os garotos Serrinha e Perereca atravessavam a cidade de bicicleta para cobrir os jogos do Campeonato Amador da Liga Desportiva de Maringá.

Eram dois, até três jogos no mesmo horário no “Brinco da Vila”, na Operária, na “Telefônica”, na Vila Nova, no “Américo Dias”, o campo do SERM no Maringá Velho ou no Mandacaru. Um pedalava e outro na garupa, máquina fotográfica pendurada no pescoço.

Wilson Serra e Messias Mendes eram os responsáveis pela página do amadorismo. Como o jornal não circulava na segunda-feira, as informações sobre a rodada e as fotos só saíam na terça. De todas as lembranças do seu tempo de Folha do Norte, de 67 a 70 e de 71 a 72, as relacionadas com o esporte são mais marcantes para Wilson Serra.

Os Jogos Abertos do Paraná, que perderam a força com o tempo, e o Campeonato Brasileiro de Voleibol Juvenil, que atraíam grande público e recebiam generosos espaços na Folha, também são inesquecíveis. O apego de Serrinha pelo esporte é justificável. Uma compensação diante do conservadorismo e censura daqueles tempos.

“A linha moderada e conservadora foi ingrata para a geração de fatos marcantes. Na minha lembrança, apenas as dificuldades, a falta de estrutura, o improviso e o apaixonado amadorismo do trabalho.”

A Folha do Norte foi o primeiro emprego de Serrinha. Tinha 14 anos quando começou como cobrador de assinaturas no departamento de Circulação. O seu interesse, no entanto, era pela redação. Valdir Pinheiro, redator de esportes, foi quem lhe deu a chance de começar a escrever.

Valdir deixava que ele escrevesse algumas notinhas, ia revisando e publicando alguns textos e, de tanto insistir, ganhou uma coluna com notícias do esporte amador de Maringá e região, a Amadorismo. O fato de ter uma coluna não significava que estava liberado de suas funções no departamento de Circulação.

Foi quando Valdir novamente interferiu e conseguiu de A. A. de Assis a transferência definitiva de Serrinha para a redação. Até 1970, ano em que teve a experiência de trabalhar em Rádio, na Cultura, Wilson Serra fazia, além da coluna, todo o noticiário amador e ainda colaborava nas matérias locais.

Seus companheiros da época ressaltam esta paixão de Serrinha pelo jornalismo, numa época em que ninguém tinha funções específicas definidas. Até uma máquina fotográfica ele comprou e aprendeu a fotografar com Moracy Jacques.

Já se passaram 40 anos e a memória não retém tantos detalhes. Serrinha fala dos irmãos Elpídio, que fechava a primeira página, e Ismael, do noticiário local, de Verdelírio, de Messias, que começou com ele, de Kaster Carrara e Walter Poppi, Moracy Jacques, Frank Silva, o falecido Struett, chargista de grande criatividade. Elogia o jornalista e poeta Assis pelo brilhantismo do texto, agradece os irmãos que, pela experiência e textos mais apurados, revisaram muito do que escrevia, e chama Valdir Pinheiro de professor.

Atualmente na chefia de jornalismo da Rede Paranaense de Televisão, ele consegue, aos 55 anos, avaliar com maior nitidez aquele período de 1967 a 1970: um extremo conservadorismo e submissão aos poderes que se contrapunham ao avanço tecnológico e à organização dos setores. Sendo um jornal recheado de releases do governo do Estado e da Prefeitura, e o País sob a tutela da ditadura militar, Serrinha fez do esporte amador sua paixão e também o seu escape.

Wilson Serra, chefe de jornalismo da Rede Paranaense de Televisão, começou a trabalhar na Folha do Norte com 14 anos
(Foto - arquivo TV Cultura -Rede Globo)

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Livro: “O Jornal do Bispo” – Capítulo 35 – POLÍCIA FEDERAL INVADE A FOLHA DO NORTE E EMPASTELA EDIÇÃO

Nos meses que antecederam o Ato Institucional nº 5, o AI-5, o golpe fatal no resto de democracia, decretado em dezembro de 1968, os movimentos grevistas pipocavam no País. No dia 1º de outubro, Maringá entrou no circuito grevista. Os empregados da Cia Norpa Industrial, empresa que comprava e industrializava soja, cruzaram os braços.

Foi a primeira greve da história de Maringá. O Jornal de Maringá chegou a publicar matéria a respeito da onda de paralisações, que incluía a cidade. No dia 5, chegou a dar o seguinte título: “Maringá pode parar”.

Escrever sobre greves na Folha não era permitido por dom Jaime. o arrendatário Joaquim Dutra concordava que o jornal não deveria se meter em assuntos que desagradavam o governo Federal.

Ocorre que no dia anterior à greve da Norpa, os repórteres da Folha resolveram entrar no clima, escrevendo matérias a respeito. Afinal, aquilo que estava acontecendo era uma grande novidade e um jornal como a Folha, que ia para todas as cidades da região, não poderia ficar indiferente.

Mais do que a motivação esquerdista, valia era a novidade. Por volta da 1 da madrugada do dia 1º de dezembro, quando os protestos em frente à Norpa começaram, a redação da Folha foi invadida.

Houve vazamento de informação. A Polícia Federal de Londrina ficou sabendo que ia ser publicada a matéria e mandou seus agentes para Maringá. O editor Elpídio Serra estava naquela hora na redação esperando o jornal ser rodado.

“O agente Guilherme, eu me lembro dele até hoje. Ele disse: -Vocês estão publicando. Eu disse: - Não, não estou publicando. E aí, enquanto eu estou falando com ele, um outro agente já está na oficina, já tinha empastelado o jornal. Enquanto eu estava discutindo com ele, dizendo que não estava publicando nada, já tinham mexido na página toda. Então o jornal não publicou nada.”

A direção da Folha foi informada do episódio logo em seguida, mas partindo da premissa de que “bom cabrito não berra” Joaquim Dutra preferiu não polemizar. Com dom Jaime foi o contrário. Não somente ficou revoltado com o ocorrido, considerando uma afronta, como, logo de manhã, foi à Norpa apoiar o movimento.

O bispo assumiu declaradamente a posição ao lado dos grevistas. Para Elpídio, o episódio ilustra a personalidade de dom Jaime, que quando tomava uma posição ia até o fim. A sua coragem em tomar posições contrárias ao regime militar foi alimentada pela mudança do discurso da Igreja, que intensifica a discussão sobre os excluídos neste período.

Elpídio elogia esta postura do arcebispo, se recordando de um outro fato:

“Dom Jaime nunca vacilou. Se ele achou uma posição, vai até o final, ele não arreda, ele tem palavra, ele sustenta o que diz. Quando houve o assentamento em Paranacity, a terra invadida era da Usina Santa Terezinha, um grupo forte em Maringá, economicamente. Aí dom Jaime vai para lá e a expectativa dos empresários é de que ele vai mandar as pessoas se retirarem. Dom Jaime rezou a missa e disse: - Vocês ficam, vocês têm direito, a terra pertence a vocês! Um discurso totalmente diferente de antes. Ele mudou e quando mudava, mudava em função dos fatos novos e sustentava a mudança.”

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Livro: “O Jornal do Bispo” - Capítulo 34 - JOAQUIM DUTRA DISSE: “VOCÊ VAI SER FOTÓGRAFO”

“Olha, eu te conheço. Se essa fotografia sair na Folha eu vou te matar também”. A polícia havia prendido um assassino num matagal da cidade e o fotógrafo da Folha do Norte foi à delegacia registrar o fato. A ameaça o fez tremer de medo.

Não teve dúvidas: não revelou o filme. Quando o repórter Antonio Calegari, que cobria a polícia, pediu a foto, ele disse que o filme tinha estragado e por isso não dava para revelar. Ser fotografado pela Folha era sucesso garantido, mas fama era o que menos queria o fotografado em questão. E Moracy Jacques não queria encerrar sua vida logo no início de carreira. A maior parte das fotos publicadas na Folha do Norte de 1966 a 1976 foi tirada por Moracy Jacques.

Nelson Pupin, o Jaca, que tem seu nome associado ao O Diário, e Valdir Carniel, ex-cinegrafista da Globo em Maringá, foram seus alunos e auxiliares na Folha. Fazia pouco tempo que havia saído do seminário quando chegou à cidade, em 1965, e nunca tinha tido contato com uma máquina fotográfica.

Foi trabalhar na Rádio Cultura, levado por dom Jaime, para fazer boletins noticiosos. Reinaldo de Almeida César tinha pedido as contas na Folha do Norte e como Joaquim Dutra era seu patrão na rádio e arrendatário do jornal, deu-lhe a ordem: “- Você vai ser fotógrafo!”

“Eu nunca tinha visto uma máquina fotográfica. Peguei uma Yashica 6x6, que hoje nem existe mais, só em museu. Mas, o seu Joaquim era uma pessoa curiosa e disse: - Vamos ver como faz fotografia. Aí começamos a fazer testes até que conseguimos fazer algumas fotos. Então, era muito preocupante porque a gente fazia as fotos e não sabia se ia sair. A gente pedia socorro também para o Foto Maringá, que explicava como era.”

Seminarista era sinônimo de cultura. E não sem razão. A Folha recrutou alguns, como Moracy, porque não havia mão-de-obra especializada para trabalhar na redação. A ordem de Dutra era para que fotografasse, mas, pelos seus conhecimentos adquiridos no rigor do seminário, Moracy se tornou também revisor e escrevia a coluna Almanaque, com horóscopo, copiado dos jornais de São Paulo ou por ele inventado, letra de música, número da sorte, que ele escolhia aleatoriamente, e poesias. Neste item, Moracy recebia ajuda do diretor de redação e poeta A. A.de Assis. A coluna ficou famosa e durou praticamente todo o tempo em que ele ficou na Folha.

Moracy desfila curiosas histórias daquele tempo, como a de uma mulher que queria lhe dar dinheiro como forma de agradecimento por ter ganho na loteria a partir de um palpite tirado da Almanaque. Ele não aceitou porque nada havia de científico naquilo e sim uma simples e feliz coincidência.

Ele se lembra de um jogo do Grêmio no estádio Willie Davids. No sábado, atravessou a madrugada jogando baralho com os amigos. Só parou às 2 da tarde para ir fotografar o jogo. Bola rolando e o sono chegando até que Moracy não aguentou. Dormiu atrás do gol.

Só acordou, bastante assustado, depois de um estridente apito do árbitro num escanteio. Foi uma grande gozação dos colegas da imprensa que faziam a cobertura da partida. O fotógrafo do O Jornal na época era Luiz Nora Ribeiro, que não pode socorrê-lo.

Moracy afirma que não havia troca de fotografias entre eles, fato comum entre repórteres fotográficos do interior. Neste aspecto, Joaquim Dutra era por demais severo.

O salário na Folha era pouco. O grosso dos rendimentos vinha com os trabalhos extras, como inaugurações, casamentos, festas. Com a saída de Reinaldo, Frank Silva levava Moracy para todos os eventos.

“O jornal não pagava nem as despesas, tanto é que no início eu dormia dentro do jornal mesmo, lá em cima dos jornais velhos. Eu não morava aqui, morava no sítio. Então, terminava a edição eu nem ia para casa, dormia dentro do jornal. Mas eu fazia muito social. Inaugurava uma loja, terminava a inauguração, eu ia ao laboratório, revelava o filme e montava o álbum. No outro dia, cedo, eu já estava entregando o álbum para o cliente.”

