sexta-feira, 5 de agosto de 2011
Gente da imprensa de Maringá
Danyani Rafaella (Jornal do Povo), Solange Riuzin (TV Cultura-Globo), De Paula e Valdete da Graça (Rede Massa)
sexta-feira, 22 de julho de 2011
Dica para os fãs do basquete: www.gironoaro.blogspot.com
O meu filho Guilherme Tadeu está estudando em Vitória-ES. Apaixonado por basquete, ele é um dos responsáveis por um dos blogs mais respeitados do País que escreve sobre o esporte, o www.gironoaro.blogspot.com. Em fevereiro deste ano no Espírito Santo, Guilherme entrevistou Marcelinho, o craque do time de basquete do Flamengo e da seleção brasileira. A foto foi tirada pela Maisa Helena, namorada do Guilherme.
terça-feira, 19 de julho de 2011
Documentário e a caneta do Bruno
Olá, amigos, atendendo inúmeros pedidos da minha consciência, volto a escrever no blog. As coisas são como são e não como deveriam. Faz tantos dias que não escrevo, mas não consigo me lembrar de alguma novidade realmente importante para compartilhar com os amigos que visitam o blog.
O que tenho a dizer é que a produção do videodocumentário “Histórias que a bola pesada contou” segue firme, forte e resoluta. O Bruno Gerhard, que estava editando o material junto com o César Rodrigues foi trabalhar na TV Cultura, a Globo aqui de Maringá. Fiquei satisfeito. O Bruno é um cara muito competente e criativo e vai se dar bem na profissão de jornalista. O Bruno é um amigão meu, do meu filho Guilherme e da Simone, minha mulher, que merece tudo de bom. Esteve comigo desde o começo da TV Girafa e agora segue no seu sonho de jornalista.
Falando do Bruno e deixando para falar do documentário mais adiante, no dia em que ele se despediu, me deu uma caneta de presente. Um simples presente, mas com um significado do tamanho do mundo. Acho que aquela caneta significou ele dizendo para o tiozinho aqui: “Valeu, De Paula, boa sorte, agora tenho que seguir. Não vou esquecer o trabalho que fizemos juntos.” Pelo menos foi o que entendi. Disse para ele que vou guardar a caneta como lembrança.
Voltando ao documentário, agora o Carlos Emori Júnior está editando. Tem muita coisa ainda para fazer. Mas estamos tocando o barco e acredito que dentro de mais um mês a gente conclui. Além da edição, temos que pegar mais depoimentos, fotos, recortes de jornais, vídeos, definir as trilhas.
Não posso me dedicar exclusivamente ao documentário. Tenho outros afazeres que tomam meu tempo, mas vamos que vamos. Mas, pra que chorar? quem está fogo está pra se queimar”, como já dizia Sérgio Sampaio, o poeta e cantador que tão precocemente nos deixou.
Estamos tentando contar a história do futebol de salão de Maringá. São muitas informações. Já entrevistamos perto de cem pessoas. Só para você ter uma idéia, o documentário não terá menos de cinco horas. Quero ver como vou fazer para exibir esse material.
O Marcelo Carvalho, que fez a capa do DVD do documentário do Kenji Ueta, que produzi em 2008, está cuidando da parte gráfica: catálogo, capa do DVD, folder etc. O Marcelo é muito bom. Tenho certeza que vai ficar excelente o material. Vamos divulgar tudo pelo www.tvgirafa.com.br.
Boa sorte, Bruno! Estamos mandando ver no documentário que você começou a editar
Boa sorte, Bruno! Estamos mandando ver no documentário que você começou a editar
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
10 anos sem Valdir Pinheiro
Valdir Pinheiro faleceu no dia 28 de dezembro de 2000.
Capítulo 31 do livro online O Jornal do Bispo, sobre Valdir Pinheiro
www.jornaldobispo.com.br
Capítulo 31 do livro online O Jornal do Bispo, sobre Valdir Pinheiro
www.jornaldobispo.com.br
Um dos repórteres mais queridos e lembrados da Folha do Norte é Valdir Pinheiro, que morreu em dezembro de 2000, em decorrência de problemas respiratórios, aos 52 anos.
Valdir passou a ser uma referência quando se fala de paixão pelo jornalismo. Ele conquistou seu espaço às custas de muita força de vontade. Quando a Folha iniciou as atividades, era um dos garotos entregadores de jornal.
Depois, passou a mancheteiro. Não o mancheteiro de hoje, que fica digitando títulos até encontrar o que se encaixe nas colunas. Era auxiliar de linotipista. O trabalho de Valdir era colocar os tipos, ou seja, as letras, para compor na caixa que posteriormente ia para a impressão.
Como este trabalho artesanal era feito depois que a redação estava fechada, o editor de esportes, Borba Filho, pedia a Valdir que gravasse os jogos de futebol da noite, principalmente os do Campeonato Paulista.
Borba deixava lacunas na página para que fossem colocados os resultados e outros detalhes das partidas. Valdir gravava tudo e depois sentava em frente a uma Remington e, “catando milho”, datilografava as fichas técnicas.
Depois que Borba Filho saiu da Folha, em meados da década de 1960, o corintiano Valdir assumiu a editoria de esportes e ensinou muitos profissionais. Wilson Serra, por exemplo, o trata de professor. Antonio Augusto de Assis o define como uma das pessoas mais queridas da redação da Folha do Norte.
Durante toda a sua vida, Valdir Pinheiro foi ligado à imprensa. Depois da Folha, trabalhou no O Jornal de Maringá, O Diário, rádios Cultura, Difusora e Atalaia e Jornal do Povo.
De todos os jornalistas esportivos de Maringá, Valdir era um dos maiores conhecedores da história do Galo do Norte, como é conhecido o Grêmio Maringá. Ele esteve reportando praticamente todas as conquistas do Grêmio Esportivo, Grêmio de Esportes e outros grêmios que vieram a seguir.
Em 30 de setembro de 1990, sofreu um grave acidente de carro quando retornava de Anápolis (GO) com a equipe da Rádio Atalaia. Ele estava em companhia do narrador Denival Pinto e do comentarista e empresário Edson Campos.
Valdir era o repórter da equipe que havia ido a Anápolis fazer a cobertura do jogo entre Anapolina e Grêmio válido pelo Campeonato Brasileiro. No acidente, quebrou a perna esquerda. Submeteu-se a várias cirurgias, mas nunca mais andou normalmente. Denival quebrou algumas costelas e Edson teve escoriações.
Até pouco antes de morrer, em dezembro de 2000, o paulista de Álvares Machado, que chegou ainda menino a Maringá, escrevia a sua coluna De olho em tudo no O Jornal do Povo. Ainda “catando milho” com os dois dedos indicadores.
Em 2002, a administração do Partido dos Trabalhadores, que tinha como prefeito José Cláudio Pereira Neto, deu ao ginásio de esportes da Vila Olímpica, o nome de Valdir Pinheiro.
A sugestão partiu do professor e historiador Reginaldo Benedito Dias, que era o chefe de gabinete; sugestão acatada pelo prefeito e pelo então secretário municipal de Esportes Mário Verri.
O então vice-prefeito João Ivo Caleffi, que viria a ocupar a chefia do Executivo mairngaense, foi quem assinou o decreto oficializando o nome "Valdir Pinheiro" àquela praça esportiva.
Verri, que é vereador em sua segunda legislatura, diz que a escolha do nome de Valdir Pinheiro para o ginásio é uma justa homenagem da cidade a um profissional que teve sua vida intimamente ligada ao esporte de Maringá:
“Valdir Pinheiro foi um pioneiro da imprensa maringaense, amigo de todos. Além do futebol profissional da cidade, em que era um dos maiores conhecedores e um apaixonado torcedor, divulgou o esporte amador de Maringá tanto na sua coluna em todos os jornais em que trabalhou como nas emissoras de rádio.”
Valdir entrevistando o Rei Pelé em Maringá virou foto de capa, em junho de 1974
(Reprodução)
Valdir passou a ser uma referência quando se fala de paixão pelo jornalismo. Ele conquistou seu espaço às custas de muita força de vontade. Quando a Folha iniciou as atividades, era um dos garotos entregadores de jornal.
Depois, passou a mancheteiro. Não o mancheteiro de hoje, que fica digitando títulos até encontrar o que se encaixe nas colunas. Era auxiliar de linotipista. O trabalho de Valdir era colocar os tipos, ou seja, as letras, para compor na caixa que posteriormente ia para a impressão.
Como este trabalho artesanal era feito depois que a redação estava fechada, o editor de esportes, Borba Filho, pedia a Valdir que gravasse os jogos de futebol da noite, principalmente os do Campeonato Paulista.
Borba deixava lacunas na página para que fossem colocados os resultados e outros detalhes das partidas. Valdir gravava tudo e depois sentava em frente a uma Remington e, “catando milho”, datilografava as fichas técnicas.
Depois que Borba Filho saiu da Folha, em meados da década de 1960, o corintiano Valdir assumiu a editoria de esportes e ensinou muitos profissionais. Wilson Serra, por exemplo, o trata de professor. Antonio Augusto de Assis o define como uma das pessoas mais queridas da redação da Folha do Norte.
Durante toda a sua vida, Valdir Pinheiro foi ligado à imprensa. Depois da Folha, trabalhou no O Jornal de Maringá, O Diário, rádios Cultura, Difusora e Atalaia e Jornal do Povo.
De todos os jornalistas esportivos de Maringá, Valdir era um dos maiores conhecedores da história do Galo do Norte, como é conhecido o Grêmio Maringá. Ele esteve reportando praticamente todas as conquistas do Grêmio Esportivo, Grêmio de Esportes e outros grêmios que vieram a seguir.
Em 30 de setembro de 1990, sofreu um grave acidente de carro quando retornava de Anápolis (GO) com a equipe da Rádio Atalaia. Ele estava em companhia do narrador Denival Pinto e do comentarista e empresário Edson Campos.
Valdir era o repórter da equipe que havia ido a Anápolis fazer a cobertura do jogo entre Anapolina e Grêmio válido pelo Campeonato Brasileiro. No acidente, quebrou a perna esquerda. Submeteu-se a várias cirurgias, mas nunca mais andou normalmente. Denival quebrou algumas costelas e Edson teve escoriações.
Até pouco antes de morrer, em dezembro de 2000, o paulista de Álvares Machado, que chegou ainda menino a Maringá, escrevia a sua coluna De olho em tudo no O Jornal do Povo. Ainda “catando milho” com os dois dedos indicadores.
Em 2002, a administração do Partido dos Trabalhadores, que tinha como prefeito José Cláudio Pereira Neto, deu ao ginásio de esportes da Vila Olímpica, o nome de Valdir Pinheiro.
A sugestão partiu do professor e historiador Reginaldo Benedito Dias, que era o chefe de gabinete; sugestão acatada pelo prefeito e pelo então secretário municipal de Esportes Mário Verri.
O então vice-prefeito João Ivo Caleffi, que viria a ocupar a chefia do Executivo mairngaense, foi quem assinou o decreto oficializando o nome "Valdir Pinheiro" àquela praça esportiva.
Verri, que é vereador em sua segunda legislatura, diz que a escolha do nome de Valdir Pinheiro para o ginásio é uma justa homenagem da cidade a um profissional que teve sua vida intimamente ligada ao esporte de Maringá:
“Valdir Pinheiro foi um pioneiro da imprensa maringaense, amigo de todos. Além do futebol profissional da cidade, em que era um dos maiores conhecedores e um apaixonado torcedor, divulgou o esporte amador de Maringá tanto na sua coluna em todos os jornais em que trabalhou como nas emissoras de rádio.”
Valdir entrevistando o Rei Pelé em Maringá virou foto de capa, em junho de 1974
(Reprodução)
No acidente de 1990, Valdir teve séria lesão na perna. O pioneiro do jornalismo esportivo de Maringá morreu em dezembro de 2000
(Foto - arquivo Jornal do Povo)
FOTO DA CAPA DO JORNAL O DIÁRIO DO NORTE DO PARANÁ NO DIA 29 DE DEZEMBRO DE 2000
TEXTO DO JORNALISTA EDIVALDO MAGRO, EDITOR-CHEFE DE O DIÁRIO EM 2000
(clique no texto para mehor leitura)
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
Sempre tecendo a fantasia
Os primeiros livros que comecei a ler eram pequenos, de capas duras e escuras, de letras miúdas, de muitas páginas. Fui apresentado a eles no já longínquo 1968. Meu Deus! O tempo passou e eu estou passando pela vida tão rapidamente que não sei se vou poder ler todos os livros que prometi.
A história começa com meu pai me mandando para um internato católico de Ponta Grossa, o Verbo Divino. Faz tempo, mas me lembro muito bem da disciplina que nos era imposta: trabalho, estudo e oração, não necessariamente nesta ordem. O domingo era livre e tínhamos como opções, no período da manhã desse abençoado dia, a retirada de livros da biblioteca e a confecção de terços. O futebol estava liberado à tarde.
Como nunca fui bom em trabalhos manuais, ignorava o alicate, os arames e as contas, e ia buscar um livro, que poderia ser devolvido no domingo seguinte. Não me recordo de nenhum título. As lembranças são difusas quanto às histórias que li. Eram, em sua maioria, fábulas, ensinamentos cristãos etc etc. E põe etc nessas recordações
Eu era um moleque que adorava futebol, paixão que carreguei pela vida sem que precisassem me incentivar. Já a paixão pela leitura começou naquelas viagens catequéticas entre santos e mártires, ou mártires que se tornaram santos, a fé e a caridade, a criação do mundo...
Uma história que me marcou foi a de Maximiliano Kolbe, o padre que se ofereceu para morrer em Auschwitz no lugar de outro preso. Kolbe virou santo e eu deixei o Verbo Divino. Melhor dizendo: fui tirado de lá. A percepção do meu pai de que eu jamais me tornaria padre e a saudade que a minha mãe tinha do filho de 11 anos forçaram o retorno.
Não vou listar os colégios pelos quais passei nas décadas seguintes porque não considero relevante e também porque não sobraria espaço para contar sobre minha fissura pelos gibis.
Aliás, “fissura” é bem anos 70, não? Pois foi nessa época que fiz dos gibis os meus parceiros. Meu avô Bastião tinha um açougue em Maringá, na Vila Operária, quase em frente à Igreja São José. A banca de revistas ficava próxima ao Cine Horizonte, no prédio novo, na avenida Riachuelo.
Minha tia Léa, que também é minha madrinha, sempre me arrumava uns trocados. Invariavelmente, o dinheiro ia para a banca e para a padaria da Zeca, que ficava ao lado do açougue. Quando não estava na sala de aula ou nos campinhos jogando bola, lia gibis e comia tortas de banana. No intervalo da obrigação e da alegria maior, acompanhava as peripécias de Bil Kid, David Crockett, Batman, todos da Disney, e do melhor, o mais temido, o inesquecível Fantasma, o espírito que anda.
Ainda naquela década surgiu a revista semanal Placar, especializada em futebol. Chegava às bancas na quarta-feira. Lia no mesmo dia. Tinha quase todos os exemplares e podia recitar escalações de times, resultados e títulos, falar da Seleção Brasileira e das Copas. O gosto pela leitura da Placar despertou em mim a escrita. Foi a minha porta de entrada no jornalismo.
Companheiro nas aventuras desses heróis intrépidos e lendários e de tantos outros, que a empoeirada memória não consegue mais se lembrar, e jogador de futebol imaginário ao lado de craques como Pelé, Tostão e Gérson, teci a fantasia da minha infância que continuo a usar até estes dias reais.
Os livros, as revistas e os gibis ainda me remetem a muitos mundos. Os sonhos ainda não foram embora. Acho que eles estarão comigo permanentemente. Assim, faço um cotidiano mais leve e tento não levar tão a sério as inevitáveis agruras diárias. As publicações são paradoxais. São fuga e tentativa de compreender a vida. Elas abrem perspectivas. São os canais para o entender o ser humano e se entender.
São muitas histórias dentro das minhas histórias. Folheando páginas intermináveis, que começaram contando a vida do agora santificado padre Kolbe; passando pelo Fantasma, montado em seu cavalo Herói; pelo romântico futebol, em que a batida da bola acelerava o coração, e o amor à camisa movia o jogador; nos romances, em que o bem sempre vencia no final; nos exemplos de vida e nas nada exemplares biografias; e hoje, ainda vagando pelo passado, no presente carimbado nos jornais, e na comportada angústia do que virá. Vou folheando páginas. Vou tecendo a fantasia. Apesar da rudeza, dos contornos reais, a fantasia nunca vai cessar.
Texto de Antonio Roberto de Paula publicado na revista Maringá Ensina, edição de agosto-setembro-outubro 2010
sábado, 6 de novembro de 2010
Zeca Baleiro e Guilherme Tadeu
O cantor Zeca Baleiro e o meu filho Guilherme Tadeu de Paula, que faz mestrado em Ciências Sociais na Federal de São Paulo. Foto do dia 18 de outubro passado, quando o compositor e cantor apresentou as músicas dos seus dois novos trabalhos, "Trilhas" e "Concertos", evento (grátis, na faixa, é só enviar o nome com antecedência) da Saraiva Megastore e Livraria Cultura, no Shopping Center Iguatemi, em Campinas. Guilherme definiu Zeca como a humildade em pessoa. O cantor de "Babylon", "Canhoteiro" e "Lenha" disse que tem ótimas recordações da Cidade Canção.
terça-feira, 25 de agosto de 2009
É glória, é Deus
Estradas pontilhadas de luz
Mas, pés descalços, percalços
A cruz
Caminhadas cansadas, o dia-a-dia
Tempo de tédio, outros remédios
A idolatria
Tentações, privações, céu cinzento
Sem horizontes, sem pontes
O lamento
Sacrifícios, ossos do ofício, a dor
Mas, a vêm a confiança, a esperança
O amor
Dores e dissabores agora se vão
Hoje é a fé presente, premente
O perdão
O pecado é passado, adeus
Agora é outra história, é glória
É Deus
(Em 2006, minha amiga Taís Santana me pediu uma música para cantar na sua Igreja. A jornalista, radialista e apresentadora de tevê Taís é católica e ligada à Renovação Carismática. Fiz a letra acima e o Cláudio Viola ficou de fazer a melodia. Transcorridos mais de três anos, continuamos esperando. Caso alguém se interesse em pôr melodia nestes simples versos, fique à vontade. A expectativa é a de que, depois deste recado, o brilhante amigo, compositor e jornalista Viola tome coragem e faça sua parte.)
Mas, pés descalços, percalços
A cruz
Caminhadas cansadas, o dia-a-dia
Tempo de tédio, outros remédios
A idolatria
Tentações, privações, céu cinzento
Sem horizontes, sem pontes
O lamento
Sacrifícios, ossos do ofício, a dor
Mas, a vêm a confiança, a esperança
O amor
Dores e dissabores agora se vão
Hoje é a fé presente, premente
O perdão
O pecado é passado, adeus
Agora é outra história, é glória
É Deus
(Em 2006, minha amiga Taís Santana me pediu uma música para cantar na sua Igreja. A jornalista, radialista e apresentadora de tevê Taís é católica e ligada à Renovação Carismática. Fiz a letra acima e o Cláudio Viola ficou de fazer a melodia. Transcorridos mais de três anos, continuamos esperando. Caso alguém se interesse em pôr melodia nestes simples versos, fique à vontade. A expectativa é a de que, depois deste recado, o brilhante amigo, compositor e jornalista Viola tome coragem e faça sua parte.)
sexta-feira, 31 de julho de 2009
Excitação poética em fim de tarde
Senta
Uma perna
Em cima da outra
Graciosa
Estica o braço
Levanta um dedo
Sobe a blusa
O umbigo toma a cena
Cenário lusco-fusco
Ocupando o corpo queimado
Lá se vai a tarde
Refrigerante na metade
Vai-e-vem dos quadris
Olhos pra frente
Arrogância instalada
Transpondo a porta
Ganhando a rua
Nada mais é preciso
Fim do dia
Outra cerveja
E a certeza
De que ela virou poesia
Uma perna
Em cima da outra
Graciosa
Estica o braço
Levanta um dedo
Sobe a blusa
O umbigo toma a cena
Cenário lusco-fusco
Ocupando o corpo queimado
Lá se vai a tarde
Refrigerante na metade
Vai-e-vem dos quadris
Olhos pra frente
Arrogância instalada
Transpondo a porta
Ganhando a rua
Nada mais é preciso
Fim do dia
Outra cerveja
E a certeza
De que ela virou poesia
(ARP - publicado no livro V Coletânea - Academia de Letras de Maringá - junho 2009)
terça-feira, 28 de julho de 2009
O Deus dos desgarrados
O Deus daquela igreja parece maior do que o da minha, mais forte e poderoso. Os milagres de lá devem ser mais completos do que os de cá. Acho que a salvação de lá é mais completa. Imagino que lá os pecados são todos perdoados. A alma se transforma em puro linho branco. Os meus irmãos daquele lado têm a alma alva e o espírito iluminado. Devem ter obtido a senha para chegar ao céu. Já estão no paraíso enquanto fazem um pitstop na terra.
Aqui, neste canto, fico preocupado em saber a quantas anda minhas possibilidades de ser salvo. Pergunto se entrei na igreja certa. Tive tantas escolhas depois de moço, tantas chances de me encontrar e outras tantas para me perder. Tive motivações e desânimos, e nesta soma restou um olhar interrogativo.
Passaram verões, invernos e estações gerais, vieram feridas e cicatrizes, cortes leves que a manhã seguinte curou, cortes profundos que o cair da noite intensificou, sons providenciais e silêncios apavorantes. E passam os dias pelo vão dos dedos. Velozes dias, as horas não podem ser controladas e a impotência para mudar torna a angústia mais poderosa. Então vou para dentro de mim, me enxergar entre o turbilhão e a calmaria.
Agora estou numa igreja onde parece reinar a paz. Aqui as pessoas sentam-se comportadas, viram o rosto lentamente, murmuram orações com os dedos cruzados. Todos tão serenos ou só estão fazendo de conta? No interior delas, tempestades podem estar em formação ou prontas a irromper. Tiro o olhar dos outros e me concentro no altar, no homem cingido por Deus para ser o condutor das ovelhas unidas, perdidas e desgarradas.
Então, ele levanta os braços e com a voz transbordante de amor e fé, o representante divino, com procuração atualizada para me salvar, pelo menos é o que acho, diz palavras reconfortantes, animadoras. Meu envolvimento é tal que nos próximos segundos vou acreditar nas suas versões sobre harmonia terrena e salvação eterna. Mas logo começo a duvidar dele e da minha capacidade de entrar no seleto grupo da serenidade.
São muitas as portas e são muitas as dúvidas. Mas quero participar. De pé, mãos para cima, com os olhos fechados e a boca aberta entoando o refrão de um salmo, entro numa fase catártica e sinto que o meu corpo e alma estão sendo purificados.
O homem de Deus consegue me transportar para o campo das ovelhas unidas, daquelas que compreendem. Para a voz, para o cântico, ovelhas dispersando-se. E eu, desgarrado, de volta para a rua. Vêm as horas sem controle, a angústia comportada. Como será que a gente consegue a tal senha?
(Antonio Roberto de Paula - Texto publicado no jornal O Diário do Norte do Paraná, dia 9 de março de 2008)
Aqui, neste canto, fico preocupado em saber a quantas anda minhas possibilidades de ser salvo. Pergunto se entrei na igreja certa. Tive tantas escolhas depois de moço, tantas chances de me encontrar e outras tantas para me perder. Tive motivações e desânimos, e nesta soma restou um olhar interrogativo.
Passaram verões, invernos e estações gerais, vieram feridas e cicatrizes, cortes leves que a manhã seguinte curou, cortes profundos que o cair da noite intensificou, sons providenciais e silêncios apavorantes. E passam os dias pelo vão dos dedos. Velozes dias, as horas não podem ser controladas e a impotência para mudar torna a angústia mais poderosa. Então vou para dentro de mim, me enxergar entre o turbilhão e a calmaria.
Agora estou numa igreja onde parece reinar a paz. Aqui as pessoas sentam-se comportadas, viram o rosto lentamente, murmuram orações com os dedos cruzados. Todos tão serenos ou só estão fazendo de conta? No interior delas, tempestades podem estar em formação ou prontas a irromper. Tiro o olhar dos outros e me concentro no altar, no homem cingido por Deus para ser o condutor das ovelhas unidas, perdidas e desgarradas.
Então, ele levanta os braços e com a voz transbordante de amor e fé, o representante divino, com procuração atualizada para me salvar, pelo menos é o que acho, diz palavras reconfortantes, animadoras. Meu envolvimento é tal que nos próximos segundos vou acreditar nas suas versões sobre harmonia terrena e salvação eterna. Mas logo começo a duvidar dele e da minha capacidade de entrar no seleto grupo da serenidade.
São muitas as portas e são muitas as dúvidas. Mas quero participar. De pé, mãos para cima, com os olhos fechados e a boca aberta entoando o refrão de um salmo, entro numa fase catártica e sinto que o meu corpo e alma estão sendo purificados.
O homem de Deus consegue me transportar para o campo das ovelhas unidas, daquelas que compreendem. Para a voz, para o cântico, ovelhas dispersando-se. E eu, desgarrado, de volta para a rua. Vêm as horas sem controle, a angústia comportada. Como será que a gente consegue a tal senha?
(Antonio Roberto de Paula - Texto publicado no jornal O Diário do Norte do Paraná, dia 9 de março de 2008)
segunda-feira, 20 de julho de 2009
Crianças, poesia e a caderneta
Dia desses fiz uma poesia para as crianças. Versos simples, saídos quase que por acaso. Muitas vezes escrevo e imagino alguém cantando ou declamando, enfim, pondo vida às letras inertes ordenadas no papel. A poesia virou música numa melodia que eu inventei naquele instante e, conforme cantarolava, fui perdendo o ritmo até me pegar declamando bem baixinho para ninguém escutar.
Fiz a pequena poesia na caderneta que ganhei uns dois anos atrás do Burzega. Aliás, a ideia da caderneta como brinde é genial. Demora acabar com ela. Enquanto isto, você vai carregando a caderneta Burzega – Image Achievement para baixo e para cima, escrevendo de tudo nela.
Pois bem, estava eu num dia desses de outubro, sentado num banco, esperando não lembro quem ou o quê, quando me pus a pensar nas crianças. Vejo crianças uniformizadas, dos 7 aos 10 anos quase todos os dias. Uma das maravilhas da vida é vê-las saindo da escola. Elas espalham alegria ao irromper o portão. Ficam quatro horas retidas e ao sair botam para fora todo o prazer de se ver livres. Correm, pulam, conversam alto, gritam...
Pensava eu nas crianças, lembrava do meu filho que já passou dos 20 anos. Eu o via pequeno, de uniforme, fazendo igual a esta molecada que entra em ebulição após o toque da sirene anunciando o final das aulas. Peguei a caneta e a caderneta e fui escrevendo sobre a vida delas, dos caminhos a percorrer. E pensava sem tristeza e escrevia com satisfação porque as crianças têm o direito a todas as alegrias possíveis.
Evitava pensar nas crianças que sofrem. Embarquei numa nau deixando os sonhos ruins no fundo do mar ou fiz com que eles se diluíssem na névoa. Para elas, criei um mundo com couraça contra a dor e acreditei na boa esperança. Desviei da crueldade, criei horizontes de paz para que elas pudessem sempre levar o sorriso puro. E o vento levava um canto feliz que chegava a todos os lugares.
Abri o sol muitas vezes para iluminar os corações dos homens. Depois vinha a lua testemunhar o adormecer dos pequenos. E a alegre viagem seguia sem fim. Eu era um anjo da guarda, guardando os caminhos e abrindo clareiras. Pensava em tantas crianças. Em tantos adultos também, naqueles que carregam pela vida o espírito delas, os tais eternas crianças.
Devido às limitações da veia poética, reduzi a fantasia a estes versos que estão lá na caderneta: Que faça bom tempo/Aqui, por aí e por lá/Relógio num passeio lento/Muitos sóis ainda a clarear/E a lua, luz, prata pura/Nas noites repletas e vãs/Outra parceira na aventura/Preparando novas manhãs.
(Antonio Roberto de Paula - Publicado no jornal O Diário do Norte do Paraná, dia 28 de outubro de 2007)
Fiz a pequena poesia na caderneta que ganhei uns dois anos atrás do Burzega. Aliás, a ideia da caderneta como brinde é genial. Demora acabar com ela. Enquanto isto, você vai carregando a caderneta Burzega – Image Achievement para baixo e para cima, escrevendo de tudo nela.