As fotos da Catedral, desde o início da construção, são de Moracy, feitas a pedido de dom Jaime. Também as inaugurações das rodovias Maringá-Campo Mourão, Maringá-Paranavaí e Umuarama-Guaíra; o acompanhamento de todo o Caso Lô, o garoto assassinado por policiais civis; dos jogos do Grêmio e dos políticos.

Apesar de todo este material, Moracy não possui um arquivo pessoal. Depois que deixou a Folha, foi cuidar do departamento de fotografia do O Diário. De lá, enveredou para as produções de vídeo, sendo hoje um dos mais conceituados profissionais do ramo no Estado, dono da Jacques Vídeo.

A Folha traz boas lembranças a este paranaense de Cornélio Procópio, contudo, as principais não estão relacionadas com o trabalho de fotógrafo.

“Eu sinto muito saudade daquele pessoal com quem convivia. A gente tinha uma participação maior na sociedade. No ramo que estou hoje, estou totalmente separado da sociedade. Então, eu sinto saudade daquilo e a alegria de ter feito aquela coluna que recebia 50, 60 cartas por dia da região toda pedindo letras de músicas. Eu recebia muita carta, telefonema. Fui um grande freqüentador do Império, o bar em que a gente se reunia com o pessoal do rádio. Tinha uma união muito grande.”



O fotógrafo da Folha Moracy Jacques na coluna de Verdelírio Barbosa
(Reprodução)


Moracy Jacques: “Eu não morava aqui, morava no sítio. Então, terminava a edição eu nem ia para casa, dormia dentro do jornal”
(Foto: Nelson Jaca Pupin)

Livro: “O Jornal do Bispo” – Capítulo 33 – O SONHO MUTILADO

Quando o assunto é jornalismo, Elpídio Serra é sinônimo de desilusão. Funcionário da Folha do Norte por dez anos, de 1965 a 1975, começou como secretário de redação e chegou a redator-chefe.

Tinha apenas 12 anos quando entrou no jornalismo: como auxiliar de revisor no O Jornal de Maringá, onde ficou por quatro anos. Em 1962, foi para a Rádio Cultura escrever boletins. A transferência para a Folha ocorreu em 1965, um ano depois de Joaquim Dutra arrendá-la.

Pelo tempo em que lá trabalhou e por ter ocupado a chefia, Elpídio é um dos profissionais que mais compreendem o que se passou com a Folha do Norte. Mas, ele não faz uma análise individualizada do jornal. Prefere pôr todas as publicações no mesmo nível quando avalia a dependência ao poder vigente para poder sobreviver. Para Elpídio, nada mudou em mais de quatro décadas.

A desilusão, somada a uma boa dose de indignação, é decorrente, segundo ele, do provincianismo da imprensa maringaense que, na sua avaliação, continua como nos tempos de dom Jaime e Ivens Lagoano Pacheco.

Uma desilusão que o fez parar de escrever há quase 20 anos e a se tornar um crítico ácido. O desiludido e indignado, Elpídio não escolhe palavras para explicar porque resolveu aposentar a máquina de escrever.

“A desilusão é muito grande. Antes a gente vibrava muito, mas, depois, ou ia ser empregado do Frank Silva ou empregado do Fregadolli. Aí eu comecei a analisar. Eu pensei: acho que não dá, não. Aí, eu comecei a me perguntar se era um vendedor ou um jornalista. Aí começou a desilusão. Comecei a trabalhar com a Folha de Londrina, um período na sucursal de Maringá. Não gostei do ambiente. Fui correspondente da Folha de S. Paulo aqui na região, fui convidado a trabalhar em São Paulo. Fui para lá e comecei a me realizar novamente, mas minha família não se adaptou. Os jornais de Maringá também eu não queria e surgiu então a possibilidade da Cocamar. Eu gostava de fazer jornalismo, mas aquele jornalismo não tinha mais espaço para mim. Montei o Jornal da Cocamar e fiquei lá até 1991.”

Em 1991, Elpídio lecionava geografia na UEM e houve pressão para que os professores fizessem pós-graduação. Optou em continuar os estudos e foi fazer mestrado em São Paulo. Foi convidado a voltar à Cocamar, mas surgiu a oportunidade de doutorar-se e então continuou em São Paulo.

Numa sala simples do bloco G-34 da UEM, o professor, mestre e doutor Elpídio dá plantão diário atendendo acadêmicos do curso de geografia. Suas palavras parecem conter mais do que desilusão e indignação ao analisar o jornalismo maringaense.

Contêm mágoa. Inconscientemente, ele culpa este sistema, que ignora a qualidade e privilegia o faturamento, de ter mutilado seu sonho de estar até hoje exercendo uma paixão que começou na tenra idade.

Elpídio, que nasceu em Cambé (PR) em maio de 1946 e que em outubro do mesmo ano já estava em Maringá, volta a dispara:

"É aquele negócio: eu quero fazer jornalismo, mas, mais do que isto, eu quero um emprego. Tem gente boa por aí, mas de que adianta fazer jornalismo se depois ninguém publica?”

(Assim como todas as entrevistas concedidas para este livro, esta também foi realizada em 2001)
Elpídio Serra trabalhou por 10 anos na Folha do Norte
(Foto: Tabajara Marques)

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Livro: “O Jornal do Bispo” – Capítulo 32 – O CACHIMBO PELO EMPREGO

No final de 1963, Messias Mendes, então com 14 anos, era o office-boy da agência de notícias Transpress. Ele corria, literalmente, para as emissoras de rádio e redações dos dois jornais da cidade, levando matérias nacionais e estaduais.

O trabalho era cansativo. Depois de fazer a entrega de um lote de matérias lá vinha outro. E assim foi levando até 1965, quando a Transpress fechou em Maringá. O contato diário com o ambiente das redações fez com que Messias fosse pedir emprego na Folha, já sob nova direção, arrendada para Joaquim Dutra e Antonio Augusto de Assis, tendo Ivens Lagoano Pacheco como editor-chefe.

“O Ivens é uma espécie de referência da história do jornalismo de Maringá. Muito irreverente, naquela irreverência gaúcha, ele brincou comigo. Era para eu comprar um cachimbo para ele, e se ele gostasse do cachimbo eu estaria empregado.”

E lá foi Messias tentar cumprir a missão para obter o emprego. Passou na Livraria Iracema, do cearense Ermenegildo Gomes de Castro e, sendo baiano da Pintadas, invocou a solidariedade nordestina.

Na livraria, que também era um bazar e abrigava quinquilharias de toda a espécie, Ermenegildo escolheu o mais bonito cachimbo. Messias levou para Ivens, que botou o fumo e acendeu. Em seguida, mandou contratá-lo e já sapecou-lhe um apelido que felizmente não saiu da redação: Perereca. O motivo até hoje é inexplicável.

O garoto Messias passou a trabalhar com um grupo de primeira. Além de Ivens e Assis, compunham a redação os irmãos Serra, Ismael, Elpídio, depois Wilson; o respeitado repórter policial Antonio Calegari, que se tornou editor-chefe do Jornal do Comércio, no Rio de Janeiro; Quester Carrara, atualmente um especialista na área educacional; Borba Filho, editor de esportes, que depois se tornou técnico de futebol; Valdir Pinheiro, que de tipógrafo passou a colunista esportivo, entre outros.

Esta proximidade com a redação e o gosto pela escrita, no entanto, não foram suficientes para que Messias começasse de cara a escrever na Folha. Teve que trabalhar na expedição, fazer pacotes de jornal, subordinado de Elpídio Serra e depois companheiro de Serrinha, o Wilson, hoje editor-chefe da Rede Paranaense de Televisão.

“Eu estava sempre escrevendo, mostrando meus textos, alguns achavam que eu tinha jeito.”

Messias criou coragem e pediu uma chance para escrever sobre amadorismo. Wilson Serra, que deixou o jornal para trabalhar na TV Tibagi, era o responsável pela coluna Amadorismo e o indicou para substituí-lo.

Do esporte amador para o profissional, do profissional para o policial. Em jornal do interior na década de 1960, fazia-se de tudo, passava-se pelas editorias constantemente. Até hoje é assim em muitas cidades.

O Grêmio Esportivo de Maringá era uma das maiores forças do Estado: bicampeão paranaense, tri do norte. A Folha destinava amplo espaço ao futebol, dedicando até três páginas ao Galo do Norte e aos clubes paulistas.

Apesar de dom Jaime ter arrendado a Folha, ele mantinha um representante na redação. No final da década de 60 era o seu sobrinho João Amélio. E foi João Amélio o responsável pela saída de Messias do jornal.

“Ele continuava achando que eu tinha de trabalhar como office-boy. E aí ele mandou eu entregar leite. Eu tinha de entregar leite nas casas dos funcionários. Mas, eu já era conhecido e tinha que sair pedalando bicicleta... Eu disse: - não vou. Então, ele disse: - tá na rua. Então, tudo bem. Ele me demitiu.”

Da Folha para o O Jornal, onde ele ficou quatro anos. Depois para a Rádio Atalaia fazendo sonoplastia para os apresentadores de programas Santana, Tatá Cabral e Frambel Carvalho.

O passo seguinte foi a Folha de Londrina, vindo depois as assessorias, o SBT e a direção da seccional maringaense do Sindicato dos Jornalistas de Londrina. Depois de 46 anos, ainda na labuta, o baiano de Pintadas enfatiza o romantismo que predominava na época. Destaca a gana na busca da informação, a verdade a imperar, a ética a prevalecer. As românticas redações ficaram perdidas no tempo.

"Hoje, a preocupação é com o aperfeiçoamento técnico. O jornalismo está igual ao futebol: aumento da competitividade e diminuição da arte."


Grupo de funcionários da Folha do Norte, em 1966: Messias Mendes é o garoto agachado, à frente
(Foto - arquivo Gumercindo Carniel)
Messias Mendes: primeiro chefe foi Ivens Lagoano Pacheco
(Foto: Nelson Jaca Pupin)

Livro: “O Jornal do Bispo” – Capítulo 31 – O CATADOR DE MILHO

Um dos repórteres mais queridos e lembrados da Folha do Norte é Valdir Pinheiro, que morreu em dezembro de 2000, em decorrência de problemas respiratórios, aos 52 anos.

Valdir passou a ser uma referência quando se fala de paixão pelo jornalismo. Ele conquistou seu espaço às custas de muita força de vontade. Quando a Folha iniciou as atividades, era um dos garotos entregadores de jornal.

Depois, passou a mancheteiro. Não o mancheteiro de hoje, que fica digitando títulos até encontrar o que se encaixe nas colunas. Era auxiliar de linotipista. O trabalho de Valdir era colocar os tipos, ou seja, as letras, para compor na caixa que posteriormente ia para a impressão.

Como este trabalho artesanal era feito depois que a redação estava fechada, o editor de esportes, Borba Filho, pedia a Valdir que gravasse os jogos de futebol da noite, principalmente os do Campeonato Paulista.

Borba deixava lacunas na página para que fossem colocados os resultados e outros detalhes das partidas. Valdir gravava tudo e depois sentava em frente a uma Remington e, “catando milho”, datilografava as fichas técnicas.

Depois que Borba Filho saiu da Folha, em meados da década de 1960, o corintiano Valdir assumiu a editoria de esportes e ensinou muitos profissionais. Wilson Serra, por exemplo, o trata de professor. Antonio Augusto de Assis o define como uma das pessoas mais queridas da redação da Folha do Norte.