Pois bem, estava eu num dia desses de outubro, sentado num banco, esperando não lembro quem ou o quê, quando me pus a pensar nas crianças. Vejo crianças uniformizadas, dos 7 aos 10 anos quase todos os dias. Uma das maravilhas da vida é vê-las saindo da escola. Elas espalham alegria ao irromper o portão. Ficam quatro horas retidas e ao sair botam para fora todo o prazer de se ver livres. Correm, pulam, conversam alto, gritam...
Pensava eu nas crianças, lembrava do meu filho que já passou dos 20 anos. Eu o via pequeno, de uniforme, fazendo igual a esta molecada que entra em ebulição após o toque da sirene anunciando o final das aulas. Peguei a caneta e a caderneta e fui escrevendo sobre a vida delas, dos caminhos a percorrer. E pensava sem tristeza e escrevia com satisfação porque as crianças têm o direito a todas as alegrias possíveis.
Evitava pensar nas crianças que sofrem. Embarquei numa nau deixando os sonhos ruins no fundo do mar ou fiz com que eles se diluíssem na névoa. Para elas, criei um mundo com couraça contra a dor e acreditei na boa esperança. Desviei da crueldade, criei horizontes de paz para que elas pudessem sempre levar o sorriso puro. E o vento levava um canto feliz que chegava a todos os lugares.
Abri o sol muitas vezes para iluminar os corações dos homens. Depois vinha a lua testemunhar o adormecer dos pequenos. E a alegre viagem seguia sem fim. Eu era um anjo da guarda, guardando os caminhos e abrindo clareiras. Pensava em tantas crianças. Em tantos adultos também, naqueles que carregam pela vida o espírito delas, os tais eternas crianças.
Devido às limitações da veia poética, reduzi a fantasia a estes versos que estão lá na caderneta: Que faça bom tempo/Aqui, por aí e por lá/Relógio num passeio lento/Muitos sóis ainda a clarear/E a lua, luz, prata pura/Nas noites repletas e vãs/Outra parceira na aventura/Preparando novas manhãs.
(Antonio Roberto de Paula - Publicado no jornal O Diário do Norte do Paraná, dia 28 de outubro de 2007)
quarta-feira, 8 de julho de 2009
O papel na história
No final do ano passado, o amigo Rogério Recco me convidou para que escrevêssemos o livro sobre este O Diário, jornal que comemorou 35 anos no último dia 29. Depois de meses de pesquisas e entrevistas, o trabalho ficou pronto. Depois de folhearmos milhares de páginas, anotar, fotografar e conversar com muita gente, o livro foi publicado.
Ninguém sai incólume depois de mergulhar intensamente no passado, como fizemos. Por mais que se queira manter o providencial distanciamento para não se deixar influenciar por determinados episódios, não é possível ficar alheio. Também não é possível simplesmente esquecer e entrar em outro trabalho como se nada tivesse acontecido. Você sai fortalecido. E incomodado, querendo contar indefinidamente esta e outras histórias.
Para quem acompanha a vida desta cidade, desde que os jipes rodavam sobre a terra e depois sobre os paralelepípedos do centro, como é o nosso caso, escrever a história destas três décadas e meia de O Diário foi como fazer um retorno. O jornal viveu e vive esta pauta chamada Maringá.
O que fizemos foi entrar num imenso pomar e arrancar as frutas mais belas e saborosas. Se outros entrarem, certamente vão fazer escolhas diferentes porque gostos, emoções, experiências mudam de pessoa para pessoa. Procuramos agir com isenção na definição da retrospectiva, como de fato deve ser, mas o coração também teve sua parcela de participação. E é muito bom que seja assim.
O livro é o produto final e é gratificante ter ajudado a concebê-lo. Contudo, tão importante quanto à publicação foi a trilha percorrida para se chegar até ele. Enquanto montávamos essa linha do tempo escrita e fotografada pelo O Diário, pudemos perceber de forma cristalina as transformações da cidade, as mudanças no comportamento, os detalhes de cada época, as vitórias e os ocasos, a dinâmica do poder em todas as áreas. O Diário buscou ser espelho deste tempo, intérprete desta história e agente propagador da cidade.
Mais do que milhares de edições arquivadas, a história viva do jornal está nos depoimentos de Frank Silva, este intrépido rapaz que foi quebrando as pedras que encontrava no caminho até conseguir edificar um sonho, está na sua família, nos demais diretores, nos atuais e ex-funcionários.
Por meio do Frank, dos que estão na ativa e dos que passaram pelo O Diário, o Rogério e eu demos um divertido e inquietante passeio pelo passado. Cada personagem, à sua maneira, contribuiu para contar essa história. Uma história que vem sendo escrita em cada edição.
(Antonio Roberto de Paula - Texto publicado no jornal O Diário do Norte do Paraná, dia 5 de julho de 2009)
Ninguém sai incólume depois de mergulhar intensamente no passado, como fizemos. Por mais que se queira manter o providencial distanciamento para não se deixar influenciar por determinados episódios, não é possível ficar alheio. Também não é possível simplesmente esquecer e entrar em outro trabalho como se nada tivesse acontecido. Você sai fortalecido. E incomodado, querendo contar indefinidamente esta e outras histórias.
Para quem acompanha a vida desta cidade, desde que os jipes rodavam sobre a terra e depois sobre os paralelepípedos do centro, como é o nosso caso, escrever a história destas três décadas e meia de O Diário foi como fazer um retorno. O jornal viveu e vive esta pauta chamada Maringá.
O que fizemos foi entrar num imenso pomar e arrancar as frutas mais belas e saborosas. Se outros entrarem, certamente vão fazer escolhas diferentes porque gostos, emoções, experiências mudam de pessoa para pessoa. Procuramos agir com isenção na definição da retrospectiva, como de fato deve ser, mas o coração também teve sua parcela de participação. E é muito bom que seja assim.
O livro é o produto final e é gratificante ter ajudado a concebê-lo. Contudo, tão importante quanto à publicação foi a trilha percorrida para se chegar até ele. Enquanto montávamos essa linha do tempo escrita e fotografada pelo O Diário, pudemos perceber de forma cristalina as transformações da cidade, as mudanças no comportamento, os detalhes de cada época, as vitórias e os ocasos, a dinâmica do poder em todas as áreas. O Diário buscou ser espelho deste tempo, intérprete desta história e agente propagador da cidade.
Mais do que milhares de edições arquivadas, a história viva do jornal está nos depoimentos de Frank Silva, este intrépido rapaz que foi quebrando as pedras que encontrava no caminho até conseguir edificar um sonho, está na sua família, nos demais diretores, nos atuais e ex-funcionários.
Por meio do Frank, dos que estão na ativa e dos que passaram pelo O Diário, o Rogério e eu demos um divertido e inquietante passeio pelo passado. Cada personagem, à sua maneira, contribuiu para contar essa história. Uma história que vem sendo escrita em cada edição.
(Antonio Roberto de Paula - Texto publicado no jornal O Diário do Norte do Paraná, dia 5 de julho de 2009)
quarta-feira, 1 de julho de 2009
Os altos e baixos da vida
- E aquele serviço da pintura?
- Não deu certo. Tenho alergia.
- Tá brincando? Você tem alergia a tinta?
- Tenho, mas não fui no médico. Não sei se é a tinta ou outro material.
- Que maré este ano, hein?
- É, primeiro a firma faliu. Depois, levei balão do Inácio no negócio das capinhas de celular. Agora, a alergia...
- E o que você tá pensando em fazer?
- Pô, você quer saber tudo? Interrogatório agora?
- Desculpa. Só tava querendo ajudar.
- Desculpa eu, cara. É que tem dia que não é fácil.
- Comigo, a coisa tá clareando.
- Legal. Quitou o terreno?
- Quitadinho. Vou parcelar o material de construção. Devagar. Nem que eu leve um ano para terminar a obra.
- Enquanto isso a sogra te agüenta na casa dela...
- Ela gosta de mim. Dá a maior força. Diz que eu sou o filho que ela não teve. Gente boa tá aí.
- Sei, sei. E você vai ficando. Acertou na mulher e na sogra. Parabéns.
- Ela diz assim: “O Vadinho pode ficar aqui o tempo que quiser.” Aí a minha mulher fala: “Mas, mãe, a gente tem que ter o nosso cantinho!” Aí a sogrinha retruca: “Aqui tem espaço prum cantinho de nós três.” Então me esparramo no sofá e me divirto.
- Que forga, hein veio?
- É, mas não esquenta. Qualquer hora dessa você se acerta com uma mulher e um trampo bom. O que você tá pensando em fazer?
- Tô cansado de fazer bico. Tá pintando um negócio fixo.
- Qual?
- Promete não comentar com ninguém? Se começa a falar, acaba gorando.
- Prometo. Que trabalho é esse?
- Um primo meu tá vendo um serviço de segurança.
- O quê?
- É, segurança. Registro em carteira, hora extra e tudo mais. Segurança em casa noturna, shows, essas coisas.
- Você deve tá brincando...
- Não, não tô não. Por quê?
- Pô, cara, me desculpe falar, mas você não tem corpo nem tamanho pra segurança.
- Como não!! Tenho quase 1 metro e 70.
- Fala a verdade.
- Tá, 1 metro e 62. Mas acho que sou um cara forte. E pra ficar mais alto tem uns sapatos com a sola grossa, dá um ganho de uns 5 centímetros.
- Não tô querendo te desanimar, mas acho que você não vai conseguir este emprego.
- Você acha mesmo?
- Acho. Neste serviço você precisa se impor. E com este físico, se der confusão, você vai ser o primeiro a correr.
- Putz, eu tava tão animado, já me imaginando de terno preto, camisa preta, gravata preta, barba feita, gel no cabelo...
- Vou chegar aí, Adão. Abração.
- Vai com Deus, gigante. Sortudo de uma figa. O cara tem sorte com mulher, sogra e serviço. E quase 2 metros de altura. Vou comprar um sapato daqueles, igual ao do Zezé di Camargo, fazer um curso, ver umas roupas, musculação, ir pra noite, conhecer umas minas... Pintor de rodapé o cacete!
(Antonio Roberto de Paula - Texto publicado no jornal O Diário do Norte do Paraná, dia 20 de janeiro de 2008)
- Não deu certo. Tenho alergia.
- Tá brincando? Você tem alergia a tinta?
- Tenho, mas não fui no médico. Não sei se é a tinta ou outro material.
- Que maré este ano, hein?
- É, primeiro a firma faliu. Depois, levei balão do Inácio no negócio das capinhas de celular. Agora, a alergia...
- E o que você tá pensando em fazer?
- Pô, você quer saber tudo? Interrogatório agora?
- Desculpa. Só tava querendo ajudar.
- Desculpa eu, cara. É que tem dia que não é fácil.
- Comigo, a coisa tá clareando.
- Legal. Quitou o terreno?
- Quitadinho. Vou parcelar o material de construção. Devagar. Nem que eu leve um ano para terminar a obra.
- Enquanto isso a sogra te agüenta na casa dela...
- Ela gosta de mim. Dá a maior força. Diz que eu sou o filho que ela não teve. Gente boa tá aí.
- Sei, sei. E você vai ficando. Acertou na mulher e na sogra. Parabéns.
- Ela diz assim: “O Vadinho pode ficar aqui o tempo que quiser.” Aí a minha mulher fala: “Mas, mãe, a gente tem que ter o nosso cantinho!” Aí a sogrinha retruca: “Aqui tem espaço prum cantinho de nós três.” Então me esparramo no sofá e me divirto.
- Que forga, hein veio?
- É, mas não esquenta. Qualquer hora dessa você se acerta com uma mulher e um trampo bom. O que você tá pensando em fazer?
- Tô cansado de fazer bico. Tá pintando um negócio fixo.
- Qual?
- Promete não comentar com ninguém? Se começa a falar, acaba gorando.
- Prometo. Que trabalho é esse?
- Um primo meu tá vendo um serviço de segurança.
- O quê?
- É, segurança. Registro em carteira, hora extra e tudo mais. Segurança em casa noturna, shows, essas coisas.
- Você deve tá brincando...
- Não, não tô não. Por quê?
- Pô, cara, me desculpe falar, mas você não tem corpo nem tamanho pra segurança.
- Como não!! Tenho quase 1 metro e 70.
- Fala a verdade.
- Tá, 1 metro e 62. Mas acho que sou um cara forte. E pra ficar mais alto tem uns sapatos com a sola grossa, dá um ganho de uns 5 centímetros.
- Não tô querendo te desanimar, mas acho que você não vai conseguir este emprego.
- Você acha mesmo?
- Acho. Neste serviço você precisa se impor. E com este físico, se der confusão, você vai ser o primeiro a correr.
- Putz, eu tava tão animado, já me imaginando de terno preto, camisa preta, gravata preta, barba feita, gel no cabelo...
- Vou chegar aí, Adão. Abração.
- Vai com Deus, gigante. Sortudo de uma figa. O cara tem sorte com mulher, sogra e serviço. E quase 2 metros de altura. Vou comprar um sapato daqueles, igual ao do Zezé di Camargo, fazer um curso, ver umas roupas, musculação, ir pra noite, conhecer umas minas... Pintor de rodapé o cacete!
(Antonio Roberto de Paula - Texto publicado no jornal O Diário do Norte do Paraná, dia 20 de janeiro de 2008)
segunda-feira, 22 de junho de 2009
Sem tempo para amanhã
Lula voa. Na última imagem dele na mídia, apareceu vestido com um casaco típico do Cazaquistão. Daqui uns dias, o presidente aparece no Alasca trajado de esquimó com aquele sorriso “eu sou o cara”, feito selo comemorativo dos 80% de popularidade.
Roberto Carlos canta pelo Brasil festejando seus 50 anos de carreira embalando corações. Se chorou ou se sorriu, o importante é que emoções o Rei viveu.
Roberto Carlos canta pelo Brasil festejando seus 50 anos de carreira embalando corações. Se chorou ou se sorriu, o importante é que emoções o Rei viveu.
O Rio quer sediar a Olimpíada de 2016. O Rio de Janeiro continua lindo e seus governantes vão à Suíça defender a candidatura da cidade. E os projetos sociais agonizam.
A criminalidade transpassa o corpo da Cidade Maravilhosa, atinge os órgãos vitais e faz do coração placa de tiro ao alvo. Cheia de enganos mil, coração do Brasil.
Ronaldo Fenômeno, o obeso carismático, faz história no Timão para o deleite do bando de loucos e o olhar atravessado dos outros bandos que acharam que ele era mais uma piada pronta de corintiano.