Durante toda a sua vida, Valdir Pinheiro foi ligado à imprensa. Depois da Folha, trabalhou no O Jornal de Maringá, O Diário, rádios Cultura, Difusora e Atalaia e Jornal do Povo.

De todos os jornalistas esportivos de Maringá, Valdir era um dos maiores conhecedores da história do Galo do Norte, como é conhecido o Grêmio Maringá. Ele esteve reportando praticamente todas as conquistas do Grêmio Esportivo, Grêmio de Esportes e outros grêmios que vieram a seguir.

Em 30 de setembro de 1990, sofreu um grave acidente de carro quando retornava de Anápolis (GO) com a equipe da Rádio Atalaia. Ele estava em companhia do narrador Denival Pinto e do comentarista e empresário Edson Campos.

Valdir era o repórter da equipe que havia ido a Anápolis fazer a cobertura do jogo entre Anapolina e Grêmio válido pelo Campeonato Brasileiro. No acidente, quebrou a perna esquerda. Submeteu-se a várias cirurgias, mas nunca mais andou normalmente. Denival quebrou algumas costelas e Edson teve escoriações.

Até pouco antes de morrer, em dezembro de 2000, o paulista de Álvares Machado, que chegou ainda menino a Maringá, escrevia a sua coluna De olho em tudo no O Jornal do Povo. Ainda “catando milho” com os dois dedos indicadores.

Em 2002, a administração do Partido dos Trabalhadores, que tinha como prefeito José Cláudio Pereira Neto, inaugurou o ginásio de esportes da Vila Olímpica, dando-lhe o nome de Valdir Pinheiro.

A sugestão partiu do professor e historiador Reginaldo Benedito Dias, que era o chefe de gabinete; sugestão acatada pelo prefeito e pelo então secretário municipal de Esportes Mário Verri.

Verri, que é vereador em sua segunda legislatura, diz que a escolha do nome de Valdir Pinheiro para o ginásio é uma justa homenagem da cidade a um profissional que teve sua vida intimamente ligada ao esporte de Maringá:

“Valdir Pinheiro foi um pioneiro da imprensa maringaense, amigo de todos. Além do futebol profissional da cidade, em que era um dos maiores conhecedores e um apaixonado torcedor, divulgou o esporte amador de Maringá tanto na sua coluna em todos os jornais em que trabalhou como nas emissoras de rádio.”
Valdir entrevistando o Rei Pelé em Maringá virou foto de capa, em junho de 1974
(Reprodução)

No acidente de 1990, Valdir teve séria lesão na perna. O pioneiro do jornalismo esportivo de Maringá morreu em dezembro de 2000
(Foto - arquivo Jornal do Povo)

Livro: “O Jornal do Bispo” – Capítulo 30 – O SEMINARISTA REVISOR

O mineiro de Alfenas, José Aparecido Borges, chegou de trem em Maringá logo no início da década de 1960. Havia saído do seminário depois de concluir o curso científico, o ensino médio de hoje. Arranjou emprego rapidamente na cidade, na secretaria do Curso Pernambucano, onde havia aulas de datilografia e ensino primário, o 1º grau.

Nilton Pereira era repórter da Folha e um dos professores do Curso Pernambucano, em 1962. O jornal havia sido inaugurado em setembro daquele ano e eram muitas as dificuldades para se encontrar pessoas qualificadas para trabalhar na redação.

Nilton convidou Borges para trabalhar como revisor da Folha. E ele foi. Mesmo acostumado com a hierarquia eclesiástica, ele se surpreendia com a reverência dos funcionários da Folha quando dom Jaime aparecia. Ele compara a um evento quase solene. Fora isso, não havia surpresas.
Borges era a pessoa talhada para o posto. Calmo, estudioso e atento, ele evitou que muitos “ratões”, termo que se usa nas redações quando ocorrem erros crassos, fossem publicados.

“Os erros maiores eram de datilografia, troca de letras e também linhas trocadas. Na medida que a linotipo fazia a notícia, muitas vezes trocava a linha. Eu penso que os erros ortográficos daquela época eram relativamente iguais aos de hoje. Talvez naquela época havia um rigor neste sentido. Na Folha, era muito rigoroso, mas mesmo assim, esporadicamente, saíam alguns erros.”

Naquela época, a figura do revisor era indispensável na redação. Mesmo o computador, em que a correção é feita imediatamente, não impede que erros injustificáveis ocorram até em títulos e não apenas em jornais do interior.

A história de Borges é exemplar para mostrar que não são todas as pessoas que ganham a oportunidade para trabalhar numa redação de jornal e que possuem qualificação suficiente para ser um bom redator continuam na profissão.

Borges tinha a técnica, um ótimo conhecimento da língua portuguesa, mas não tinha vocação para ser jornalista. A sua timidez fazia com que se isolasse no seu canto e pouco contato tinha com os repórteres, já que seu serviço começava quando terminava o da redação.

Não foi apenas revisor na Folha. Sua cultura, que hoje inclui amplo conhecimento do latim e grego, línguas que estudou por cerca de sete anos, fazia com que redigisse notinhas para colunas e palavras cruzadas, estas geralmente publicadas aos domingos.

Como não havia faculdade em Maringá naquele início de década, o estudioso Borges decidiu matricular-se no Colégio Marista para repetir o 2º grau, desta vez como técnico em contabilidade. Esta decisão foi uma das causas de sua saída.

“A minha saída da Folha foi em decorrência de trabalhar até altas horas da noite e durante o dia não conseguia dormir, dormia muito pouco. Antes de começar o trabalho, fazia o curso de contabilidade. E depois, terminando o curso, todos iam para casa e eu ia para o trabalho. Trabalhar à noite me esgotou muito.”

O estilo boêmio do pessoal da redação não combinava com Borges. Um ano depois de ter sido admitido, em dezembro de 1963, pediu as contas. Além da falta de adaptação, o metódico Borges tinha uma razão mais forte para sair da Folha. Havia conseguido emprego na Câmara Municipal de Maringá.

O contato com projetos de lei, requerimentos, ofícios, indicações, regimento e Lei Orgânica do Município era o trabalho perfeito para um homem organizado como ele. Tão perfeito que se aposentou como funcionário público, chegando o ocupar o cargo mais importante entre os funcionários do Legislativo: diretor-geral.

É importante esclarecer, no entanto, que Borges tem orgulho de ter pertencido ao grupo de pioneiros da Folha. Seguiu um caminho oposto do jornalismo, mas guarda boas recordações daqueles tempos, das pessoas, dos ambientes.

Ele conta uma história que hoje soa como absurda, mas quem viveu naquela época em Maringá sabe que é perfeitamente plausível. Borges lembra que certa vez, logo que começou a trabalhar na Câmara, esqueceu sua bicicleta destrancada em frente à loja Prosdócimo, na esquina das ruas Santos Dumont e Basílio Sautchuck, no centro da cidade.

Na saída do trabalho, imaginou que a tivesse deixado em casa. Foi para lá e não a encontrou. Somente no dia seguinte, passou a relembrar o itinerário que havia feito e foi à Prosdócimo. A “magrela” estava lá, no mesmo lugar em que havia deixado.

Borges conta esta história para ilustrar a Cidade Canção no início da década de 1960. Hoje, se assusta com todo este progresso, toda esta decantada modernidade, que colocou em crise o respeito humano, que excluiu o latim do currículo escolar e que nos tornou prisioneiros dos nossos medos. O tímido, metódico e culto Borges, aos 65 anos, casado, três filhos, mantém a fineza de sempre.

Borges: longe do jornalismo, mas com boas recordações da época da Folha do Norte
(Foto: Tabajara Marques)

Livro: “O Jornal do Bispo” – Capítulo 29 – GANHANDO PARA TER PRAZER

Em cartaz no Cine Maringá O Cavaleiro das 100 caras. Estrelando Lex Baker, que tinha deixado de ser Tarzã e tentava continuar com o sucesso fazendo outros filmes de aventura. Baker contracenava com Liana Orfei.

Em 1962, o leitor da Folha do Norte do Paraná podia obter informações sobre cinema na coluna de Otacílio Cabral, um jovem de 18 anos, que com o tempo passou a ser conhecido como Tatá.

Vindo de Santos sete anos antes, Tatá começou no rádio maringaense pouco antes de entrar na Folha. Sua experiência com impresso se resumia a uma coluna do mesmo estilo na Tribuna de Maringá. A música, outra paixão de Tatá além do cinema, também ganhava espaço na coluna.

Conseguir informações sobre os lançamentos musicais não era difícil. Tatá tinha programa de rádio e era discotecário. O problema era com o cinema.

Na década de 1960 os filmes chegavam ao Brasil com grande atraso. O maringaense tinha acesso só depois de terem sido rodados nas principais cidades brasileiras. A Internet estava tão distante que não passava nem pela cabeça dos roteiristas mais visionários. A fonte de consulta era a revista Cinelândia.

De lá, Tatá tirava a maior parte das informações. Ele tenta esconder qualquer traço de sentimentalismo ao recordar seu início no jornalismo, evita frases que revelem o objetivo de valorizar em demasia aquele período e sabe se colocar no contexto histórico do jornalismo maringaense. Mas fala com satisfação da popularidade.

“Eu era conhecido também pelo rádio. Era gratificante porque as pessoas me procuravam para saber na rua: - Escuta, aquele filme que vai passar domingo, realmente é bom? Era gostoso e gratificante e a gente ganhava muito bem por isso.”

Ele não consegue se lembrar do salário. Na Tribuna, fazia a coluna por puro prazer. Já na Folha do Norte, ganhava para ter prazer. No forte esquema empresarial montado pela Folha, Tatá faturava o mesmo que no rádio. O dinheiro decorrente do trabalho de duas tiras diárias era o equivalente às funções de locutor, repórter e discotecário.

Para uma cidade que contava com dois jornais, a Tribuna, que passou de publicação diária à semanal e logo desapareceu, e O Jornal de Maringá, restritos à vida doméstica, sem grandes aspirações, a chegada da Folha do Norte foi comemorada.

O sonho de torná-la a melhor do interior do Brasil contagiou os profissionais da imprensa, deu um novo alento àqueles românticos das letras. A racionalidade da profissão, que trazia o sustento, o prazer de ver impresso o pensamento e o reconhecimento, ainda que restrito para poucos além das divisas do Município, compunham o perfil destes pioneiros da era efetivamente empresarial do jornalismo maringaense.

Aos 64 anos, Tatá Cabral, o editor do O Jornal do Povo desde 1991, amante do rádio, onde apresentou programas diversos sobre esporte, música, cinema, variedades e política na Cultura, Atalaia e Difusora, procura um ponto imaginário na parede para se localizar naquele tempo.

O santista Tatá, da cidade e do clube, com passagem pelo SBT como apresentador de programa de esportes, na década de 1990, sorri para conter a emoção e volta aos 18 anos. Ainda na busca do ponto imaginário, como se o filme de 1962 da Folha do Norte começasse a ser exibido neste momento, ele diz:

“O que mais me marcou foi ver minha coluna impressa. Quando vi minha primeira coluna estampada, aquilo me deu uma grande alegria.”

Tatá Cabral: chefe de redação do Jornal do Povo. Coluna sobre cinema na Folha do Norte
(Foto: Nelson Jaca Pupin)

Livro: “O Jornal do Bispo” - Capítulo 28 – EM CIMA DO LANCE

O que o rádio tocava virava sucesso. Em 1962, eram três as emissoras em Maringá: Cultura, Atalaia e Difusora. E uma grande rivalidade. O jornal era feito para um determinado grupo de pessoas. Já o rádio, com seu fantástico alcance, chegando a todos os rincões, dominava a preferência.

No lançamento da Folha do Norte, Osvaldo Lima estreou a coluna com um nome um tanto quanto esquisito: "Antenando e Discomentando". Nela, Osvaldo trazia os maiores sucessos do eixo Rio-São Paulo. As informações ele tirava, principalmente, das rádios Tupi e Bandeirantes, emissoras que ele ouvia diariamente.

Na primeira edição da Folha, “Suave é a Noite”, de Moacir Franco, liderava a parada de Osvaldo Lima. Sim, porque a organização da parada era do próprio colunista, que fazia a média entre as mais executadas nas emissoras e montava a sua. Moacir Franco, Agnaldo Rayol, Angela Maria, Cauby Peixoto, Altemar Dutra e Frank Sinatra desfilavam constantemente no "Antenando e Discomentando".

Osvaldo gostava de música, mas sua praia era outra. Melhor: seu campo era outro. Era o esporte. Foi no futebol que ele teve as maiores alegrias na profissão. Nascido em 1941, em Monte Santo, Minas Gerais, chegou com a família no Paraná, em 1945. Primeiro em Mandaguari. Veio para Maringá nove anos depois e nunca mais saiu.

Começou a trabalhar, ainda garoto, na Transparaná, localizada nas esquinas da avenida Brasil com São Paulo, onde hoje está a Lojas Americanas. Assim como Verdelírio Barbosa, iniciou a carreira jornalística no O Diário, não o atual, o do Norte do Paraná. Foi no jornal do Zitão, o João Antonio Corrêa Júnior, no final da década de 50, fazendo bico nas folgas da Transparaná.

Escrevia uma coluna em que misturava música e esporte. Além de Verdelírio, seu outro companheiro no jornal do Zitão era Pedro Granado Martinez, hoje empresário do ramo imobiliário, que fazia a coluna social.

Bastante ligado à Diocese, Osvaldo conheceu o padre André, que estava montando com dom Jaime a Folha do Norte e o convidou para escrever uma coluna no novo jornal. Lá ficou até 1965.
Depois de dois anos longe da imprensa, Osvaldo foi bancário e comerciário, mas não se adaptou. Recebeu convite para trabalhar na Tribuna de Maringá, jornal semanal de Manoel Tavares.

Na Tribuna, que ficava na rua Santos Dumont, em frente ao prédio da antiga HM, a Hermes Macedo, entre a rua Basílio Sautchuck e avenida Paraná, a equipe de Manoel Tavares se resumia a Osvaldo e a Lenin Schimidt. Lenin faleceu no dia 12 de dezembro de 2008, aos 75 anos, tendo trabalhado no O Diário do Norte do Paraná e no Jornal do Povo. Em 1999, quando saiu do jornal de Verdelírio, era o responsável pela coluna policial.

Voltando a Osvaldo Lima, seu período foi curto no jornal de Tavares. Em 1968, se transferiu para o O Jornal, então comandado por Ardinal Ribas. O jornal mudou de dono várias vezes, até de nome, mas Osvaldo sempre continuou nele e sempre com Verdelírio Barbosa, que chegaram, numa determinada época, a ser sócios do matutino.

Suas maiores alegrias foram as conquistas do Grêmio Esportivo Maringá, principalmente o título de 1968, na disputa do Robertinho, a segunda divisão nacional do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, competição das mais importantes do futebol brasileiro. O Grêmio venceu o Sport Recife por 3 a 0, em Pernambuco, e Osvaldo estava lá.

Acompanhar o time em outro estado, ainda mais em outra região do País, há 40, 50 anos, era o que se pode chamar de uma grande façanha. Apesar das dificuldades, os jornais A Folha do Norte e O Jornal sempre mandavam seus repórteres para acompanhar os jogos do Grêmio.

A equipe da Folha era uma das mais respeitadas do Paraná e os torcedores de Maringá e da região ficavam ávidos para ler as notícias. Espaços enormes eram destinados ao Galo do Norte.
Osvaldo assistiu a vários jogos fora da cidade trabalhando na Folha.

“Eu lembro que a gente acompanhou o Grêmio, que foi campeão no Campeonato Estadual em 1963. Inclusive lá em Paranaguá, no jogo contra o Seleto. Em 64, o Grêmio participou da Taça Brasil, representando o Paraná, e nós fizemos a cobertura. O primeiro lá em Florianópolis, contra o Criciúma, e o segundo em Curitiba, contra o Metropol, porque naquela época os times, se o campeão estadual era do interior, tinha que mandar o jogo na capital. Então, mesmo naquela época difícil, a gente acompanhava o Grêmio.”

Osvaldo Lima morreu sem se render ao computador. Na sua sala no Jornal do Povo, escrevia, sempre de manhã, a coluna "Em Cima do Lance", sobre esporte amador e profissional, na Olivetti Linea 88.

Até os 62 anos, idade que tinha quando sofreu enfarto fulminante em 19 de dezembro de 2002, gostava de relembrar da época de ouro do Galo do Norte, mas não apenas para ficar se lamentando. Pelo contrário. Sempre acreditou que um dia o Grêmio voltaria a ser forte. Todo movimento na cidade que visasse reerguer o futebol profissional, ele dava o seu apoio.

O mineirinho Osvaldo Lima, que também tinha espaço no coração para abrigar o Vasco da Gama, deu lição ao acreditar, até o fim da vida, na volta dos anos dourados do futebol maringaense. Ele sempre soube que os tempos eram outros, mas jamais desistiu de acreditar. Osvaldo viveu o futebol e neste mundo criou sua história e cultivou amigos.


Acompanhando o Grêmio no Campeonato Brasileiro (Robertinho), em 1969: Antonio Paulo Pucca, que morreu em 2007, e Osvaldo Lima no Aeroporto de Salvador
(Foto: arquivo pessoal família de Osvaldo Lima)


Edição de 1963: País em turbulência e Grêmio Campeão Paranaense
(Reprodução)

Osvaldo Lima faleceu em 2002: início na Folha do Norte com coluna sobre música; depois, o futebol
(Foto: Nelson Jaca Pupin)

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Livro: "O Jornal do Bispo" – Capítulo 27 – A CULPA FOI DO MILTÃO

Verdelírio Barbosa começou a escrever em 1959 num jornal chamado O Diário de Maringá, de propriedade de João Antonio Corrêa Júnior, o Zitão, jornalista e escritor já falecido. O jornal, homônimo daquele que viria a ser lançado em 1974, era diário só no nome. Em dificuldades financeiras, circulava uma vez por semana, às vezes nem isso.

A entrada no jornalismo aconteceu depois que Verdelírio enviou ao jornal de Zitão um artigo condenando a violência no futebol. O artigo não continha informações a respeito do futebol mundial ou pelo menos do brasileiro. Nada de análise sociológica. A questão era outra, bem doméstica.

Revoltado com a atuação criminosa de um zagueiro contra o Corintinhas, equipe amadora maringaense do qual ele era diretor, Verdelírio colocou seu desabafo no papel.

"O jogo era o Corintinhas contra o Melhoramentos. Tinha um zagueiro do Melhoramentos, meu amigo, o Miltão, que dava da medalhinha pra cima. Eu achei aquilo uma barbaridade."

Zitão gostou do artigo e o chamou para escrever no O Diário. Dada a inconstância do matutino, matutino entre aspas, frise-se, Verdelírio aportou no começo dos anos 60, no O Jornal de Maringá, que tinha Rubens Ávila como redator-chefe, já falecido, que viria a ser o primeiro chefe de redação do atual O Diário do Norte do Paraná, em 1974.

Em 1966, Verdelírio foi trabalhar na Folha da Norte como colunista esportivo, tendo como patrão Joaquim Dutra e redator-chefe A. A. de Assis. Ficou cerca de um ano. Retornou ao O Jornal de Maringá, onde praticamente construiu sua carreira jornalística escrevendo sobre política.

O envolvimento de muitos anos com o concorrente da Folha do Norte, o torna um dos mais habilitados a analisar aquele período em que O Jornal era considerado o primo pobre diante da modernidade e influência do jornal do bispo. Ao contrário da maioria, que imagina ter sido Ivens Lagoano Pacheco o primeiro dono do O Jornal, Verdelírio afirma que foi Samuel Silveira, um dos sócios da Rádio Cultura.

Segundo o jornalista, Ivens vendeu o jornal para um grupo político formado por Rodolfo Purpur, que foi reitor da UEM, João Paulino Vieira Filho, Evelino Pouper, entre outros. Os políticos continuaram mandando no jornal. Vieram em seguida Ardinal Ribas, já falecido, que chegou a ser deputado, e Helenton Borba Cortes, médico e vereador maringaense dos mais conceituados. Cortes, também falecido, era uma figura bastante respeitada em Maringá. Até João Paulino, que era amigo de Cortes e virou adversário no início da década de 60, só tem palavras elogiosas para ele.

Tendo apenas o hiato de 1966, quando foi para a Folha, Verdelírio viveu todos os momentos do O Jornal, fazendo de tudo um pouco, cumprindo inclusive a função de revisor junto com José Maria Bernardelli, ex-vereador na cidade e um dos mais prestigiados árbitros de futsal.

Ardinal Ribas deixou o comando para o filho Marcos Iran Ribas. Em 1972, a situação no O Jornal tornou-se crítica. O nome era forte, mas a estrutura frágil. Proprietários dos jornais Diário do Noroeste, de Paranavaí, e Umuarama Ilustrado, de Umuarama, se interessaram. Tinham intenção de constituir uma sociedade e arrendar o O Jornal.

Foi quando três funcionários do jornal resolveram propor o arrendamento: Verdelírio, Osvaldo Lima, que saíra da Folha, onde escrevia sobre música e ingressara no O Jornal para fazer esporte, e Luiz Nora Ribeiro, atualmente dono de gráfica em Maringá. Verdelírio lembra que o trio tinha muita coragem, mas dinheiro que era bom...

"Falamos com o Marcos Ribas: Já que você vai arrendar para eles por que você não arrenda para nós? Mas precisa tanto... E não tínhamos nada, era duro como estamos duros até hoje. Mas aí o Sílvio Barros era o prefeito..."

Sílvio havia sido eleito em 1972 e Verdelírio era bastante ligado a ele, tão ligado que havia se tornado seu assessor de imprensa. Marcos Ribas queria 5 mil cruzeiros pelo arrendamento. Pela amizade e pelo lucro promocional que o jornal poderia lhe dar, Sílvio deu o dinheiro da entrada, e Verdelírio, Osvaldo Lima e Luiz Nora assumiram. A primeira providência foi mudar a sede do jornal, que saiu da Santos Dumont e foi para o subidão do Maringá Velho, entre as praças José Bonifácio e Peladão.

O primeiro a deixar a sociedade foi Luiz Nora. Em seguida, Osvaldo Lima vendeu sua parte para Verdelírio. O jornal voltou a mudar de mãos quando Wilson Caetano fechou negócio com Verdelírio. Caetano, já falecido, era dono da Folha de Maringá em sociedade com Jorge Fregadolli.