Os telejornais dão as notícias. As mesmas e com o mesmo estilo. É preciso dar voz ao personagem, pôr emoção no vídeo, amarrar uma história em um minuto ou dois e chamar o comercial.
O planeta inova todo dia sem sair do lugar. O mundo passa na tevê e amanhã começa tudo de novo. Todos os continentes mostrando a cara no toque do controle remoto. Os povos em desfile no retângulo da televisão. O céu é dos aviões. Os homens seguem. Com ou sem turbulência. O Atlântico é só um detalhe e a tragédia é um dado a mais na história.
Padre Marcelo Rossi parece que parou de declamar durante as músicas. Agora, a Igreja Católica ataca, perdão, agrega com o Padre Fábio de Melo, que mostra voz afinada e guarda-roupa de modelo. E Aline Barros expande suas belas canções além dos templos evangélicos. O mundo canta de tudo e, graças a Deus, há espaço para Deus.
A violência está nas esquinas, no asfalto e nas casas. Milênio sangrento amparado no destemor, na intolerância e na descrença. Os líderes mundiais se reúnem em grandes e iluminados salões. A paz está na pauta, mas longe das mentes, que preferem comandar outros interesses. Os corações do bem tentam equilibrar o mundo.
Os hospitais estão lotados, filas moribundas se arrastam, os políticos continuam dando de ombros. O STF jogou no lixo o meu diploma de jornalista. Será que a Gisele Bundchen está grávida? Dilma e Serra monopolizam.
A gripe suína, as pragas gerais. As drogas de todos os tipos e teores viciando a humanidade, a Amazônia está virando pasto, a internet deixou o mundo na palma da mão. A vida passa. Tudo em tempo real. Sem amanhã. E a gente vai se equilibrando.
(Antonio Roberto de Paula - Texto publicado no jornal O Diário do Norte do Paraná, dia 21 de junho de 2009)
quarta-feira, 17 de junho de 2009
O mundo é um outdoor
Os outdoors me perseguem, me cobram e querem me deixar em baixo-estima. Impossível passar indiferente por aquelas enormes placas que anunciam de tudo: jeans, camisas, ternos, cama, mesa e banho, carros, shows, perfumes, eletroeletrônicos, computadores, motéis, advogados, cursos, relógios, excursões, celulares, operadoras, calçados, lojas e shoppings... Ofertas, promoções, descontos, prazos, sorteios, cheques pré...
Os outdoors mudam de cara toda semana. Novas marcas e tipos surgem nos retângulos espalhados na zona central e nas entradas da cidade. O Novo Centro de Maringá se tornou o oásis dos outdoors. Enquanto não se completam as construções daquela nobríssima área, os terrenos vagos vão sendo ocupados pelas gigantes propagandas.
Entre as que se destacam, que há algum tempo não é reformado, para a alegria geral masculina, é a do anúncio de uma empresa de lingerie. Uma mulher de calcinha e sutiã tomando todo o espaço. Um democrático espaço de visualização, pois enquanto as mulheres analisam as peças, a gente analisa como as peças ficam na moça.
Voltando aos outdoors mutáveis. Quanto mais olho para eles, mais eu me sinto fora do que está contextualizado ou do que é proposto a ser. Olho para a marca e o estilo do meu relógio e não são aqueles em exposição. Gosto de sapatos, talvez a única extravagância que faço na vida é comprá-los além do que permite minhas irrisórias posses.
Mas nos outdoors não vejo nenhum modelo parecido com meus pares. Não consigo acompanhar as tendências. Olho para os que estou calçando e percebo uma defasagem de pelo menos uns três anos.
Nada demais. É só seguir que logo a próxima propaganda vai fazer com que eu me esqueça desta. Vem mais uma cobrança. “Você tem que ser mais e melhor”. Recebo o aviso. Melhor: assimilo o golpe. O bom de ter uma certa idade é que você não veste todas as carapuças que lhe oferecem. Se eu não fizer o tal curso, não dirigir o tal carro e não viajar para tal lugar, minha vida vai seguir. Então, que ela siga sem eles. Mas, convenhamos, dá uma vontade de fazer o tal curso, dirigir o tal carro e viajar para tal lugar. Ah, isso dá.
É o poder da propaganda, que tem a precípua função de nos informar que a gente pode ter acesso ao mundo dos felizes, belos, simpáticos, saudáveis e bem sucedidos seres. Mas que, por mais que se esforce, você nunca vai estar inteiramente dentro. Sempre faltará algo. Então, lancemos mão da reconfortante frase do francês George-Louis Leclerc, o Conde de Buffon (1707-1788): “O estilo é o próprio homem”.
(Antonio Roberto de Paula - publicado no jornal O Diário do Norte do Paraná, dia 26 de agosto de 2007)
Os outdoors mudam de cara toda semana. Novas marcas e tipos surgem nos retângulos espalhados na zona central e nas entradas da cidade. O Novo Centro de Maringá se tornou o oásis dos outdoors. Enquanto não se completam as construções daquela nobríssima área, os terrenos vagos vão sendo ocupados pelas gigantes propagandas.
Entre as que se destacam, que há algum tempo não é reformado, para a alegria geral masculina, é a do anúncio de uma empresa de lingerie. Uma mulher de calcinha e sutiã tomando todo o espaço. Um democrático espaço de visualização, pois enquanto as mulheres analisam as peças, a gente analisa como as peças ficam na moça.
Voltando aos outdoors mutáveis. Quanto mais olho para eles, mais eu me sinto fora do que está contextualizado ou do que é proposto a ser. Olho para a marca e o estilo do meu relógio e não são aqueles em exposição. Gosto de sapatos, talvez a única extravagância que faço na vida é comprá-los além do que permite minhas irrisórias posses.
Mas nos outdoors não vejo nenhum modelo parecido com meus pares. Não consigo acompanhar as tendências. Olho para os que estou calçando e percebo uma defasagem de pelo menos uns três anos.
Nada demais. É só seguir que logo a próxima propaganda vai fazer com que eu me esqueça desta. Vem mais uma cobrança. “Você tem que ser mais e melhor”. Recebo o aviso. Melhor: assimilo o golpe. O bom de ter uma certa idade é que você não veste todas as carapuças que lhe oferecem. Se eu não fizer o tal curso, não dirigir o tal carro e não viajar para tal lugar, minha vida vai seguir. Então, que ela siga sem eles. Mas, convenhamos, dá uma vontade de fazer o tal curso, dirigir o tal carro e viajar para tal lugar. Ah, isso dá.
É o poder da propaganda, que tem a precípua função de nos informar que a gente pode ter acesso ao mundo dos felizes, belos, simpáticos, saudáveis e bem sucedidos seres. Mas que, por mais que se esforce, você nunca vai estar inteiramente dentro. Sempre faltará algo. Então, lancemos mão da reconfortante frase do francês George-Louis Leclerc, o Conde de Buffon (1707-1788): “O estilo é o próprio homem”.
(Antonio Roberto de Paula - publicado no jornal O Diário do Norte do Paraná, dia 26 de agosto de 2007)
sexta-feira, 12 de junho de 2009
Aqueles quintais e pomares
Lamento que estas crianças que vejo agora, correndo felizes e por este parquinho de brinquedos sem graça não tenham a oportunidade de subir numa goiabeira, num pé de abacate ou de manga. Acho que nunca vão ter.
Eram extensos os quintais, nada de cimento. Terra batida do começo até o fundo com muitas árvores. Verdadeiros pomares. Pés de manga, abacate, goiaba, jabuticaba, laranja e pêssego. As frutas quase não tinham tempo de amadurecer porque moleque não tem tempo a perder. Comer fruta verde com sal até que era bom. No terrão, a bola suja com a câmara de ar à mostra rolava sem parar, chutada por meninos apressados que não sabiam o que era cansaço.
Os quintais da minha infância sempre foram enormes. Se os visse agora seriam bem menores do que o meu olhar infantil. Reparou que quando a gente era criança tudo parecia grande? Móveis, objetos, o pai e a mãe, ruas, calçadas, carros, árvores e quintais.
O olhar de um garoto fica um pouco acima do nível de uma mesa e da cintura dos pais, na altura das mãos que afagam e também das que puxam a orelha. Para ele, são sempre altos os muros e as grades, as pessoas, os animais e as casas, longos caminhos.
As árvores eram gigantes. Bom era subir numa mangueira, a melhor das árvores, nem tanto pelo fruto, mais pelos galhos fortes, bem distribuídos e sem espinhos. E no alto, um ótimo esconderijo. Quanto à goiabeira, seus galhos são finos e resistentes, mas em dias de chuva convém não arriscar, pois ficam lisos feitos sabonete. Os abacateiros, de tão fáceis de subir, até as meninas conseguiam.
Eram extensos os quintais, nada de cimento. Terra batida do começo até o fundo com muitas árvores. Verdadeiros pomares. Pés de manga, abacate, goiaba, jabuticaba, laranja e pêssego. As frutas quase não tinham tempo de amadurecer porque moleque não tem tempo a perder. Comer fruta verde com sal até que era bom. No terrão, a bola suja com a câmara de ar à mostra rolava sem parar, chutada por meninos apressados que não sabiam o que era cansaço.
Os quintais não tinham divisões. A gente atravessava de um para outro e ninguém proibia. Agora, puxando o fio das reminiscências, do lado de fora daquele mundo, percebo que a gente fazia parte de uma numerosa família com várias casas e um só quintal. Moleques de todas as caras e cores com a imperativa missão de se divertir. As árvores eram eternas assim como aqueles moleques, os nossos pais, os outros pais, nossos irmãos...
As árvores não seriam derrubadas, os quintais não seriam invadidos pelo concreto, nossos pais ficariam a vida inteira afagando nossos cabelos e puxando nossa orelha, nossos amigos, num átimo, subiriam na alta goiabeira, nossos irmãos ficariam na mesma casa de sempre e a gente não perderia aquele brilho que estampava curiosidade em cada olhar.
Estas crianças que vejo agora, correndo felizes, suadas e coradas no parquinho, iam gostar muito de pôr o pé na terra, tomar chuva e subir em árvores. Os filhos delas, quem sabe, vão poder.Basta não esquecer como era.
(Antonio Roberto de Paula - texto publicado no jornal O Diário do Norte do Paraná, dia 12 de agosto de 2007)
segunda-feira, 1 de junho de 2009
O coletor de histórias
No seu jeito dissimulado, acho que querendo esconder, mas sem conseguir, uma grandiosa timidez, Reginaldo Benedito Dias chega trazendo o seu novo livro “Da arte de votar e ser votado”.
Sempre preparado para todas as discussões possíveis, mantendo o nível, o tom pausado, mas com a verve proporcional à crença no que diz, fruto da confiança adquirida pelo que ouviu, viu e pesquisou, Reginaldo Benedito Dias chega para, novamente, distribuir casos e causos.
Ele chega sempre sem muito alarde. As portas vão se abrindo naturalmente. Como existe a figura do “espalha roda”, existe gente como este professor-doutor-escritor que agrupa, soma, junta rodas dos mais variados matizes.
Reginaldo desperta nas pessoas a necessidade de falar, de debater intrincadas questões políticas e históricas ou prosaicos acontecimentos do dia-a-dia. Entre os alunos, os companheiros de partido, os colegas de outras siglas e os amigos de uma roda de bar, esse professor está sempre pronto para comentar o que vier a ser o tema.
Então, entram neste desfile o desempenho do Fenômeno no Corinthians, as conquistas e derrocadas petistas, o cotidiano da cidade, músicas, filmes, livros, as piadas oras sutis ora sem a mínima graça. E volta e meia inserindo comentários sobre sua maior riqueza: a filhinha.
Um escritor acima das ideologias, que sabe a importância de destinar o devido valor na história a quem merece, independente do posicionamento político ou partidário. Foi assim que Reginaldo Benedito Dias conquistou a credibilidade nas publicações.
Dias chega com seu livro sobre a política de Maringá para marcar mais um ponto na história da cidade. Ele é o escrevinhador do eterno resgate, o que vive a buscar acontecimentos, tirando-os de tantas memórias para juntá-las numa publicação. Focando os mais variados episódios que construíram e constroem a vida política da Cidade Canção, ele joga luz sobre as personalidades com a devida participação de cada um no processo histórico.
Ao mesmo tempo em que clareia estes caminhos de mais de 60 anos, possibilitando que os jovens saibam como ocorreu a formação do Município, faz com que os maringaenses de décadas aflorem suas lembranças, exercitem suas saudades e se sintam, de alguma forma, partícipes desta construção.
Ao juntá-las numa obra séria, organizada e criativa, Reginaldo pereniza as ocorrências e homenageia seus autores. Pela paixão à cidade e pelo prazer em pesquisar, o trabalho deste coletor de histórias não tem fim. A cidade vai fazendo história e ele vive a persegui-la com seu olhar.
(Antonio Roberto de Paula - Texto publicado no jornal O Diário do Norte do Paraná, dia 31 de maio de 2009)
Sempre preparado para todas as discussões possíveis, mantendo o nível, o tom pausado, mas com a verve proporcional à crença no que diz, fruto da confiança adquirida pelo que ouviu, viu e pesquisou, Reginaldo Benedito Dias chega para, novamente, distribuir casos e causos.
Ele chega sempre sem muito alarde. As portas vão se abrindo naturalmente. Como existe a figura do “espalha roda”, existe gente como este professor-doutor-escritor que agrupa, soma, junta rodas dos mais variados matizes.
Reginaldo desperta nas pessoas a necessidade de falar, de debater intrincadas questões políticas e históricas ou prosaicos acontecimentos do dia-a-dia. Entre os alunos, os companheiros de partido, os colegas de outras siglas e os amigos de uma roda de bar, esse professor está sempre pronto para comentar o que vier a ser o tema.
Então, entram neste desfile o desempenho do Fenômeno no Corinthians, as conquistas e derrocadas petistas, o cotidiano da cidade, músicas, filmes, livros, as piadas oras sutis ora sem a mínima graça. E volta e meia inserindo comentários sobre sua maior riqueza: a filhinha.
Um escritor acima das ideologias, que sabe a importância de destinar o devido valor na história a quem merece, independente do posicionamento político ou partidário. Foi assim que Reginaldo Benedito Dias conquistou a credibilidade nas publicações.
Dias chega com seu livro sobre a política de Maringá para marcar mais um ponto na história da cidade. Ele é o escrevinhador do eterno resgate, o que vive a buscar acontecimentos, tirando-os de tantas memórias para juntá-las numa publicação. Focando os mais variados episódios que construíram e constroem a vida política da Cidade Canção, ele joga luz sobre as personalidades com a devida participação de cada um no processo histórico.