Ele ficou pouco tempo com os dois jornais, desativou a Folha de Maringá e passou a comandar o O Jornal. E já na década de 80, Wilson Caetano chamou Verdelírio, o colunista esportivo Valdir Pinheiro, já falecido, e o publicitário Marco Antônio Beschizza para compor uma sociedade.

Beschizza não topou. Os outros dois, sim. O empresário da construção civil Ramirez Pozza entrou na sociedade em 1987 no lugar de Wilson Caetano. A nova sede já era na Bento Munhoz da Rocha. Valdir já havia saído. Com a entrada de Pozza, Verdelírio também saiu. Nas eleições municipais de 1988, o jornal apostou tudo no candidato a prefeito Ademar Schiavone, uma campanha declarada. Ricardo Barros venceu.

Em 1990, Ramirez fechou as portas, que só vieram a ser reabertas quase um ano depois por Verdelírio. No dia 31 de março de 1991, surge O Jornal do Povo, que continua até hoje no mesmo endereço da Bento Munhoz e comandado pelo diretor do Corintinhas, de 74 anos, que escolheu o caminho das letras para desancar o violento zagueiro Miltão e dele até hoje não saiu.


Ivens Lagoano Pacheco (de óculos) cumprimenta Osvaldo Lima; Verdelírio Barbosa entre os dois: confraternização no O Jornal de Maringá
(Foto - arquivo pessoal família de Osvaldo Lima)

Verdelírio Barbosa: passagem pela Folha com coluna política e dono do Jornal do Povo
(Foto: Nelson Jaca Pupin)

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Livro: “O Jornal do Bispo” – Capítulo 26 - O ROMÂNTICO ASSIS

No seu apartamento na rua Arthur Thomas, no centro de Maringá, o professor universitário aposentado de língua portuguesa, jornalista e poeta Antonio Augusto de Assis desfila histórias importantes e curiosas sobre a Folha do Norte do Paraná, jogando luz sobre fatos que o tempo foi tornando obscuro. A história de Assis se confunde e se funde com a própria história do jornalismo maringaense.

Calmo e sereno, o carioca A. A. de Assis, como é chamado, nasceu em 7 de abril de 1933, em São Fidélis-RJ, chegou em Maringá em 1955. Antes, morou em Bauru (SP), onde trabalhou numa agência Chevrolet. Veio para ser empregado no comércio de peças para automóveis. Ficou menos de um ano neste emprego porque o seu gosto, revelado desde a idade de 16 anos no Rio, quando trabalhava num jornalzinho, era escrever.

Começou no A Hora, cujo diretor era Anibal Goulart, depois no O Jornal de Maringá e na Tribuna de Maringá. Assis lembra que a Tribuna, de André Tavares, era um jornal guerreiro, tinha na redação Ary de Lima, já falecido, que foi vereador e deputado, e ficou marcado para sempre na história da cidade por ser autor do Hino a Maringá.

Na Tribuna e no A Hora, jornais de curta duração, que iniciaram as atividades na metade da década de 50 e em menos de dois anos fecharam as portas, os profissionais faziam de tudo. Uma clínica geral, como Assis compara o trabalho que realizavam.

Ele trabalhou ainda na revista NP, a primeira grande revista da região, de Aristeu Brandspein, e esteve algum tempo na Rádio Cultura. A opção em trabalhar em jornal nada tinha de financeira.

“Ficar rico ninguém ficava, nem os donos. Depois é que os donos começaram a ganhar dinheiro aqui. Era o jornalismo romântico. Fazia-se jornal por idealismo, prazer, o cheiro de tinta. A gente era bobo. Era muito mais romântico do que profissional. A gente se empolgava.”
As andanças pelos jornais e rádio duraram até 1965, quando foi convidado para ser o diretor de redação da Folha do Norte, onde permaneceu até 1977. Mesmo não possuindo tino comercial, chegou a ser um dos arrendatários da Folha junto com Jorge Fregadolli, quando Joaquim Dutra inaugurou O Diário.

Assis era o homem de confiança, inclusive de dom Jaime, que mesmo tendo arrendado o jornal, acompanhava a par e passo todas as edições. O calmo e sereno Assis era a certeza de que o radicalismo não se instalaria na redação. Também era a certeza de competência e credibilidade.

O romântico Assis, que registrou este traço marcante de sua personalidade nas dezenas de livros que escreveu sobre poesia, foi o homem certo para aparar arestas, desarmar espíritos e conduzir um jornal que a provinciana Maringá exigia.

Sob um olhar distante, ouvindo os protagonistas, tem-se a convicção, ou pelo menos a impressão que Maringá vivia sem grandes abalos nos anos 1960. O tempo se encarrega de abrandar os fatos. Seus personagens, ao lembrar com saudades uma época, tendem a diminuir as mágoas ou até mesmo esquecê-las a ponto de elogiar o antigo oponente.

Mas a cidade tinha sua dose de fervor político. Dentro das condições que eram impostas à redação, a Folha buscou a fidelidade para informar. As questões políticas relacionadas à administração municipal, Câmara de Vereadores e à discussão partidária eram abordadas costumeiramente, mas nada que descambasse para golpes rasteiros, como denúncias vazias com o objetivo de achaque.

João Paulino sempre foi a bola da vez. Prefeito nas décadas de 60 e 70, era alvo de críticas. Assis conta que nada de pessoal havia nas críticas e nenhum interesse escuso. O grupo de João Paulino detinha o poder, portanto, era vidraça.

“Os políticos da cidade se sentiam incomodados e usavam a ditadura nacional para também pressionar a imprensa local. Era o João Paulino, o Haroldo Leon Peres, o Nei de Carvalho, o Túlio Vargas. A Folha brigou com o João Paulino desde o começo. O dom Jaime tinha uma polêmica muito grande com o João Paulino. Mesmo quando a Folha mudou de direção, o João Paulino olhava a Folha como uma espécie de inimigo. Até ele me chamava de “meu cordial inimigo”. Eu sempre gostei muito dele e parece que ele gostava de mim, mas, na hora da política, a gente cruzava as espadas. Até pouco antes de morrer, ele me encontrava na rua e lembrava daqueles bons tempos.”

Assis mudou o rumo de sua vida em 1979, quando foi dar aulas de português na UEM, onde ficou até se aposentar. Depois que saiu da Folha, em 1977, ficou dois anos fazendo uma coluna no O Diário chamada Gente muito gente, que a cada dia focalizava uma pessoa da cidade.

Da janela de seu apartamento, a visão da cidade não é das melhores. Edifícios interpuseram-se à frente, dificultando a paisagem. Os dias de hoje, evidentemente, são bem mais tranqüilos. Nada de apagar incêndios, acomodar situações. Hoje já não é preciso diminuir o ímpeto de intrépidos repórteres como Elpídio Serra, Wilson Serra, Messias Mendes, José Antonio Moscardi e Antonio Calegari, dos quais ele se lembra pela amizade, competência e criatividade com que redigiam seus textos. Não é preciso mais dar força para o novo repórter, mostrar o caminho das pedras. Assis fechou o ciclo no jornalismo diário.

Deixou, contudo, uma porta aberta para dar vazão à sua paixão pelas letras: faz poesias. Usa rimas para falar da vida, do amor. É pela poesia que Assis é conhecido em todo Brasil, sempre colecionando prêmios nos concursos literários que participa. Além de poeta, Assis escreve contos e crônicas de rara sensibilidade.

“Hoje já tem escola de jornalismo. Não havia. Eu nunca fiz escola de jornalismo. Fiz curso de letras, mas com 16 anos eu já trabalhava em jornal. Comecei como revisor e acabei entrando na coisa porque gostava. No curso superior de jornalismo se aprende tudo tecnicamente. Peca um pouco hoje neste aspecto de romantismo. Eu gostava do jornalismo romântico. A gente tinha até certos ídolos da imprensa nacional como o David Nasser, Carlos Lacerda, Nelson Rodrigues, Carlos Heitor Cony. Era um romantismo puro.”

Assis aprendeu a escrever, escrevendo. Aliou o talento natural à leitura e foi colocando no papel o que a mente pedia. As redações de jornais foram a escola de Assis.


João Paulino e dom Jaime juntos no palanque: só mesmo no apoio aos militares
(Reprodução foto -arquivo Diocese de Maringá)
O diretor de redação Antonio Augusto de Assis: 12 anos de Folha do Norte
(Foto: Nelson Jaca Pupin)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Livro: "O Jornal do Bispo" – Capítulo 25 – O SALTO DE FRANK

Acompanhar Joaquim Dutra era um caminho natural para Frank Silva. Já se conheciam desde a época que o colunista social falava no microfone da Cultura na década de 50. Outro fator, talvez o mais importante para seguir Dutra, era que ambos falavam a mesma língua. Ambos gostavam do jornalismo e viam nisso a possibilidade de ganhar dinheiro.

Eram empreendedores. Frank tinha um bom rendimento na Folha, mas sabia que, por mais que se esforçasse, continuaria sob a tutela do bispo. Quando muito, poderia chegar a arrendatário. Quando foi chamado, não pensou duas vezes. Deixou a coluna social da Folha para Joel Cardoso, que iniciava no ramo, e foi fazer a sua no novo jornal. Suas explicações para a saída da Folha revelam a amizade por Dutra e a vontade de crescer.

"Eu tenho um profundo respeito e admiração por dom Jaime. Foi, inegavelmente, a Folha que me deu aquela projeção. Mas, com o advento do O Diário, um jornal que tinha a garantia de ser super moderno e eu na vontade de procurar crescer, e convidado que fui pelo senhor Joaquim, que foi meu patrão na Rádio Cultura, onde tive o primeiro emprego em Maringá e a quem eu devia e devo lealdade, logicamente passei para O Diário."

O grupo de Dutra ficou apenas dois anos à frente do O Diário. A sobrecarga de tantas empresas, entre elas a TV Cultura, inaugurada em 1975, fez com que o jornal quase fosse parar nas mãos do grupo que dirigia O Paraná, de Cascavel. Determinado a se desfazer do O Diário, o quarteto da Cultura, tendo Dutra como porta-voz, vendeu a metade das ações para o empresário Altamir Vinheski e 25% para Enésio Gomes Tristão, já falecido.

Neste período, Dutra já não dava as cartas no O Diário, mas possuía ainda 25% das ações. Quase no final de 1975, tendo assumido o departamento comercial da TV Cultura, ofereceu as ações para Frank, que em meia hora fechou o negócio, mesmo sem ter o dinheiro suficiente. O restante foi parcelado. Neste ínterim, Vinheski vendeu as ações para o empresário Ramirez Pozza, que em 1987 viria a adquirir O Jornal de Maringá. Já em 1976, Tristão vendia seus 25% para Frank e Edson Coelho Castilho.

Com entradas e saídas repentinas de outros sócios, que participavam da sociedade por intermédio de Frank, que buscava recursos para obter os 50%, finalmente aconteceu o percentual equivalente. Ele adquiriu a parte de Castilho e ficou com a metade. A outra para Pozza. No final de 1976, Frank adquiriu os outros 50%. Seu tino comercial havia sido colocado à prova mais do que nunca.

O empreendedor na área do jornalismo há muitos anos não escreve. De colunista, virou colunável. É dono, juntamente com a ex-esposa Rosey Rachel Vieira da Silva e outros familiares, do jornal mais lido da cidade. O grupo do O Diário adquiriu, em 2002, a Rádio Cultura de Maringá, onde Frank começou na imprensa.