Ao mesmo tempo em que clareia estes caminhos de mais de 60 anos, possibilitando que os jovens saibam como ocorreu a formação do Município, faz com que os maringaenses de décadas aflorem suas lembranças, exercitem suas saudades e se sintam, de alguma forma, partícipes desta construção.
Ao juntá-las numa obra séria, organizada e criativa, Reginaldo pereniza as ocorrências e homenageia seus autores. Pela paixão à cidade e pelo prazer em pesquisar, o trabalho deste coletor de histórias não tem fim. A cidade vai fazendo história e ele vive a persegui-la com seu olhar.
(Antonio Roberto de Paula - Texto publicado no jornal O Diário do Norte do Paraná, dia 31 de maio de 2009)
sexta-feira, 29 de maio de 2009
Enquanto ela espera
Ela canta um canto baixo. Ou melhor, cantarola. É uma canção romântica antiga, um sucesso americano que ela não sabe o significado. Sabe que é triste. Triste como esta noite, como a rua lá embaixo, as cabecinhas que vêm e vão. Na sacada, no alto de oito andares, o céu negro, o cantarolar triste, o corpo lento e o copo vazio.
O verbo esperar é pesado, longo e cansativo. Esperar é abrir mão, os braços e o coração. É o que ela faz. Ela e o relógio se arrastam parados, fechados, sintonizados em ponteiros lentos. O silêncio é cortado, chega e sai de acordo com os motores. O som, no entanto, não sobe forte.
Os carros, pontos luminosos invadindo o breu da noite, transportando solidão ou tentando dela fugir. E ela espera. Descalça, mais líquido no copo e a desistência de cantar. Agora, a mente é vazia. Tudo o que o dia impôs se perdeu nesta noite. A concentração é quase total na espera.
Não há profundidade na visão. As edificações não permitem. Só janelas uniformes. Mundos quadriculados. Janelas abertas, cobertas e fechadas. Vidas expostas e secretas. Intimidades compartilhadas com anônimos donos de outras janelas ou aberturas sem função, sem vida.
Da sua janela, ela se pergunta se alguém a vê, se alguém se interessa em vê-la. Dá um sorriso, quase malicioso, e chega a fazer menção de expor uma parte do corpo. A idéia lhe faz bem, sente-se viva, mas não sai do lugar. Esperar o que não se pode ou não se deve mais esperar é a dor maior.
Quando é aberto um campo de expectativa, nele se percorre, dá voltas e qualquer sinal revitaliza. Quando não existe o campo, se comprime, se contorce e a dor transpassa todos os sentimentos. Quem espera faz uma busca sôfrega por quaisquer que sejam as dúvidas. Entre elas pode estar a certeza da vinda.
Ela não sabe como é a sua espera. Por isso volta a cantar. Um canto novamente baixo, que é dor, lamento, socorro, pedido, disfarce. É a soma de tudo que forma a espera. Deram o nome de amor, pensa ela, a isso que consome, preenche, esvazia, que revira, mistura, alegra, dói... Amor é bem mais do que o nome inventado para resumi-lo.
O relógio, parceiro cruel, acumula a espera. A noite vai se acomodando. Quase tudo dorme. O copo na mesa, o corpo deitado numa cama grande demais, as luzes apagadas, buzinas distantes. Agora, seu sono é solto, sonha como aquela gente feliz nas janelas. E ela, acompanhada, também feliz na sacada. Então, a chave gira no tambor. Em todas as vidas que ela viver, sempre vai acordar ao ouvir este som. Agora, é o real fim da espera.
(Antonio Roberto de Paula - Texto publicado no jornal O Diário do Norte do Paraná, dia 11 de novembro de 2007)
O verbo esperar é pesado, longo e cansativo. Esperar é abrir mão, os braços e o coração. É o que ela faz. Ela e o relógio se arrastam parados, fechados, sintonizados em ponteiros lentos. O silêncio é cortado, chega e sai de acordo com os motores. O som, no entanto, não sobe forte.
Os carros, pontos luminosos invadindo o breu da noite, transportando solidão ou tentando dela fugir. E ela espera. Descalça, mais líquido no copo e a desistência de cantar. Agora, a mente é vazia. Tudo o que o dia impôs se perdeu nesta noite. A concentração é quase total na espera.
Não há profundidade na visão. As edificações não permitem. Só janelas uniformes. Mundos quadriculados. Janelas abertas, cobertas e fechadas. Vidas expostas e secretas. Intimidades compartilhadas com anônimos donos de outras janelas ou aberturas sem função, sem vida.
Da sua janela, ela se pergunta se alguém a vê, se alguém se interessa em vê-la. Dá um sorriso, quase malicioso, e chega a fazer menção de expor uma parte do corpo. A idéia lhe faz bem, sente-se viva, mas não sai do lugar. Esperar o que não se pode ou não se deve mais esperar é a dor maior.
Quando é aberto um campo de expectativa, nele se percorre, dá voltas e qualquer sinal revitaliza. Quando não existe o campo, se comprime, se contorce e a dor transpassa todos os sentimentos. Quem espera faz uma busca sôfrega por quaisquer que sejam as dúvidas. Entre elas pode estar a certeza da vinda.
Ela não sabe como é a sua espera. Por isso volta a cantar. Um canto novamente baixo, que é dor, lamento, socorro, pedido, disfarce. É a soma de tudo que forma a espera. Deram o nome de amor, pensa ela, a isso que consome, preenche, esvazia, que revira, mistura, alegra, dói... Amor é bem mais do que o nome inventado para resumi-lo.
O relógio, parceiro cruel, acumula a espera. A noite vai se acomodando. Quase tudo dorme. O copo na mesa, o corpo deitado numa cama grande demais, as luzes apagadas, buzinas distantes. Agora, seu sono é solto, sonha como aquela gente feliz nas janelas. E ela, acompanhada, também feliz na sacada. Então, a chave gira no tambor. Em todas as vidas que ela viver, sempre vai acordar ao ouvir este som. Agora, é o real fim da espera.
(Antonio Roberto de Paula - Texto publicado no jornal O Diário do Norte do Paraná, dia 11 de novembro de 2007)
sexta-feira, 22 de maio de 2009
Um anjo chamado Vó Maria
Hoje, acordei pensando na minha Vó Maria, que nos deixou em 2005, aos 89 anos. Jesus Cristo disse que na casa do Pai tem muitas moradas. Então, estou convicto de que Deus a chamou para morar numa delas. O sinônimo de Vó Maria era caridade. Pelo bem que essa mulher fez na terra, teve bônus de sobra para entrar no reino dos céus.
Ela era pobre, mas isso nunca foi empecilho para ajudar as pessoas com um prato de comida, um agasalho, um par de sapatos e até uns trocados. Quando penso nela, vem imediatamente a lembrança de um coração bondoso.
Morei com a Vó Maria em Maringá nos meus tempos de garoto. Primeiro na avenida Mauá e depois na sossegada Floriano Peixoto, Vila Sete. Alguns baluartes da mediocridade passaram a chamar o bairro de Zona Sete.
Neste lugar, localizado entre a Igreja Divino Espírito Santo e a avenida São Paulo, reduto da comunidade japonesa, passei bons momentos na primeira metade dos anos de 1970. Na casa simples de madeira, que ainda está de pé, vivi sem grandes preocupações. A vida naquela época só não era um paraíso porque havia uma eterna pressão: o número exagerado de notas vermelhas no boletim.
Uma pressão que começou nos primeiros anos de escola, se estendeu pela adolescência e terminou quando pararam de pedir para os pais ou responsáveis assinarem o dito cujo.
Minha vó sempre ameaçava contar minhas desobediências para o meu pai, genro dela. Ameaçava e contava. Não todas, porque se assim o fizesse, acho não estaria aqui para lembrar essa e outras histórias.
O velho não tinha o costume de ouvir os dois lados, como geralmente se faz hoje em dia. Ele sempre ouvia um só lado, que nunca era o meu, e decidia que eu era o culpado. Por isso, a Vó Maria me ameaçava cada vez que eu chegava tarde, matava aula para jogar bola, quando respondia para ela e minhas tias e coisas do tipo.
Era sua ferramenta para tentar me travar. No final, eu sabia que ela pegaria leve no relatório para o meu pai. Eu era o seu neto mais velho e abusava desta condição. E ela fazia vista grossa até porque meu comportamento não era assim tão condenável.
Levo comigo uma culpa que não vai me abandonar enquanto pisar este chão. Nos seus últimos anos de vida, a visitava poucas vezes. Quando isto acontecia, eu fazia uma brincadeira qualquer e ela, debilitada, me endereçava um sorriso – misto de reprovação pelas minhas longas ausências e de alegria por me ver – como se eu ainda fosse aquele moleque levado que sabia que seria perdoado. A Vó Maria foi e é um dos meus anjos.
Ela era pobre, mas isso nunca foi empecilho para ajudar as pessoas com um prato de comida, um agasalho, um par de sapatos e até uns trocados. Quando penso nela, vem imediatamente a lembrança de um coração bondoso.
Morei com a Vó Maria em Maringá nos meus tempos de garoto. Primeiro na avenida Mauá e depois na sossegada Floriano Peixoto, Vila Sete. Alguns baluartes da mediocridade passaram a chamar o bairro de Zona Sete.
Neste lugar, localizado entre a Igreja Divino Espírito Santo e a avenida São Paulo, reduto da comunidade japonesa, passei bons momentos na primeira metade dos anos de 1970. Na casa simples de madeira, que ainda está de pé, vivi sem grandes preocupações. A vida naquela época só não era um paraíso porque havia uma eterna pressão: o número exagerado de notas vermelhas no boletim.
Uma pressão que começou nos primeiros anos de escola, se estendeu pela adolescência e terminou quando pararam de pedir para os pais ou responsáveis assinarem o dito cujo.
Minha vó sempre ameaçava contar minhas desobediências para o meu pai, genro dela. Ameaçava e contava. Não todas, porque se assim o fizesse, acho não estaria aqui para lembrar essa e outras histórias.
O velho não tinha o costume de ouvir os dois lados, como geralmente se faz hoje em dia. Ele sempre ouvia um só lado, que nunca era o meu, e decidia que eu era o culpado. Por isso, a Vó Maria me ameaçava cada vez que eu chegava tarde, matava aula para jogar bola, quando respondia para ela e minhas tias e coisas do tipo.
Era sua ferramenta para tentar me travar. No final, eu sabia que ela pegaria leve no relatório para o meu pai. Eu era o seu neto mais velho e abusava desta condição. E ela fazia vista grossa até porque meu comportamento não era assim tão condenável.
Levo comigo uma culpa que não vai me abandonar enquanto pisar este chão. Nos seus últimos anos de vida, a visitava poucas vezes. Quando isto acontecia, eu fazia uma brincadeira qualquer e ela, debilitada, me endereçava um sorriso – misto de reprovação pelas minhas longas ausências e de alegria por me ver – como se eu ainda fosse aquele moleque levado que sabia que seria perdoado. A Vó Maria foi e é um dos meus anjos.
(Antonio Roberto de Paula - Texto publicado no jornal O Diário do Norte do Paraná, dia 11 de janeiro de 2009)
quinta-feira, 21 de maio de 2009
Seção Bola Velha - Baú do De Paula - Posto F-1
1984 - Equipe de suíço do Posto F-1, no campo da Copel de Maringá-PR - Renato, Pedrão, De Paula, Vilmar Passo Preto (amigo do Tiro de Guerra, em 1976, e do Bradesco, onde trabalhei com ele de 1979 a 1985), Emílio, Osmar e Luiz Fabretti (não sei qual era a função dele; acho que era técnico ou roupeiro, ou ficou de fora porque estava machucado). Agachados: Laércio, Carlos (faleceu nos anos 90 em acidente de carro; eu o conheci criança, uma grande figura. Vivia sorrindo, como na foto), Claudinei (dono do time, da bola, do uniforme e do posto), Baianinho e Frank Lima (fotógrafo do O Diário nos anos 80 e 90)
terça-feira, 19 de maio de 2009
O goleiro do Galo e a compositora do Rei
No mundo espetacular da internet, tive, recentemente, duas experiências interessantes. Foram simples, mas gratificantes. Não ia sossegar se não compartilhasse com você, que me dá a honra da fidelidade domingueira, lendo estes escritos retalhados que vão para tantas direções e às vezes não sai do lugar.
A compositora Isolda, autora da música "Outra Vez", um dos grandes sucessos de Roberto Carlos
Pois bem, vamos aos tais acontecimentos. Recebi e-mail de um rapaz, Paulinho Medeiros, recepcionista de um hotel em Porto Alegre, pedindo informações sobre o livro “A História do Futebol Profissional de Maringá”. A obra, com 350 fotos e fichas técnicas, foi publicada em 2005 pelos meus amigos Reginaldo Lima e o Ortílio Carlos Vieira, o Tilinho.
O Paulinho queria adquirir o livro porque o seu tio, Evir Borba, era o goleiro do time do Grêmio Esportivo Maringá, em 1963. O livro tem três fotos daquela histórica equipe do Galo do Norte, a primeira da cidade a conquistar o título do Paranaense. Passei o endereço do Reginaldo e perguntei por onde andava o antigo campeão. Seu sobrinho me disse que Evir está no Japão e prometeu que vai conseguir que eu o entreviste.
O outro caso foi por acaso. Estava pesquisando músicas antigas num site especializado sobre o assunto quando vi o endereço na internet da Isolda, a compositora autora de centenas de músicas, entre elas a clássica “Outra Vez”, eternizada por Roberto Carlos.
Não importa a sua idade, não tem como você não se lembrar: “Você foi o melhor meus casos, de todos os abraços, o que eu nunca esqueci...” E por aí vai, poesia pura. A Isolda pôs amor, raiva, dor e paixão na música que vive a mexer e a remexer os corações apaixonados. Lembrou?
Fui ao site da Isolda. Fiquei sabendo um pouco mais da sua história, o que anda fazendo. Mora em São Paulo, é empresária. O seu irmão, Milton Carlos, fazia músicas em parceria com ela. Ele morreu num acidente de carro, em 1977. Isolda ficou arrasada, mas soube superar e voltou a escrever belas canções.
Depois do site, fui ao blog dela. Deixei meu recado lá e fiz a tradicional tietagem, afinal ela merece. A Isolda, com a simpatia e a fineza de uma lady, respondeu com um comentário no meu blog.
Deixo aqui o endereço porque prometi à minha amiga (percebeu que já estou me achando, né?) que o divulgaria. É o http://www.blogisolda.blogspot.com/. Reforçando essa amizade, que hoje se resume a um e-mail para lá e outro para cá, garanto que vou entrevistá-la.
E daqui vai um abraço ao Evir, à Isolda e aos novos amigos que surgem via computador. Do jeito que a internet está deixando este mundo cada vez menor, eles devem receber esta mensagem.
A compositora Isolda, autora da música "Outra Vez", um dos grandes sucessos de Roberto Carlos
(Antonio Roberto de Paula - Texto publicado no jornal O Diário do Norte do Paraná, dia 17 de maio de 2009)
sábado, 16 de maio de 2009
Seção Bola Velha - Baú do De Paula - Ceasa
Equipe do Ceasa, de 1978, em jogo no campo do Jardim Alvorada, ainda no terrão. Esqueci os nomes da maioria. O dono do time, da bola, do uniforme e de um dos caminhões ao fundo era o Osmar Chapéu Preto (o primeiro em pé, da direita para a esquerda). A maior parte deste time, com o nome de Alvorada, disputou a Taça Maringá no ano seguinte e foi campeão. Estou agachado, segurando a bola. O craque da equipe era o João Baiano (o segundo agachado, da esquerda para a direita), que jogava de meia-direita, dava de três dedos na bola, sabia cabecear e fazia gols. João Baiano morreu na década de 90. A gente jogava todos os domingos em Maringá e na região. O caminhão do Chapéu Preto levava os times aspirante e titular e a torcida. Não foram poucas a vezes em que o tempo "fechou" e, no lugar da bola, o pessoal saiu no braço. Como dizia Roberto Carlos: "Jovens tardes de domingo, tantas alegrias, velhos tempos, belos dias".
sexta-feira, 15 de maio de 2009
Seção Bola Velha - Maringá-PR
Equipe do Catedral - 1958
Clube da Justiça - 1974
Fazenda Diamante - 1976
Country Club Maringá - 1981
Diretoria do Country Club Maringá - 1985
Clube da Justiça - 1974
Fazenda Diamante - 1976
Country Club Maringá - 1981
Diretoria do Country Club Maringá - 1985
segunda-feira, 11 de maio de 2009
Seção Relíquia - Jânio Quadros, do baú de Orlando Villa e de sua filha Adriana Villa Labegalini, de Marumbi-PR
Santinho do candidato à presidência da República, Jânio Quadros, em 1960. Jânio venceu, assumiu em 31 de janeiro de 1961 e renunciou no mesmo ano, em 25 de agosto. Hoje é obrigatório, mas na época era permitida propaganda sem o nome do partido. Jânio foi candidato do PDC - Partido Democrata Cristão com o apoio da UDN - União Democrática Nacional Verso do santinho de Jânio, em 1960. A frase do candidato: "Dadas pelo Governo as ferramentas, os brasileiros edificarão o País"
Broches da vassourinha, símbolo da campanha de Jânio Quadros à presidência da República. Na segunda imagem, a vassoura atravessa o mapa do Brasil. Jânio dizia que era "o candidato do tostão contra o milhão"
O jingle da campanha de Jânio, que se tornou um hit no Brasil, em 1960: Varre, varre, varre, varre vassourinha / varre, varre a bandalheira / que o povo já tá cansado / de sofrer dessa maneira / Jânio Quadros é a esperança desse povo abandonado!
O jingle da campanha de Jânio, que se tornou um hit no Brasil, em 1960: Varre, varre, varre, varre vassourinha / varre, varre a bandalheira / que o povo já tá cansado / de sofrer dessa maneira / Jânio Quadros é a esperança desse povo abandonado!
Jânio Quadros nasceu em 25/01/17 (MS) e morreu em 16/02/92 (SP).
Havia escrito que Jânio nasceu em São Paulo; na verdade, é Mato Grosso do Sul. Agradeço o anônimo que passou a informação correta.
sexta-feira, 8 de maio de 2009
Os cuidados de sempre
Tome cuidado com suas palavras ditas e escritas. Cuidado com as frases soltas e despretensiosas que você diz imaginando que elas se perderão no próximo segundo. Avalie seu discurso. Veja se ele é somente seu ou uma soma de trechos, retalhos de opiniões. Você é o que você diz? Tome cuidado com as influências, com as portas convidativas, com as verdades definitivas e as mentiras circunstanciais.
Cuidado com as línguas ferinas, com as tagarelas de plantão nos portões e os tribunos de botecos que proferem diferentes sentenças a cada gole. Eles vão falando e você vai seguindo, tomando o cuidado de não se deixar levar. Cuidado com a saúde, o excesso de peso, o excesso de preocupações, o peso do dia-a-dia.
Mas não se culpe por não correr 200 metros num minuto e por não ter um corpo de Apolo ou de uma deusa. Cuidado com o conto do bilhete premiado, os golpes, as traições, as pisadas na bola, as armas e as armações. Não seja o alvo, mas também não seja a lança.
Cuidado ao volante, os cruzamentos, as câmeras... Vire, desvire, se vire, saiba dirigir sua vida, não se meta na dos outros. Não acelere tão fundo, respeite quem vai passar, quem passou da idade e quem ainda está abrindo os olhos. Não fique descontrolado, não perca o passo e a educação. Nessa estrada, o trânsito às vezes é lento e sossegado, em outras, violento e pesado.
Cuidado com a noite escura e com todos os animais, com os conhecidos que escondem o coração e os desconhecidos sorridentes. Cuidado com as promessas que lhe fazem e as que você faz. Cuidado com os cumprimentos sem firmeza, os olhares oblíquos, os abraços sem calor e a polidez excessiva.
Cuidado com o passado que gosta de ficar rondando, atrapalhando as boas coisas da vida que o presente oferece. Cuidado com a desnecessária mania de adiantar o futuro. Cuidado com a futilidade dos pensamentos ou a profundidade exagerada. Cuidado para não se perder nos detalhes.
Cuidado com o que você come e bebe. As gorduras, as massas, os prazeres da carne, cuidado! As bebidas coloridas de alto teor, cuidado! Cuide de seu sono e de seus sonhos. Você passa a noite virando o corpo e girando a cabeça ou os carneirinhos só pulam uma cerca e somem na escuridão? Até onde vai o vôo da sua imaginação?
Cuidado com seus sentimentos: arrefeça os maus até fazê-los sumir de vista, e mantenha os bons, enraizados, fortes o suficiente para enfrentar as inevitáveis tempestades. A vida é cheia de cuidados. Mas, cuidado, não se esqueça que apesar de todos os cuidados, uma vida espera por você a cada manhã.
(Antonio Roberto de Paula - Texto publicado no jornal O Diário do Norte do Paraná, dia 8 de julho de 2007)
Cuidado com as línguas ferinas, com as tagarelas de plantão nos portões e os tribunos de botecos que proferem diferentes sentenças a cada gole. Eles vão falando e você vai seguindo, tomando o cuidado de não se deixar levar. Cuidado com a saúde, o excesso de peso, o excesso de preocupações, o peso do dia-a-dia.
Mas não se culpe por não correr 200 metros num minuto e por não ter um corpo de Apolo ou de uma deusa. Cuidado com o conto do bilhete premiado, os golpes, as traições, as pisadas na bola, as armas e as armações. Não seja o alvo, mas também não seja a lança.
Cuidado ao volante, os cruzamentos, as câmeras... Vire, desvire, se vire, saiba dirigir sua vida, não se meta na dos outros. Não acelere tão fundo, respeite quem vai passar, quem passou da idade e quem ainda está abrindo os olhos. Não fique descontrolado, não perca o passo e a educação. Nessa estrada, o trânsito às vezes é lento e sossegado, em outras, violento e pesado.
Cuidado com a noite escura e com todos os animais, com os conhecidos que escondem o coração e os desconhecidos sorridentes. Cuidado com as promessas que lhe fazem e as que você faz. Cuidado com os cumprimentos sem firmeza, os olhares oblíquos, os abraços sem calor e a polidez excessiva.
Cuidado com o passado que gosta de ficar rondando, atrapalhando as boas coisas da vida que o presente oferece. Cuidado com a desnecessária mania de adiantar o futuro. Cuidado com a futilidade dos pensamentos ou a profundidade exagerada. Cuidado para não se perder nos detalhes.
Cuidado com o que você come e bebe. As gorduras, as massas, os prazeres da carne, cuidado! As bebidas coloridas de alto teor, cuidado! Cuide de seu sono e de seus sonhos. Você passa a noite virando o corpo e girando a cabeça ou os carneirinhos só pulam uma cerca e somem na escuridão? Até onde vai o vôo da sua imaginação?
Cuidado com seus sentimentos: arrefeça os maus até fazê-los sumir de vista, e mantenha os bons, enraizados, fortes o suficiente para enfrentar as inevitáveis tempestades. A vida é cheia de cuidados. Mas, cuidado, não se esqueça que apesar de todos os cuidados, uma vida espera por você a cada manhã.
(Antonio Roberto de Paula - Texto publicado no jornal O Diário do Norte do Paraná, dia 8 de julho de 2007)
terça-feira, 5 de maio de 2009
O sorriso do velho
Pelo que sei, tinha vindo do norte. Não sei qual norte. Ou seria do sul? Que era corintiano até a raiz, transferência da paixão que vinha do bisavô, mas nunca chutara uma bola. Gostava de cerveja aos domingos e nos outros dias da semana também. Sei que gostava de mulheres. Isto mesmo, no plural. De todas as cores, idades, vocações e tamanhos. No final, sossegou.
Não tocava nenhum instrumento, mas cantava moda de viola acompanhando o CD do Tião Carreiro e Pardinho. Amava os filhos, todos os filhos, de todas as uniões. Mas, por último, descarregava quase todo o seu amor para os netos. Um deles tinha o seu tipo. Amava Deus e não sabia o que era religião. Na infância tentaram lhe explicar. Morreu sem entender.
Nunca deixou de votar, mas saía de perto quando vinham lhe falar de política. Não conhecia o mundo, mas do seu mundo era conhecedor. Nada sabia das cidades, mas a sua trazia na palma da mão. Era amigo dos velhos, dos moços e das crianças. Vivia com um sorriso pendurado na cara enrugada. Era um sorriso enigmático. Seria de vitória, de aceitação ou aquele que significa “O melhor está por vir”?
Pelo que sei, morreu dormindo. Deitou com aquele sorriso de sempre, deixando os chinelos de couro arrumadinhos sobre o tapete ao lado da cama. Como se fosse precisar, no dia seguinte, de manhãzinha, enfiar os pés neles sem olhar. Deitou de lado, virando as costas para a vida.
Disseram que não sofreu. Pelo contrário, acham que morreu feliz, que o comprido dever estava cumprido. Quando o sol estava alto, abriram a cortina e foram chamá-lo. Ao puxarem seu ombro, se depararam com aquele sorriso de sempre. Agora era um sorriso meio zombateiro, como a dizer: “O que vocês querem? Já não estou mais aqui.”
Pelo que sei, era um burro de carga para o trabalho. Tinha cicatrizes nas mãos. Para cada uma delas, desfilava rosários de passagens que remontavam décadas. Calos, crostas eternas de recordações, provas de uma vida, vivida com todas as intensidades, trazidas nas mãos. Nunca teve álbum de fotografias, passarinhos na gaiola, radinho, relógio e roupa domingueira. Não dava importância maior a determinados dias. Nem a determinadas pessoas.
Ninguém chorou no seu enterro. Havia uma reverência sem lágrimas, um respeito sem dor. Uma fina chuva parecia cair só naquele círculo. Todos se olhavam como a dizer que ali estava um homem que havia conseguido dar uma rasteira na morte por ter sabido viver a vida. Antes da terra cobrir o caixão, deu para ver pelo pequeno vidro quadrado o seu sorriso maroto dizendo: “Valeu, foi muito bom.”
(Antonio Roberto de Paula - Texto publicado no jornal O Diário do Norte do Paraná, dia 27 de janeiro de 2008)
Não tocava nenhum instrumento, mas cantava moda de viola acompanhando o CD do Tião Carreiro e Pardinho. Amava os filhos, todos os filhos, de todas as uniões. Mas, por último, descarregava quase todo o seu amor para os netos. Um deles tinha o seu tipo. Amava Deus e não sabia o que era religião. Na infância tentaram lhe explicar. Morreu sem entender.
Nunca deixou de votar, mas saía de perto quando vinham lhe falar de política. Não conhecia o mundo, mas do seu mundo era conhecedor. Nada sabia das cidades, mas a sua trazia na palma da mão. Era amigo dos velhos, dos moços e das crianças. Vivia com um sorriso pendurado na cara enrugada. Era um sorriso enigmático. Seria de vitória, de aceitação ou aquele que significa “O melhor está por vir”?
Pelo que sei, morreu dormindo. Deitou com aquele sorriso de sempre, deixando os chinelos de couro arrumadinhos sobre o tapete ao lado da cama. Como se fosse precisar, no dia seguinte, de manhãzinha, enfiar os pés neles sem olhar. Deitou de lado, virando as costas para a vida.
Disseram que não sofreu. Pelo contrário, acham que morreu feliz, que o comprido dever estava cumprido. Quando o sol estava alto, abriram a cortina e foram chamá-lo. Ao puxarem seu ombro, se depararam com aquele sorriso de sempre. Agora era um sorriso meio zombateiro, como a dizer: “O que vocês querem? Já não estou mais aqui.”
Pelo que sei, era um burro de carga para o trabalho. Tinha cicatrizes nas mãos. Para cada uma delas, desfilava rosários de passagens que remontavam décadas. Calos, crostas eternas de recordações, provas de uma vida, vivida com todas as intensidades, trazidas nas mãos. Nunca teve álbum de fotografias, passarinhos na gaiola, radinho, relógio e roupa domingueira. Não dava importância maior a determinados dias. Nem a determinadas pessoas.
Ninguém chorou no seu enterro. Havia uma reverência sem lágrimas, um respeito sem dor. Uma fina chuva parecia cair só naquele círculo. Todos se olhavam como a dizer que ali estava um homem que havia conseguido dar uma rasteira na morte por ter sabido viver a vida. Antes da terra cobrir o caixão, deu para ver pelo pequeno vidro quadrado o seu sorriso maroto dizendo: “Valeu, foi muito bom.”