O Diário do Norte do Paraná é o pioneiro na cidade na impressão off-set e em cores, não apenas com o azul e o preto, como era a Folha. A cada ano, o jornal que Dutra fundou em 29 de junho de 1974 vem se modernizando, acompanhando as tendências do mercado e sempre buscando uma maior interatividade com Maringá e região. Ao longo dos anos, desde sua fundação, a linha editorial do jornal, ou até mesmo a falta dela em alguns períodos, vem sendo questionada. No entanto, o espírito de luta de Frank para atingir seus objetivos é inquestionável.
De colunista social da Folha a dono do O Diário
(Arquivo de O Diário do Norte do Paraná)
Livro: “O Jornal do Bispo” – Capítulo 25 – O SALTO DE FRANK


Acompanhar Joaquim Dutra era um caminho natural para Frank Silva. Já se conheciam desde a época que o colunista social falava no microfone da Cultura na década de 50. Outro fator, talvez o mais importante para seguir Dutra, era que ambos falavam a mesma língua. Ambos gostavam do jornalismo e viam nisso a possibilidade de ganhar dinheiro. Eram empreendedores. Frank tinha um bom rendimento na Folha, mas sabia que, por mais que se esforçasse, continuaria sob a tutela do bispo. Quando muito, poderia chegar a arrendatário. Quando foi chamado, não pensou duas vezes. Deixou a coluna social da Folha para Joel Cardoso, que iniciava no ramo, e foi fazer a sua no novo jornal. Suas explicações para a saída da Folha revelam a amizade por Dutra e a vontade de crescer. “Eu tenho um profundo respeito e admiração por dom Jaime. Foi, inegavelmente, a Folha que me deu aquela projeção. Mas, com o advento do O Diário, um jornal que tinha a garantia de ser super moderno e eu na vontade de procurar crescer, e convidado que fui pelo senhor Joaquim, que foi meu patrão na Rádio Cultura, onde tive o primeiro emprego em Maringá e a quem eu devia e devo lealdade, logicamente passei para O Diário.”
O grupo de Dutra ficou apenas dois anos à frente do O Diário. A sobrecarga de tantas empresas, entre elas a TV Cultura, inaugurada em 1975, fez com que o jornal quase fosse parar nas mãos do grupo que dirigia O Paraná, de Cascavel. Determinado a se desfazer do O Diário, o quarteto da Cultura, tendo Dutra como porta-voz, vendeu a metade das ações para o empresário Altamir Vinheski e 25% para Enésio Gomes Tristão, já falecido. Neste período, Dutra já não dava as cartas no O Diário, mas possuía ainda 25% das ações. Quase no final de 1975, tendo assumido o departamento comercial da TV Cultura, ofereceu as ações para Frank, que em meia hora fechou o negócio, mesmo sem ter o dinheiro suficiente. O restante foi parcelado. Neste ínterim, Vinheski vendeu as ações para o empresário Ramirez Pozza, que em 1987 viria a adquirir O Jornal de Maringá.
Já em 1976, Tristão vendia seus 25% para Frank e Edson Coelho Castilho. Com entradas e saídas repentinas de outros sócios, que participavam da sociedade por intermédio de Frank, que buscava recursos para obter os 50%, finalmente aconteceu o percentual equivalente. Ele adquiriu a parte de Castilho e ficou com a metade. A outra para Pozza. No final de 1976, Frank adquiriu os outros 50%.
Seu tino comercial havia sido colocado à prova mais do que nunca. O empreendedor na área do jornalismo há muitos anos não escreve. De colunista, virou colunável. É dono, juntamente com a ex-esposa Rosey Rachel Vieira da Silva e outros familiares, do jornal mais lido da cidade. O grupo do O Diário adquiriu, em 2002, a Rádio Cultura de Maringá, onde Frank começou na imprensa.
O Diário do Norte do Paraná é o pioneiro na cidade na impressão off-set e em cores, não apenas com o azul e o preto, como era a Folha. A cada ano, o jornal que Dutra fundou em 29 de junho de 1974 vem se modernizando, acompanhando as tendências do mercado e sempre buscando uma maior interatividade com Maringá e região.
Ao longo dos anos, desde sua fundação, a linha editorial do jornal, ou até mesmo a falta dela em alguns períodos, vem sendo questionada. No entanto, o espírito de luta de Frank para atingir seus objetivos é inquestionável.

De colunista social da Folha a dono do O Diário
Foto 28 – Arquivo de O Diário do Norte do Paraná

Livro: “O Jornal do Bispo” – Capítulo 24 – TEMPO DE CUBA LIBRE E HI-FI



“A Escola de Datilografia Triunph por ocasião da formatura de mais uma de suas turmas promovia no salão de festas do Aero Club movimentadíssima audição dançante ao som do conjunto de Ritmos Júnior”. Esta foi uma das notas que Franklin Vieira da Silva, o Frank Silva, colocou na sua coluna “Crônica Social”, na primeira edição da Folha do Norte.

Frank, que chegou em Maringá em dezembro de 1954, era repórter da Rádio Cultura. Foi dele a cobertura do primeiro acidente aéreo na cidade ocorrido em maio de 1957. A esquadrilha da fumaça fazia uma daquelas apoteóticas apresentações diante de um público numeroso que se concentrou na praça Raposo Tavares e nas imediações da Rodoviária.

De repente, um dos aviões foi perdendo altura até espatifar-se próximo à Ferroviária, matando o piloto. Frank, que tinha apenas 15 anos, assistiu a tudo e foi para a rádio, onde deu todas as informações do acidente.

Bem relacionado com a sociedade desde garoto, Frank era amigo de Antonio Messias Pimenta, que o apresentou ao padre André, que seria o diretor comercial do novo jornal. Na conversa, padre André comentou sobre o lançamento da Folha do Norte e sugeriu a Frank que fizesse uma coluna social piloto. Frank fez e, com o aval de dom Jaime, foi contratado pela Folha.

“Eu não escrevia coluna social. Eu cheguei a escrever numa época no O Jornal uma coluna que falava sobre as atividades dos radialistas de Maringá e também os lançamentos dos discos. A chance de escrever uma coluna social foi na Folha do Norte, que, inegavelmente, era um destaque no interior do Estado.”

A coluna social deu-lhe a oportunidade de se relacionar com o empresariado e os políticos. Frank não tinha salário na Folha, ganhava comissão. Este relacionamento lhe rendia contratos de publicidade não apenas para a Folha, mas também para outros órgãos de imprensa, o que lhe proporcionava muito mais do que ser assalariado. Os ganhos não eram decorrentes apenas destes contratos.

“Eu era também o intermediário. Por exemplo: venda de títulos para clubes sociais. Outro exemplo: você chega numa cidade e não conhece ninguém. Eu, como colunista social iria conhecê-lo em primeiro lugar. Então, eu falava: o que você precisar aqui, se quiser ficar sócio de algum clube, quer comprar um carro, você fala comigo, porque eu vou ganhar uma comissão. Era um agente, com boa credibilidade. Nunca fiz nenhuma bandalheira como colunista social, tudo era combinado antes e com o maior critério possível.”

Se a paixão pelo jornalismo e o romantismo imperavam nas redações, Frank não havia se contagiado por isso. Para ele, jornal era um negócio e, portanto, teria que trabalhar como um comerciante. Com o tempo, ele exercitou este tino comercial a ponto de se tornar um dos mais bem-sucedidos do ramo.

Começou a “Crônica social” com um quarto de página, depois meia e, por fim, página inteira. Acompanhado do primo, o fotógrafo Reinaldo de Almeida César, e a partir de 1966 com Moracy Jacques, Frank esteve presente em todas as festas que ocorriam na cidade, principalmente no Aero Clube, Maringá Clube e no Hípico, onde se reunia a nata da sociedade maringaense. Os bailes de aniversário de Maringá, em 10 de maio, eram o que havia de mais luxuoso. Traje a rigor: terno preto, gravata borboleta, sapatos de verniz.

O Grêmio dos Comerciários de Maringá também promovia grandes bailes. Frank e Reinaldo eram presenças constantes, convidados pelo círculo de amizades que tinham e também pela divulgação do evento e das personalidades. Eram muitas as festinhas em residências. Época da cuba libre, do hi-fi, a Crush misturada com vodca, e da eterna Coca-Cola.

Bailes de debutantes eram um acontecimento, assim como concorridas eram as formaturas do ginásio, de datilografia e de corte e costura. E Frank, naturalmente, presente.

“Festas de debutantes tinham em Maringá, na pior das hipóteses, três por ano. Tinha muita festa de formatura de escola de datilografia, da qual eu também participei, eu me formando em datilografia. Não era para qualquer um, não. E também formatura de escolas de corte e costura. O que tinha de festas desses dois segmentos era impressionante, porque na época, aqui em Maringá, eu me recordo que tinha umas dez escolas de datilografia. As irmãs Kubota tinham uma escola de corte e costura e eram líderes desses movimentos de formatura. Eu ia a todas as festas, era uma agenda super-cheia. Olha, eu fazia questão de estar presente em todos os acontecimentos, porque, além de gostar, gosto até hoje, ainda tinha os contatos nos pontos de referência e fazia outras negociações.”

Dos colunáveis dos anos 60, Frank lembra de Joaquim Dutra, João Paulino, Adriano Valente, Anibal Bianchini da Rocha, Antonio Eriberto Schwabe e a esposa Laís, Lauro Fontes e Valquíria Fontes e Laércio Nickel Ferreira Lopes. Ele ressalta a elegância das pessoas, principalmente das mulheres.

Em 1967, quando Maringá completou 20 anos de emancipação política, Frank anteviu a possibilidade de faturar. Ele idealizou uma homenagem da Folha do Norte aos 20 industriais dos anos 20, os nascidos naquela década. Homenagem cobrada, evidentemente.

Passou a procurar donos de cerâmicas e madeireiras, empresas em grande número naquela época em Maringá. As reportagens saíram em janeiro e fevereiro. O final do ano ainda estava longe e por isso era possível continuar faturando.

"E em uma ação continuada, eu peguei os 20 engenheiros, os 20 médicos, os 20 advogados, e assim até o final do ano. Em dezembro, eu fiz, tenho até o filme ainda, das 20 senhoras de maior expressão na sociedade.”

Os eventos ocorriam em profusão. Frank chegou a fazer uma reportagem de dez páginas, que saiu numa edição especial, com as primeiras damas do norte do Paraná. Chegou inclusive a levá-las, em 1968, ao Palácio Iguaçu, numa audiência com Ivone Pimentel, a esposa do então governador Paulo Pimentel.

Frank ficou até 1973 na Folha do Norte. Saiu para acompanhar Joaquim Dutra, que deixara o jornal, onde era arrendatário, para fundar O Diário do Norte do Paraná.

A coluna Crônica Social, de Frank Silva, na primeira edição da Folha
(Reprodução)
(Reprodução)

(Reprodução)

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Livro: "O Jornal do Bispo" – Capítulo 23 – A ROTATIVA DA DISCÓRDIA

Em 1973, Joaquim Dutra pensou em modernizar a Folha. Resolveu comprar uma rotativa off-set sem consultar dom Jaime. Foi a Curitiba e manteve contato com o representante paranaense da empresa norte-americana Tejaner, que comercializava a máquina. As negociações começaram e só não foram concluídas porque surgiu um complicador.

Um complicador que atendia pelo nome de dom Jaime, o presidente-proprietário do jornal. Ao ficar sabendo da compra, o bispo não gostou nada da idéia. Ele não concebia o fato do arrendatário fazer uma mudança tão brusca no matutino sem sequer pedir sua opinião.

A off-set seria a primeira do norte do Paraná. Nem a Folha de Londrina, que a cada dia se solidificava, possuía uma. Além do próprio espírito centralizador de dom Jaime, que nunca gostou de ficar fora das decisões, havia uma outra preocupação. Dutra analisa que o bispo temia perder o controle da Folha.

Para acalmar dom Jaime, dirimindo quaisquer dúvidas, o arrendatário foi conversar com o bispo, praticamente pedindo uma autorização para a compra. Tudo esclarecido e imaginando que a situação estava resolvida, Dutra acertou a compra com a Tejaner, pagando US$ 100 mil pela rotativa. Contudo, a relação com o bispo voltou a ficar complicada. Dom Jaime proibiu que a rotativa fosse colocada na Folha. Dutra é quem conta:

"Foram dizer para o dom Jaime que eu queria ficar dono do jornal dele. E isso nem passou pela minha cabeça. Dom Jaime ia para a Europa naqueles dias e me avisaram que era bom eu conversar com ele antes de viajar porque ele não estava querendo mais que eu colocasse a máquina. Mas eu já tinha comprado. Então eu fiquei coagido, entre a cruz e a espada. Eu comprei uma máquina caríssima." Dom Jaime ficou irredutível, a máquina chegou, ficou na caixa e Dutra ficou desesperado. Ele reitera que não queria e nem tinha condições de tomar o jornal do bispo, pois era simplesmente o arrendatário. Tentou contornar a situação, mas foi em vão. "Tenho a impressão que foram envenenar o dom Jaime. E daí, eu fiquei com a máquina e pensei: - O que eu faço agora?"

Com uma máquina de US$ 100 mil na mão, sem poder utilizá-la e sem poder cancelar o contrato com a empresa norte-americana, apelou para seus sócios e amigos da Rádio Cultura e propôs montar um outro jornal na cidade. Samuel Silveira, Carlos Piovezan Filho e Reginaldo Nunes Ferreira toparam a empreitada.

O grupo contava ainda com um irmão de Dutra, que residia em Arapongas. Na sua saída, Dutra desfalcou a Folha, levando vários profissionais, entre eles, Frank Silva. No dia 29 de junho de 1974, surge mais um jornal em Maringá: O Diário do Norte do Paraná. Com impressão em off-set e Rubens Ávila como chefe de redação. Dom Jaime nas oficinas da Folha, ao fundo os radialistas da Cultura, Ferreira Sobrinho e Sônia, do Clube do Caçula, na década de 1960
(Arquivo pessoal de Gumercindo Carniel)

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Livro: “O Jornal do Bispo” – Capítulo 22 – ADRIANO VALENTE, O PARCEIRO DA FOLHA DO NORTE

De todos os prefeitos de Maringá, Adriano José Valente foi o que teve melhor relacionamento com dom Jaime e, por conseqüência, com a Folha do Norte. É grande a amizade. Seu nome consta como jornalista, o que ele nunca foi, entre os documentos para a abertura da empresa.
O advogado Adriano Valente, que em 2001 ainda trabalhava no seu escritório da avenida Parigot de Souza, não se lembra de muitos fatos relacionados especificamente à Folha do Norte, quando foi prefeito de Maringá de 1969 a 1973. Reclama que recebia muitas críticas no começo do mandato, mas não sabe informar se elas foram publicadas na Folha ou no O Jornal.

Verificando as edições da época, percebe-se que, com Adriano na Prefeitura, o período foi de calmaria na redação da Folha. Esporadicamente saíam críticas à sua administração. Se a Diocese estivesse no comando do jornal certamente elas não existiriam. Muito pelo contrário. O apoio de Adriano foi fundamental para que dom Jaime pudesse realizar o seu maior projeto: a construção da Catedral Nossa Senhora da Glória.

O ex-prefeito, que foi deputado federal em duas legislaturas, de 1975 a 1982, prefere lembrar das dificuldades que enfrentou ao assumir a Prefeitura. Diz que na primeira etapa da sua administração teve que pagar muitos débitos e não pôde colocar em prática seu plano de governo.

Ressalta, porém, que nos dois últimos anos inaugurou o Parque do Ingá, o Parque de Exposições e outras grandes obras. Informa que só depois de sanear as contas do Município é que pôde atender a imprensa.

“Aí eu pude realmente estar em contato com a imprensa de maneira diferente, porque aí já havia uma sobra orçamentária para ela.”

Para a concretização de seu maior projeto, dom Jaime colocou Adriano Valente, que acabara de tomar posse na Prefeitura, como presidente da Comissão de Construção da Catedral. O advogado, nascido na capital paulista, em 1921, que chegou em Maringá em 1956, fala com orgulho de sua participação na obra.

“Eu acho que foi fundamental a participação da administração municipal para a construção da Catedral. Dom Jaime me procurou para constituir uma comissão de construção. A Catedral estava nas capelas, estava alguns anos parada porque não havia meios de tocá-la. Logo que assumi, procuramos as pessoas mais dinâmicas para se empenhar na construção. O Município influenciou muito. Essas pessoas eram generosas, mas o Município estava sempre presente e inclusive com a doação de material, de pedra e outras coisas mais. Então, a Catedral começou a ser realmente levantada a partir das capelas na minha administração. Eu fiz questão de colocar a cruz lá em cima. Era uma obra de dom Jaime e ele realmente foi o inspirador e trabalhou muito para que ela pudesse ser concluída, mas a minha administração fez ela avançar.”

Com Adriano na prefeitura, dom Jaime realizou seu sonho. Coincidência ou não, logo após a posse de Silvio Barros, em 31 de janeiro de 1973, começaram os desentendimentos entre o bispo e o arrendatário da Folha, Joaquim Dutra.

(Nota do autor: a entrevista com Adriano Valente foi realizada em 2001)

Adriano Valente, prefeito de Maringá de 1969 a 1973; amizade com dom Jaime

Com Adriano, a administração municipal teve participação decisiva na construção da Catedral
(Reprodução foto Laércio Nickel Ferreira Lopes)

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Livro: “O Jornal do Bispo” – Capítulo 21 – JOAQUIM DUTRA, O ARRENDATÁRIO DA FOLHA DO NORTE, PIONEIRO DA COMUNICAÇÃO

Joaquim Dutra cumpria, até 2002, a rotina diária de ir à Rádio Cultura de Maringá, sua menina dos olhos. Já não precisava tomar decisões do dia-a-dia, mas sempre era ouvido nas questões importantes. Ele e seu amigo e sócio Samuel Silveira chegaram a ser proprietários de 14 emissoras de rádio, um canal de tevê, a Cultura, afiliada da Globo em Maringá, e O Diário do Norte do Paraná.

Dutra desfez-se de todos estes órgãos nos últimos 30 anos, mas da Cultura, a emissora do Leão, só abriu mão no início de 2002, quando a vendeu para Frank Silva. Na emissora mais antiga da cidade, fundada em 1951, Dutra foi sócio com Silveira, Carlos Piovezan Filho e Reginaldo Nunes Ferreira.

Figura das mais respeitadas de Maringá, Joaquim Dutra recebeu da Câmara Municipal, em 1979, o título de cidadão benemérito da cidade. Dono de um espírito empreendedor ímpar, sempre topou desafios, vencendo a maioria deles. Nascido na cidade paulista de Mogi-Mirim, ele chegou à cidade em 1950, acompanhando a família, que veio abrir um hotel.

Aos 83 anos, sofrendo de mal de Parkison, o primeiro arrendatário da Folha, se desculpa em não poder dar informações precisas sobre o jornal devido à fraca memória. Quando começa a falar, no entanto, ele discorre sobre os fatos mais importantes, praticamente sem hiatos de esquecimento.

Diz que o motivo que o levou a arrendar a Folha do Norte não foi pela possibilidade de ganhar dinheiro, mas sim porque não poderia deixar uma publicação daquela importância para Maringá e região sucumbir nas mãos de quem não era do ramo:

“O contrato de arrendamento foi um negócio mais feito na confiança. Foi um contrato inicial e aquilo serviu de orientação. A Folha não foi um exemplo de jornal, mas foi um jornal sério. Ela veio para moralizar a imprensa.”

Dutra não coloca a Folha como apenas um veículo de comunicação que passou pelas suas mãos. Fala do jornal com a convicção de que ele foi necessário para, se não acabar, pelo menos diminuir a picaretagem instalada em Maringá no meio jornalístico.

Assim, como dom Jaime, ele abominava o comunismo. Não foi por acaso que o bispo aceitou sem restrições o arrendatário. Dutra enfatiza que a boa intenção de um órgão de imprensa leva ao respeito e deste ao temor:

“Uma imprensa quando é bem dirigida, quando é bem intencionada, ela é temida pelos políticos e pelas pessoas de lado esquerdo. Então, como ela é temida, ela é respeitada, ela impõe respeito. Era assim a Folha, que tinha como redator principal o Assis, um bom redator, sempre bem intencionado, direto, um elemento ideal para tocar o jornal naquela ocasião.”

Nos quase dez anos no comando, Joaquim Dutra soube dinamizar os departamentos porque unificava o empresário e o maringaense que lutava por uma imprensa forte. Dava a importância eqüitativa ao comercial e à redação.

Deixou a Folha em 1973 para que o grupo de Jorge Fregadolli assumisse. O motivo, segundo Dutra e que dom Jaime não confirma, foi a compra de uma rotativa off-set. O empresário do ramo da comunicação não leva mais em conta esta história, continua a ter dom Jaime em alta conta e distribui elogios a todos com quem trabalhou na Folha.

O que lhe vem forte à mente, deixando-o ainda revoltado, quando o assunto é a década de 1960, é a figura do vereador maringaense Bonifácio Martins, um emérito comunista.

“Na Revolução de 64, foi briga por microfone. O Rio Grande do Sul fez a Cadeia da Legalidade e o resto do Brasil fez a Cadeia da Democracia. A guerra se baseou em conversas, em microfone. E nesta ocasião tinha um vereador aqui em Maringá que era comunista declarado. Aquele negócio das emissoras ficarem 24 horas por dia no ar, durante aquela revolução, ele veio três vezes atrás de mim para que eu mudasse a programação. Ele falava claramente: - Se você não mudar de estação, nós vamos cassar a licença da sua rádio. Mas a nossa índole, o nosso entendimento era tudo do lado de cá. Então, eu liguei para o Samuel Silveira, que estava em Curitiba e contei a ele o que estava acontecendo. Ele me disse: -Olha, Joaquim, se for para fechar a rádio, feche, mas nós não vamos passar para a Cadeia da Legalidade. O vereador fugiu quando acabou a Revolução, ele fugiu de Maringá e eu fui encontrar ele um dia comendo uma pizza lá em Cuiabá.”

Joaquim Dutra conta a história como se ela tivesse acabado de acontecer e dá um sorriso satisfeito de vitória. Quanto à sua menina dos olhos, a Rádio Cultura, ele só se desfez quando percebeu que havia concluído a sua obra na área de comunicação do Paraná.