(Antonio Roberto de Paula - Texto publicado no jornal O Diário do Norte do Paraná, dia 27 de janeiro de 2008)
segunda-feira, 4 de maio de 2009
A carta que fez Carla desistir de casar
Fiquei sabendo ontem à tarde do seu casamento. Lembra da dona Zélia, aquela velha que gosta de anunciar tragédias? Pois é, foi aquela mala quem me contou. Estava saindo da casa da minha mãe e ela, a velha, chegou tão vermelha e excitada que achei que ia cair durinha na minha frente.
Então, ela parou, tomou fôlego, olhou bem na minha cara, deu uma geral nas minhas roupas, coisa bem característica dela, e falou: “E aí, Pedro, tudo bem?” Falou só para mostrar um mínimo de educação. Eu disse o meu “tudo bem” e fui saindo para manter a devida distância sanitária. Aí, veio ela quase jogando seus peitos na minha barriga: “Tá sabendo da Carla?”
Confesso que me faltou o chão na hora, mas não perdi a pose. Tentei fazer de desentendido. Dei uma gaguejada no seu nome e não saí do lugar. “A Ca-carla?” “É, ela vai casar sábado.” Não quis perguntar com quem porque eu já sabia e não queria que a dona Zélia esticasse mais a conversa.
Por mais que eu tenha me esforçado, com certeza, a velha notou o meu desapontamento. Ela ficou me olhando com um sorriso vitorioso depois de cumprir mais um importante compromisso na sua vida de sanguessuga. Na falta de ter suas próprias dores, amores e humores, ela se apossa das dos outros.
Saí dali, entrei no carro. Aquele movimento espontâneo com a mão direita para ligar o rádio não aconteceu. Dirigi sem pensar no trânsito. Tive que enxugar as lágrimas várias vezes porque estavam atrapalhando minha visão. E eu que pensava que a gente nem tinha terminado...
Achava que você não ia dar trela pra aquele moleque do Jeferson. No fim das contas, olha só, eu me achando o máximo e o garoto chegando, chegando e eu saindo da sua vida.
Saí do carro, parei no bar do Roque. Aquela turma de sempre estava lá, aquele povo que você conhece, o Nelson, o Vadão e o Paulo da eletrônica. Pedi uma cerveja, disfarcei, mas perceberam na hora. Perguntaram se algum parente tinha morrido, se eu tinha perdido o emprego ou se era alguma coisa com você.
Não me controlei, caí no choro de novo e falei tudo. Chorava, babava e bebia. Nem te conto o que os caras disseram de você. “Esta mulher não te merece, Pedrão”. “Como é que ela faz isso com um cara decente como você?” “Bem feito. Você fazia tudo por ela.” E falaram mais coisas que eu não tenho a coragem de dizer.
São 10 da manhã desta triste quinta-feira. Não fui trabalhar. Acordei agora pouco e resolvi te escrever. Minha cabeça está doendo e o meu coração sangrando. Nem sei como terminar esta carta. Acho que não tem fim. Nossa história também não.
(Antonio Roberto de Paula - Texto publicado no jornal O Diário do Norte do Paraná, dia 30 de setembro de 2007)
Então, ela parou, tomou fôlego, olhou bem na minha cara, deu uma geral nas minhas roupas, coisa bem característica dela, e falou: “E aí, Pedro, tudo bem?” Falou só para mostrar um mínimo de educação. Eu disse o meu “tudo bem” e fui saindo para manter a devida distância sanitária. Aí, veio ela quase jogando seus peitos na minha barriga: “Tá sabendo da Carla?”
Confesso que me faltou o chão na hora, mas não perdi a pose. Tentei fazer de desentendido. Dei uma gaguejada no seu nome e não saí do lugar. “A Ca-carla?” “É, ela vai casar sábado.” Não quis perguntar com quem porque eu já sabia e não queria que a dona Zélia esticasse mais a conversa.
Por mais que eu tenha me esforçado, com certeza, a velha notou o meu desapontamento. Ela ficou me olhando com um sorriso vitorioso depois de cumprir mais um importante compromisso na sua vida de sanguessuga. Na falta de ter suas próprias dores, amores e humores, ela se apossa das dos outros.
Saí dali, entrei no carro. Aquele movimento espontâneo com a mão direita para ligar o rádio não aconteceu. Dirigi sem pensar no trânsito. Tive que enxugar as lágrimas várias vezes porque estavam atrapalhando minha visão. E eu que pensava que a gente nem tinha terminado...
Achava que você não ia dar trela pra aquele moleque do Jeferson. No fim das contas, olha só, eu me achando o máximo e o garoto chegando, chegando e eu saindo da sua vida.
Saí do carro, parei no bar do Roque. Aquela turma de sempre estava lá, aquele povo que você conhece, o Nelson, o Vadão e o Paulo da eletrônica. Pedi uma cerveja, disfarcei, mas perceberam na hora. Perguntaram se algum parente tinha morrido, se eu tinha perdido o emprego ou se era alguma coisa com você.
Não me controlei, caí no choro de novo e falei tudo. Chorava, babava e bebia. Nem te conto o que os caras disseram de você. “Esta mulher não te merece, Pedrão”. “Como é que ela faz isso com um cara decente como você?” “Bem feito. Você fazia tudo por ela.” E falaram mais coisas que eu não tenho a coragem de dizer.
São 10 da manhã desta triste quinta-feira. Não fui trabalhar. Acordei agora pouco e resolvi te escrever. Minha cabeça está doendo e o meu coração sangrando. Nem sei como terminar esta carta. Acho que não tem fim. Nossa história também não.
(Antonio Roberto de Paula - Texto publicado no jornal O Diário do Norte do Paraná, dia 30 de setembro de 2007)
quinta-feira, 30 de abril de 2009
Seção Bola Velha - Baú do De Paula
1993 - Time da imprensa de Maringá: Paulinho Boa Pessoa, Luiz Fabretti, Edivaldo Ferreira, Júlio Meneghetti, Marcelol Henrique e Jorge Junior (em pé); o garotinho Alan (filho do Marrom), Marrom, Cabo Zé Carlos, De Paula, Eli Silva, Ananias Rodrigues e Adilson Cascão
quarta-feira, 29 de abril de 2009
9 horas da manhã
Ela só queria ser feliz. Aqui mesmo, na sua cidade, no seu bairro, na sua rua, com sua gente. Queria ser feliz com seu homem e seus filhos, com seu trabalho, suas prosaicas preocupações diárias e seus alegres finais de semana. Queria andar pelas calçadas, descansar à sombra de uma mangueira, ouvir cantos suaves, conversar sem pressa, viver sem pressa. Queria ficar na banda de cá sem grandes sobressaltos. Amava a vida como se não existissem outras e como se esta fosse para sempre.
A espreguiçadeira na varanda, o pequeno jardim, as abelhas fazendo círculos nas flores e o sol quente das 9 da manhã era só o que ela queira. Ela queria o fim do dia, a dança dos galhos, as folhas que voam e as que repousam mudando de cor, as luzes pontilhando na longa e serena rua, demarcando a felicidade. Nas casinhas uniformes, a feliz repartição. Ela queria se completar nesse pequeno mundo, ter todos os amanhãs que pudesse.
A parte que lhe cabia desta felicidade era fácil de encontrar. Estava na horta no fundo da casa, nos pés de manga e de abacate e no caminho de tijolos pelo quintal. Queria um caminho leve, com chuvas inesperadas, vôos rasantes de passarinhos e um sorriso para cada bom-dia. Frutas caindo de maduras, verdes de todos os tons surgindo das hortaliças, o doce cão de econômicos latidos e o azulão do céu de nuvens brancas. Era só isso. Queria as imagens, os sons e os cheiros das estações. Que se perpetuasse assim porque mais ela não queria.
Ela foi menina de escola, de roupa azul e branca, céu e pureza, risos e brincadeiras, alegria e inocência. Foi moça sonhadora, de enxoval e aliança. Foi mulher como tinha que ser e mãe como amava ser. Levou os sonhos pelas estradas do tempo e, mesmo quando o céu se tornava negro, ela os mantinha intactos. O azul e o algodão sempre vão aparecer, pensava. E era o que acontecia.
Vez ou outra, debruçada no beiral da janela, enxergava todos os sonhos na linha do horizonte. Contava histórias só para si, deixando invioláveis e a salvo tantos momentos. Ria com satisfação, feito aquela menina da escola. Tranqüila, passeava no seu mundo, apreciando cada segundo. Mantinha a serenidade como se soubesse o caminho exato, como aquele de tijolos no quintal.
Numa manhã, por volta das 9 horas, da espreguiçadeira levantou os olhos pela última vez. Via tudo o que queria na linha do horizonte. Virou para o lado. Viu o pequeno jardim, as abelhas girando, os tijolos a perder de vista. Cerrou os olhos. Ela só queria ser feliz. E foi.
(Antonio Roberto de Paula - publicado no jornal O Diário do Norte do Paraná, dia 18 de maio de 2008)
A espreguiçadeira na varanda, o pequeno jardim, as abelhas fazendo círculos nas flores e o sol quente das 9 da manhã era só o que ela queira. Ela queria o fim do dia, a dança dos galhos, as folhas que voam e as que repousam mudando de cor, as luzes pontilhando na longa e serena rua, demarcando a felicidade. Nas casinhas uniformes, a feliz repartição. Ela queria se completar nesse pequeno mundo, ter todos os amanhãs que pudesse.
A parte que lhe cabia desta felicidade era fácil de encontrar. Estava na horta no fundo da casa, nos pés de manga e de abacate e no caminho de tijolos pelo quintal. Queria um caminho leve, com chuvas inesperadas, vôos rasantes de passarinhos e um sorriso para cada bom-dia. Frutas caindo de maduras, verdes de todos os tons surgindo das hortaliças, o doce cão de econômicos latidos e o azulão do céu de nuvens brancas. Era só isso. Queria as imagens, os sons e os cheiros das estações. Que se perpetuasse assim porque mais ela não queria.
Ela foi menina de escola, de roupa azul e branca, céu e pureza, risos e brincadeiras, alegria e inocência. Foi moça sonhadora, de enxoval e aliança. Foi mulher como tinha que ser e mãe como amava ser. Levou os sonhos pelas estradas do tempo e, mesmo quando o céu se tornava negro, ela os mantinha intactos. O azul e o algodão sempre vão aparecer, pensava. E era o que acontecia.
Vez ou outra, debruçada no beiral da janela, enxergava todos os sonhos na linha do horizonte. Contava histórias só para si, deixando invioláveis e a salvo tantos momentos. Ria com satisfação, feito aquela menina da escola. Tranqüila, passeava no seu mundo, apreciando cada segundo. Mantinha a serenidade como se soubesse o caminho exato, como aquele de tijolos no quintal.
Numa manhã, por volta das 9 horas, da espreguiçadeira levantou os olhos pela última vez. Via tudo o que queria na linha do horizonte. Virou para o lado. Viu o pequeno jardim, as abelhas girando, os tijolos a perder de vista. Cerrou os olhos. Ela só queria ser feliz. E foi.
(Antonio Roberto de Paula - publicado no jornal O Diário do Norte do Paraná, dia 18 de maio de 2008)
terça-feira, 28 de abril de 2009
Seção Relíquia - JAP´s 1963
1963 - Chaveiro comemorativo da sétima edição dos Jogos Abertos do Paraná, realizados em Maringá. Além da tocha olímpica, o grão do café estilizado na flâmula verde. No verso, os anéis olímpicos, que representam os continentes. Azul, Europa; amarelo, Ásia; preto, África; verde, Oceânia; e vermelho, América. Os Jogos eram só do Paraná, mas a organização resolveu homenagear o mundo todo.
sábado, 25 de abril de 2009
Raízes dos momentos felizes
- Zizi, sabe aquela música?
- Aquela que você vive cantando e assobiando? “Todo mundo tem um amor na vida e por ele tudo é capaz.”
- Você tá de brincadeira. Nem tô lembrado disso.
- Como, não? Desde que te conheço, do nada vem a imitação do Leno e da Lílian:”Eu tenho uma paixão que é proibida só porque sou pobre demais.”
- É outra música.
- Qual?
- Regra Três, do Vinicius e do Toquinho.
- Canta um pedacinho.
- Aquela que a gente cantava com os amigos no bar, lembra?
- Já faz tanto tempo... Canta um pedacinho.
- “Tantas você fez que ela cansou, porque você rapaz, abusou da regra três.”
- Assim você me entristece.
- Pôxa, mas por que?
- Eu me sentia a própria regra três, a reserva.
- Não acredito que você tá me falando uma coisa dessas.
- É meu caro, trinta anos se passaram, mas quem apanha não esquece.
- Lá vem a dramática.
- Dramática, não. É a pura verdade. Pensa que eu não sei dos teus rolinhos com a Rosana, a Cíntia. Que ódio! Só de lembrar da cara da Cíntia, parece que vai me dar um treco. A Ana Maria também...
- Você tá de brincadeira. Nunca tive nada com elas. Tudo amizade.
- É, me engana que eu gosto. Mas o que deu em você pra lembrar desta música?
- Tava pensando como é importante ter alguém do lado e respeitar. E esse alguém não pode nunca perder a esperança, acreditar sempre no companheiro e saber perdoar.
- Pera aí, Eugênio. Vai devagar com o andor. Pelo que eu sei, a letra não é bem isso que você tá dizendo. É o contrário: ela manda o cara passear.
- Certo, certo. Mas ela radicalizou. Quero dizer que a música é uma lição para o cara aprender a respeitar a mulher. Agora, tem o seguinte: ela tem que saber perdoar.
- Geninho, canta mais um trecho pra mim. Espera aí! A gente não tem ela num CD?
- Tem nada. Já procurei.
- A música mexeu contigo...
- É, viajei pra aqueles tempos em que a gente se conheceu, da minha turma do Científico, da tua turma do Normal, da grapete, da cuba, do Continental, as músicas no toca-disco, a gente cheio de sonhos. Viajei pra lá e agora, olhando pra você, te vejo tão linda como na saída do colégio, esse eterno sorriso.
- Pôxa, foi lindo isso. Me emocionei... Bateu uma saudade. Canta mais um trechinho.
- “Da primeira vez ela chorou, mas resolveu ficar, é que os momentos felizes tinham deixado raízes no seu penar. Depois perdeu a esperança porque o perdão também cansa de perdoar.”
- Geninho, nunca vou perder a esperança.
- E também nunca você vai precisar perdoar. Você é minha titular absoluta desde que começamos com essa história. E sem reserva!
- Sei lá se é verdade, mas que é bom ouvir, lá isso é.