(Nota do autor: a entrevista com Joaquim Dutra foi realizada em 2001)



Joaquim Dutra, arrendatário da Folha do Norte de 1964 a 1973, vendeu a Rádio Cultura de Maringá para Frank Silva, em 2002
(Foto: José Roberto Furlan)

Livro: “O Jornal do Bispo” – Capítulo 20 – DA DIOCESE PARA DUTRA

Em 1964, Dom Jaime arrendou o jornal para Joaquim Dutra e Samuel Silveira, proprietários da Rádio Cultura de Maringá na época e que permaneceram sócios até o início do novo milênio.

Coincidência ou não, justamente naquele ano do arrendamento o golpe militar de 31 de março. A Frente Agrária Paranaense foi fechada, assim como os sindicatos. E as Ligas Camponesas banidas e seus líderes perseguidos.

Dutra tocou o jornal por quase dez anos, sempre com dom Jaime exercendo sua influência na linha editorial. As edições antes e após Dutra pouco diferem. Nota-se mais informações locais. As matérias relacionadas à administração municipal nos períodos de Luiz de Carvalho e Adriano Valente eram bastante favoráveis, ao contrário da gestão de Sílvio Barros (1973-1977). Uma prova da onipresença do bispo.

As reportagens do governo do Estado, que tinha o amigo de dom Jaime, Ney Braga, ocupando o Palácio Iguaçu, e Paulo Pimentel, também eram positivas. Se João Paulino tivesse sido prefeito no período de Dutra na Folha do Norte, não seria sistematicamente criticado. Dutra sempre o teve em alta conta:

“O João Paulino foi um grande prefeito. Foi prefeito duas vezes e sempre muito amigo nosso, tanto no rádio como no jornal. Ele sempre me incentivou e foi uma pessoa de valor extraordinário. Político que hoje você não vê mais.”
Com o arrendatário, o jornal tornou-se mais dinâmico, com mais informações. Antonio Augusto de Assis chegou no ano seguinte para comandar a redação. Assis tinha experiência no jornalismo e não se envolvia com as finanças, ao contrário do padre André. A venda de propaganda teria que ser intensificada, afinal a era de venda das ações havia terminado.

Com experiência administrativa e em meios de comunicação, Dutra foi buscar profissionais para fazer o jornal progredir. A partir de 1967 passou a contar com Jorge Fregadolli, publicitário bem relacionado na cidade, que conseguiu montar uma boa estrutura no departamento comercial.

Mesmo com a saída da Diocese dos negócios, a Folha continuou a utilizar a estrutura das cidades da região, estrutura formada a partir do trabalho dos padres das paróquias. Quando Dutra assumiu, a Folha tinha uma tiragem diária em torno de 7 mil exemplares e manteve este patamar até encerrar o arrendamento em 1973.
Joaquim Dutra, Gumercindo Carniel, Jorge Fregadolli, dom Jaime e o linotipista Tupã, em frente à Folha, no final dos anos de 1960
(Foto - arquivo pessoal de Gumercindo Carniel)

Livro: “O Jornal do Bispo” – Capítulo 19 - A MATEMÁTICA INEXATA

A Folha do Norte foi arrendada dois anos depois da sua fundação. Foi um curto período em que o jornal esteve sob o comando da Diocese, mas dom Jaime continuou exercendo sua influência.

Mesmo não afirmando taxativamente, a explicação do arcebispo para arrendar o jornal foi o fato de ter sido enganado na venda das ações, o que tornou inviável para a Diocese continuar na direção.

Ele lembra que de 1962 a 1965 viajava constantemente para Roma, acompanhando o Conselho Ecumênico Vaticano 2º e deixava a administração com o padre André, que depois passou para o cônego Munício, também pertencente à Diocese.

“Foi neste tempo que houve um maior prejuízo. Muitas despesas porque não dava lucro. Então tivemos que pensar em passar adiante o jornal.”

O arcebispo deixa no ar que foi enganado. Passados mais de 40 anos, evita polemizar, mas dá sinais de como tudo aconteceu. É enfático ao afirmar que a causa da inadimplência foi o sumiço de boa parte do dinheiro das ações:

“Eu me lembro do Antonio Messias Pimenta, que vendia para nós as ações. Que Deus o tenha na glória. Não sei o que aconteceu. Porque, às vezes, as pessoas compravam 100 ações, pagavam 100 ações. Nós recebíamos 30. Ficavam 70 para receber. A gente mandava receber 70 depois. Não, não, já está tudo pago. Então, muito dinheiro desapareceu assim. Aí que veio aquele prejuízo. Assim, de fato, vendendo as ações, viesse o dinheiro todo ou então pagando por parte e cobrar. Então houve assim, esse desgaste grande. O Pimenta que era encarregado da venda das ações. Ele, com o padre André. Padre André depois deixou o ministério e foi embora daqui. Pimenta morreu. Mas, o pessoal que trabalhava dentro sempre tivemos bom relacionamento.”

Livro: “O Jornal do Bispo” – Capítulo 18 – “AS COLUNAS POLÍTICAS E OS VEREADORES”

No ano em que a Folha fechou, em 1979, atuavam na Câmara os vereadores da sétima legislatura, que tinham tomado posse em fevereiro de 1977 e ficariam até 31 de janeiro de 1983.

Em 1979, foram poucos os projetos de relevância aprovados de autoria dos vereadores: o que autorizava o Executivo a implantar o sistema de semáforos de ciclo visual, o primeiro do País, idealizado pelo maringaense Divino Bortolotto em toda a área urbana de Maringá, a obrigatoriedade aos proprietários de prédios de apartamentos de mais de três pavimentos de reservar 10% da área do terreno para locais destinados à recreação infantil e o que instituiu no Município a obrigatoriedade da fiscalização de elevadores.

Ao contrário da década anterior, a imprensa passou a acompanhar mais amiúde o trabalho dos vereadores e dos políticos em geral, e não somente nas questões pontuais ou polêmicas. Maior espaço passou a ser destinado à Câmara. Nos anos de 1970, o jornalismo maringaense passa a focar a classe política muito além dos palanques, tribunas, gabinetes e salas de reuniões.

Hoje se pergunta por que o Legislativo maringaense é diariamente alvo de notas, comentários e reportagens ao contrário de cidades do porte de Maringá. Isto ocorre principalmente porque já se tornou tradição das redações de jornais e tevê, dos programas terceirizados de tevê e rádio e dos donos de tablóides pautar as ações legislativas, uma tradição de décadas; e também porque os próprios vereadores se encarregam de criar pautas para os jornalistas, negativas na maioria das vezes.

Nos estertores da Folha, havia a coluna Caldeirão, assinada por José Antonio Moscardi, mas que tinha a colaboração de toda a redação. Quando determinada reportagem não podia ser publicada por razões diversas, saíam informações fragmentadas nas colunas. Uma praxe que dura até hoje.

Com maior ênfase no início da década de 1970, os colunistas políticos passaram a ser leitura obrigatória para quem quisesse conhecer os meandros do poder. O Jornal de Maringá foi quem inaugurou o colunismo político na cidade. Verdelírio Barbosa, que continua escrevendo sobre política no Jornal do Povo, foi um dos pioneiros, tanto na Folha como no O Jornal, tendo trabalhado ainda no O Diário.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Livro: “O Jornal do Bispo” – Capítulo 17 – A FAZENDA ILUMINADA COMEÇA A SAIR DO PRIMITIVISMO

Naquele início da década de 1960 tudo estava por fazer. Maringá saía forte dos anos 50 e havia a necessidade de se modernizar para atender uma população que crescia a cada dia, que se espalhava para a Vila Operária, Vila Nova, Vila Sete, Mandacaru e zonas Dois, Quatro e Cinco.

Projetos nas áreas de saúde, educação, infra-estrutura, segurança e habitação teriam que ser executados com urgência. Inúmeros atos administrativos, para tornar mais ágil o trabalho da prefeitura, teriam que ser assinados. A cidade pedia transformações. Nesse período, grande parte dos projetos aprovados pelos vereadores foi enviada pelo prefeito João Paulino à Câmara.

Hoje, esses projetos básicos para que Maringá pudesse atender à demanda podem parecer simples. Contudo, havia a necessidade de recursos, que no início da década de 1960 eram escassos. O governo do Estado pouco olhava para Maringá, tampouco a União lembrava da existência da Cidade Canção. A arrecadação dos impostos municipais, como o IPTU (Imposto Predial Urbano) era minguada.

Na entrevista concedida para este livro, em 2001, João Paulino lembra que antes de assumir, era comum funcionários do Município receberem do contribuinte para completar seus salários. Na Maringá da década de 1950 prevalecia ainda o estilo paroquiano de administrar.

Com João Paulino, a fazenda iluminada, apelido dado pelos londrinenses, segundo afirmam os pioneiros, começava a sair do primitivismo; começavam os primeiros sinais de enfraquecimento da relação paternal entre o poder Executivo e a população. JP foi a mão de ferro que deu início ao processo.

O termo “fazenda iluminada” não foi dado sem razão. Um exemplo disso foi contado por dom Jaime, que em pelo menos duas oportunidades impediu o prefeito Américo Dias Ferraz, que administrou a cidade de 1956 a 1960, de ir armado de revólver às sessões da Câmara, onde seriam votados projetos do Executivo. A Maringá de dez anos de emancipação política ainda podia contar com figuras como Ferraz, já falecido.

João Paulino era centralizador, mas não podia adotar a mesma postura de Ferraz. Novos tempos estavam surgindo e havia um detalhe muito importante: o novo prefeito era promotor público e, portanto, inconcebível colocar um revólver na cinta para discutir com vereadores ou quem quer que fosse.

Os principais projetos aprovados pela Câmara, de autoria dos vereadores, nos quatro anos de mandato de JP e transformados em lei foram os seguintes: autorizava entendimentos com a Copel, no sentido de se proceder a extensão da linha de energia elétrica da praça Souza Naves até o Aeroporto Gastão Vidigal, criava nos estabelecimentos de ensino primário municipal a merenda escolar, autorizava a criação da sub-prefeitura no distrito de Floriano, instituía o regime jurídico dos funcionários municipais, dispõe sobre a organização da Caixa de Assistência, Pensões e Seguros dos Servidores Municipais de Maringá (Capsema), considerava hino oficial do Município a composição de autoria dos professores Ary de Lima e Aniceto Matti já denominada Hino a Maringá, institui o Museu Municipal, autorizava o Executivo a construir 50 casas populares na Vila Morangueira, a obrigatoriedade da vacinação de crianças nas escolas municipais contra poliomielite, varíola, difteria, tétano, coqueluche e outras, instituía o Ambulatório Médico Municipal e oficializava os símbolos de Maringá: o brasão de armas e a bandeira.

Nos anos subseqüentes, com Luiz Moreira de Carvalho, Adriano Valente, Silvio Barros, já atravessando a década, e João Paulino novamente, a Câmara oscilou na sua relação com o poder Executivo. Em nenhuma legislatura pode-se afirmar que houve a independência, princípio que deveria ser básico entre os poderes. A cada ano os projetos foram se tornando mais específicos à medida que os básicos foram sendo aprovados.

A Folha do Norte acompanhou este processo sem muito empenho. Ao contrário de hoje, em que o trabalho legislativo é acompanhado detidamente pelos órgãos de comunicação, na década de 60, a Folha em especial, divulgava mais as questões políticas envolvendo João Paulino e vereadores contrários às ações da administração municipal.

Maringá: final dos anos de 1950

(Kenji Ueta)

Maringá: meados dos anos de 1960

(Kenji Ueta)