- Vem cá, Zizi.
- Geninho...
(Antonio Roberto de Paula - Texto publicado no jornal O Diário do Norte do Paraná, dia 5 de abril de 2009)
- Aquela que você vive cantando e assobiando? “Todo mundo tem um amor na vida e por ele tudo é capaz.”
- Você tá de brincadeira. Nem tô lembrado disso.
- Como, não? Desde que te conheço, do nada vem a imitação do Leno e da Lílian:”Eu tenho uma paixão que é proibida só porque sou pobre demais.”
- É outra música.
- Qual?
- Regra Três, do Vinicius e do Toquinho.
- Canta um pedacinho.
- Aquela que a gente cantava com os amigos no bar, lembra?
- Já faz tanto tempo... Canta um pedacinho.
- “Tantas você fez que ela cansou, porque você rapaz, abusou da regra três.”
- Assim você me entristece.
- Pôxa, mas por que?
- Eu me sentia a própria regra três, a reserva.
- Não acredito que você tá me falando uma coisa dessas.
- É meu caro, trinta anos se passaram, mas quem apanha não esquece.
- Lá vem a dramática.
- Dramática, não. É a pura verdade. Pensa que eu não sei dos teus rolinhos com a Rosana, a Cíntia. Que ódio! Só de lembrar da cara da Cíntia, parece que vai me dar um treco. A Ana Maria também...
- Você tá de brincadeira. Nunca tive nada com elas. Tudo amizade.
- É, me engana que eu gosto. Mas o que deu em você pra lembrar desta música?
- Tava pensando como é importante ter alguém do lado e respeitar. E esse alguém não pode nunca perder a esperança, acreditar sempre no companheiro e saber perdoar.
- Pera aí, Eugênio. Vai devagar com o andor. Pelo que eu sei, a letra não é bem isso que você tá dizendo. É o contrário: ela manda o cara passear.
- Certo, certo. Mas ela radicalizou. Quero dizer que a música é uma lição para o cara aprender a respeitar a mulher. Agora, tem o seguinte: ela tem que saber perdoar.
- Geninho, canta mais um trecho pra mim. Espera aí! A gente não tem ela num CD?
- Tem nada. Já procurei.
- A música mexeu contigo...
- É, viajei pra aqueles tempos em que a gente se conheceu, da minha turma do Científico, da tua turma do Normal, da grapete, da cuba, do Continental, as músicas no toca-disco, a gente cheio de sonhos. Viajei pra lá e agora, olhando pra você, te vejo tão linda como na saída do colégio, esse eterno sorriso.
- Pôxa, foi lindo isso. Me emocionei... Bateu uma saudade. Canta mais um trechinho.
- “Da primeira vez ela chorou, mas resolveu ficar, é que os momentos felizes tinham deixado raízes no seu penar. Depois perdeu a esperança porque o perdão também cansa de perdoar.”
- Geninho, nunca vou perder a esperança.
- E também nunca você vai precisar perdoar. Você é minha titular absoluta desde que começamos com essa história. E sem reserva!
- Sei lá se é verdade, mas que é bom ouvir, lá isso é.
- Vem cá, Zizi.
- Geninho...
(Antonio Roberto de Paula - Texto publicado no jornal O Diário do Norte do Paraná, dia 5 de abril de 2009)
quinta-feira, 23 de abril de 2009
1958 - Brasil, campeão mundial na Suécia. Final disputada em Estocolmo, no dia 29 de junho. Placar de 5 a 2 contra os donos da casa. Técnico Vicente Feola, Djalma Santos, Zito, Belini (com a taça), Nilton Santos, Orlando e Gilmar (em pé); Garrincha, Didi, Pelé, Vavá, Zagallo e o preparador físico Paulo Amaral
Grêmio Esportivo Maringá - 1963
Campeão Paranaense em 1963, o Grêmio Esportivo Maringá fez campanha de sócios proprietários naquele ano. O elenco que conquistou o título era formado por Evir (goleiro), Ézio (goleiro), Edson, Pinduca, Marcos, Oliveira, Oliveirão, Nilo, Macário, Haroldo, Azevedo, Soca, Leonel, Chapadão, Garoto e Nilson
Clique na reprodução para ampliar
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Cantinho da saudade: Antonio Paulo Pucca e Osvaldo Lima"
1969 - Antonio Paulo Pucca, o maior narrador esportivo de Maringá, e Osvaldo Lima, colunista esportivo do O Jornal (depois Jornal do Povo). Os dois no Aeroporto Guararapes, em Recife-PE. Eles estiveram na capital pernambucana para cobrir o jogo do Grêmio Esportivo Maringá contra o Sport Recife, na Ilha do Retiro, pelo "Robertinho", uma espécie da Série B dos anos 60. O Grêmio foi o campeão da competição. "Robertinho" vem de "Roberto Gomes Pedrosa", nome do torneio que envolvia os principais clubes e foi o embrião do Brasileirão, que teve a primeira edição em 1971. Pucca falceu em 2007 e há muitos anos tinha se afastado do rádio esportivo. Tinha um programa diário na TV Maringá (Band), o Jornal da Manhã. Lima morreu em 2002 e até os últimos dias de vida fez a coluna "Em cima do lance", no Jornal do Povo.
"A História do Futebol Profissional de Maringá"
Livro "A História do Futebol Profissional de Maringá", publicado em 2005, trabalho elaborado pelo ex-jogador do Grêmio Maringá, Reginaldo Lima, e por Ortílio C. Vieira, o Tilinho, que trabalhou por muitos anos no Galo da Cidade Canção, sendo o maior estudioso do futebol profissional maringaense. A pesquisa é ilustrada com mais de 350 fotos. Reginaldo me presenteou com um exemplar e no autógrafo fez uma brincadeira sobre o meu desempenho futebolístico, relembrando os amistosos em que atuamos juntos pelo time da imprensa de Maringá. Olha o que ele escreveu: "Ao amigo Antonio Roberto de Paula a quem admiro pelo trabalho jornalístico e pela habilidade nos jogos que fizemos juntos. Com votos de sucesso. Agradecido pelo apoio. Um abraço. Reginaldo Lima.
O Reginaldo é um brincalhão
Vida e bola
Queria ser Gerson. Nos meus sonhos eu era o Canhotinha de Ouro. Nas peladas, queria fazer como ele. Havia um problema: era destro. De tanto treinar, virei ambidestro. Não conseguia, contudo, fazer lançamentos de 30, 40 metros. Não conseguia organizar o meu time, não falava como ele e não tinha o espírito de liderança igual ao dele.
Quando o Brasil ganhou o tri, ganhei junto com o Gerson. O na final contra a Itália, o segundo, o que abriu o caminho para a goleada, teve a minha contribuição. Quando a bola sobreou para ele, depois da jogada de Jairzinho, na meia-lua da grande área, juntos soltamos a canhota, corremos, um ao lado do outro, de braços abertos.
O Estádio Asteca nos aplaudiu, o Gerson e eu. Choramos e erguemos as mãos para o céu, eu e ele, quando soou o apito final. Passou a Coppa de 70 e já não queria mais ser Gerson. As crianças são por demais inconstantes. Cansei de brincar de Gerson. Gerson ficou na história.
Agora, queria ser Rivelino. Ser Gerson foi muito cansativo. Tinha que fazer lançamentos e gritar com todos os companheiros. Não sabia fazer nem uma coisa nem outra. Mudei. Passei a ser Rivelino. Era só jogar mais adiantado e mandar a bomba de canhota. Fechava os olhos e me via num Morumbi lotado lutando com meus companheiros do Timão para quebrar o jejum de títulos.
O Cortinhians perdia mais do que ganhava. No final, Riva era criticado pela imprensa e pela torcida. A Fiel já não o queria mais por lá. Sofríamos juntos. Acabaram destronando o Reizinho do Parque. Rivelino foi para as Laranjeiras e eu, na minha inconstância e pelo fato de ser corintiano acima de tudo, preferi ser outro craque.
Passei as ser Sócrates. Minha técnica futebolística não ia além de uns golzinhos de bico. Mas queria fazer como o Magrão. Cheguei a dar alguns toques de calcanhar, todos sem objetividade, ao contrário do meu ídolo da ocasião, que fazia gols de costas para o goleiro e deixava os companheiros na cara do gol para concluir.
Larguei mão de ser Sócrates quando seu gás acabou em 86 e ele errou o penalti contra a França.Já vinha me identificando com Careca. Queria ser igualzinho ao habilidoso e raçudo atacante do Guarani e do São Paulo.
Vã tentativa. fazer gols como o Careca era impossível para um cara como eu, dono de um estilo tosco e desajeitado. Torci para que ele curasse do joelho em 82. Não deu. Naquela seleção inesquecível de Telê faltou meu ídolo. Chorei quando Paulo Rossi nos tirou o tetra, mas meu choro já vinha de antes.
Quis ser muita gente boa de bola. Estive no Canal 100 dando dribles como o Garrincha. Fui Falcão liderando a Roma no título de 80. Vesti vermelho e preto para ser Zico. Fui o artilheiro mineiro Reinaldo. Internacionalizei meus sonhos para ser Maradona e Platini.
Só não tive a pretensão de ser Pelé. Nem em sonhos eu conseguiria. Passei dos 40. Minhas flácidas e meu diminuto fôlego me impedem de tentar fazer algo parecido com o que meus ídolos faziam.
Os sonhos já não são tão fantásticos porque já não estou mais neles. Sonho em preto e branco.Sonho com um estádio que leva o nome de uma vila, um time vestido todo de branco e figuras negras fazendo mágicas.
Sonho com um tiro de Paulo Borges de fora da área, a explosão de um Pacaembu comemorando o fim de uma era de suplícios, o fim de um tabu. Sonho em múltiplas cores. No meu sonho desfilam meio-campistas de times históricos: Andrade, Adílio e Zico; Piaza, Zé Carlos e Dirceu Lopes; Dudu e Ademir da Guia; e Clodoaldo e Gerson.
Vagueio entre datas nada cronológicas. Abro espaço para Romário, Ronaldo e Rivaldo. A bola rola. O tempo e o lugar não são tão importantes. Por isto, eu sou o espírito do futebol. Sou onipresente.
Não tenho cores definidas, portanto, não tenho adversários. Sou o amor e a alegria que impulsionam a bola através dos tempos. Sou o garoto de sempre, que faz da inconstância na admiração uma forma de homenagear os mestres da bola. Sou o garoto de todas as idades que eterniza o futebol.
(Do livro Da minha janela, publicado em 2003)
Quando o Brasil ganhou o tri, ganhei junto com o Gerson. O na final contra a Itália, o segundo, o que abriu o caminho para a goleada, teve a minha contribuição. Quando a bola sobreou para ele, depois da jogada de Jairzinho, na meia-lua da grande área, juntos soltamos a canhota, corremos, um ao lado do outro, de braços abertos.
O Estádio Asteca nos aplaudiu, o Gerson e eu. Choramos e erguemos as mãos para o céu, eu e ele, quando soou o apito final. Passou a Coppa de 70 e já não queria mais ser Gerson. As crianças são por demais inconstantes. Cansei de brincar de Gerson. Gerson ficou na história.
Agora, queria ser Rivelino. Ser Gerson foi muito cansativo. Tinha que fazer lançamentos e gritar com todos os companheiros. Não sabia fazer nem uma coisa nem outra. Mudei. Passei a ser Rivelino. Era só jogar mais adiantado e mandar a bomba de canhota. Fechava os olhos e me via num Morumbi lotado lutando com meus companheiros do Timão para quebrar o jejum de títulos.
O Cortinhians perdia mais do que ganhava. No final, Riva era criticado pela imprensa e pela torcida. A Fiel já não o queria mais por lá. Sofríamos juntos. Acabaram destronando o Reizinho do Parque. Rivelino foi para as Laranjeiras e eu, na minha inconstância e pelo fato de ser corintiano acima de tudo, preferi ser outro craque.
Passei as ser Sócrates. Minha técnica futebolística não ia além de uns golzinhos de bico. Mas queria fazer como o Magrão. Cheguei a dar alguns toques de calcanhar, todos sem objetividade, ao contrário do meu ídolo da ocasião, que fazia gols de costas para o goleiro e deixava os companheiros na cara do gol para concluir.
Larguei mão de ser Sócrates quando seu gás acabou em 86 e ele errou o penalti contra a França.Já vinha me identificando com Careca. Queria ser igualzinho ao habilidoso e raçudo atacante do Guarani e do São Paulo.
Vã tentativa. fazer gols como o Careca era impossível para um cara como eu, dono de um estilo tosco e desajeitado. Torci para que ele curasse do joelho em 82. Não deu. Naquela seleção inesquecível de Telê faltou meu ídolo. Chorei quando Paulo Rossi nos tirou o tetra, mas meu choro já vinha de antes.
Quis ser muita gente boa de bola. Estive no Canal 100 dando dribles como o Garrincha. Fui Falcão liderando a Roma no título de 80. Vesti vermelho e preto para ser Zico. Fui o artilheiro mineiro Reinaldo. Internacionalizei meus sonhos para ser Maradona e Platini.
Só não tive a pretensão de ser Pelé. Nem em sonhos eu conseguiria. Passei dos 40. Minhas flácidas e meu diminuto fôlego me impedem de tentar fazer algo parecido com o que meus ídolos faziam.
Os sonhos já não são tão fantásticos porque já não estou mais neles. Sonho em preto e branco.Sonho com um estádio que leva o nome de uma vila, um time vestido todo de branco e figuras negras fazendo mágicas.
Sonho com um tiro de Paulo Borges de fora da área, a explosão de um Pacaembu comemorando o fim de uma era de suplícios, o fim de um tabu. Sonho em múltiplas cores. No meu sonho desfilam meio-campistas de times históricos: Andrade, Adílio e Zico; Piaza, Zé Carlos e Dirceu Lopes; Dudu e Ademir da Guia; e Clodoaldo e Gerson.
Vagueio entre datas nada cronológicas. Abro espaço para Romário, Ronaldo e Rivaldo. A bola rola. O tempo e o lugar não são tão importantes. Por isto, eu sou o espírito do futebol. Sou onipresente.
Não tenho cores definidas, portanto, não tenho adversários. Sou o amor e a alegria que impulsionam a bola através dos tempos. Sou o garoto de sempre, que faz da inconstância na admiração uma forma de homenagear os mestres da bola. Sou o garoto de todas as idades que eterniza o futebol.
(Do livro Da minha janela, publicado em 2003)
Assinar:
Postagens (Atom)