quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

10 anos sem Valdir Pinheiro

Valdir Pinheiro faleceu no dia 28 de dezembro de 2000.

Capítulo 31 do livro online O Jornal do Bispo, sobre Valdir Pinheiro 

www.jornaldobispo.com.br

Um dos repórteres mais queridos e lembrados da Folha do Norte é Valdir Pinheiro, que morreu em dezembro de 2000, em decorrência de problemas respiratórios, aos 52 anos.

Valdir passou a ser uma referência quando se fala de paixão pelo jornalismo. Ele conquistou seu espaço às custas de muita força de vontade. Quando a Folha iniciou as atividades, era um dos garotos entregadores de jornal.

Depois, passou a mancheteiro. Não o mancheteiro de hoje, que fica digitando títulos até encontrar o que se encaixe nas colunas. Era auxiliar de linotipista. O trabalho de Valdir era colocar os tipos, ou seja, as letras, para compor na caixa que posteriormente ia para a impressão.

Como este trabalho artesanal era feito depois que a redação estava fechada, o editor de esportes, Borba Filho, pedia a Valdir que gravasse os jogos de futebol da noite, principalmente os do Campeonato Paulista.

Borba deixava lacunas na página para que fossem colocados os resultados e outros detalhes das partidas. Valdir gravava tudo e depois sentava em frente a uma Remington e, “catando milho”, datilografava as fichas técnicas.

Depois que Borba Filho saiu da Folha, em meados da década de 1960, o corintiano Valdir assumiu a editoria de esportes e ensinou muitos profissionais. Wilson Serra, por exemplo, o trata de professor. Antonio Augusto de Assis o define como uma das pessoas mais queridas da redação da Folha do Norte.

Durante toda a sua vida, Valdir Pinheiro foi ligado à imprensa. Depois da Folha, trabalhou no O Jornal de Maringá, O Diário, rádios Cultura, Difusora e Atalaia e Jornal do Povo.

De todos os jornalistas esportivos de Maringá, Valdir era um dos maiores conhecedores da história do Galo do Norte, como é conhecido o Grêmio Maringá. Ele esteve reportando praticamente todas as conquistas do Grêmio Esportivo, Grêmio de Esportes e outros grêmios que vieram a seguir.

Em 30 de setembro de 1990, sofreu um grave acidente de carro quando retornava de Anápolis (GO) com a equipe da Rádio Atalaia. Ele estava em companhia do narrador Denival Pinto e do comentarista e empresário Edson Campos.

Valdir era o repórter da equipe que havia ido a Anápolis fazer a cobertura do jogo entre Anapolina e Grêmio válido pelo Campeonato Brasileiro. No acidente, quebrou a perna esquerda. Submeteu-se a várias cirurgias, mas nunca mais andou normalmente. Denival quebrou algumas costelas e Edson teve escoriações.

Até pouco antes de morrer, em dezembro de 2000, o paulista de Álvares Machado, que chegou ainda menino a Maringá, escrevia a sua coluna De olho em tudo no O Jornal do Povo. Ainda “catando milho” com os dois dedos indicadores.

Em 2002, a administração do Partido dos Trabalhadores, que tinha como prefeito José Cláudio Pereira Neto, deu ao ginásio de esportes da Vila Olímpica, o nome de Valdir Pinheiro.

A sugestão partiu do professor e historiador Reginaldo Benedito Dias, que era o chefe de gabinete; sugestão acatada pelo prefeito e pelo então secretário municipal de Esportes Mário Verri.

O então vice-prefeito João Ivo Caleffi, que viria a ocupar a chefia do Executivo mairngaense, foi quem assinou o decreto oficializando o nome "Valdir Pinheiro" àquela praça esportiva.

Verri, que é vereador em sua segunda legislatura, diz que a escolha do nome de Valdir Pinheiro para o ginásio é uma justa homenagem da cidade a um profissional que teve sua vida intimamente ligada ao esporte de Maringá:

“Valdir Pinheiro foi um pioneiro da imprensa maringaense, amigo de todos. Além do futebol profissional da cidade, em que era um dos maiores conhecedores e um apaixonado torcedor, divulgou o esporte amador de Maringá tanto na sua coluna em todos os jornais em que trabalhou como nas emissoras de rádio.”
Valdir entrevistando o Rei Pelé em Maringá virou foto de capa, em junho de 1974
(Reprodução)

No acidente de 1990, Valdir teve séria lesão na perna. O pioneiro do jornalismo esportivo de Maringá morreu em dezembro de 2000
(Foto - arquivo Jornal do Povo)
FOTO DA CAPA DO JORNAL O DIÁRIO DO NORTE DO PARANÁ NO DIA 29 DE DEZEMBRO DE 2000


TEXTO DO JORNALISTA EDIVALDO MAGRO, EDITOR-CHEFE DE O DIÁRIO EM 2000
 (clique no texto para mehor leitura)



quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Sempre tecendo a fantasia

Os primeiros livros que comecei a ler eram pequenos, de capas duras e escuras, de letras miúdas, de muitas páginas. Fui apresentado a eles no já longínquo 1968. Meu Deus! O tempo passou e eu estou passando pela vida tão rapidamente que não sei se vou poder ler todos os livros que prometi.
A história começa com meu pai me mandando para um internato católico de Ponta Grossa, o Verbo Divino. Faz tempo, mas me lembro muito bem da disciplina que nos era imposta: trabalho, estudo e oração, não necessariamente nesta ordem. O domingo era livre e tínhamos como opções, no período da manhã desse abençoado dia, a retirada de livros da biblioteca e a confecção de terços. O futebol estava liberado à tarde.
Como nunca fui bom em trabalhos manuais, ignorava o alicate, os arames e as contas, e ia buscar um livro, que poderia ser devolvido no domingo seguinte. Não me recordo de nenhum título. As lembranças são difusas quanto às histórias que li. Eram, em sua maioria, fábulas, ensinamentos cristãos etc etc. E põe etc nessas recordações
Eu era um moleque que adorava futebol, paixão que carreguei pela vida sem que precisassem me incentivar. Já a paixão pela leitura começou naquelas viagens catequéticas entre santos e mártires, ou mártires que se tornaram santos, a fé e a caridade, a criação do mundo...
Uma história que me marcou foi a de Maximiliano Kolbe, o padre que se ofereceu para morrer em Auschwitz no lugar de outro preso. Kolbe virou santo e eu deixei o Verbo Divino. Melhor dizendo: fui tirado de lá. A percepção do meu pai de que eu jamais me tornaria padre e a saudade que a minha mãe tinha do filho de 11 anos forçaram o retorno.
Não vou listar os colégios pelos quais passei nas décadas seguintes porque não considero relevante e também porque não sobraria espaço para contar sobre minha fissura pelos gibis.
Aliás, “fissura” é bem anos 70, não? Pois foi nessa época que fiz dos gibis os meus parceiros. Meu avô Bastião tinha um açougue em Maringá, na Vila Operária, quase em frente à Igreja São José. A banca de revistas ficava próxima ao Cine Horizonte, no prédio novo, na avenida Riachuelo.
Minha tia Léa, que também é minha madrinha, sempre me arrumava uns trocados. Invariavelmente, o dinheiro ia para a banca e para a padaria da Zeca, que ficava ao lado do açougue. Quando não estava na sala de aula ou nos campinhos jogando bola, lia gibis e comia tortas de banana. No intervalo da obrigação e da alegria maior, acompanhava as peripécias de Bil Kid, David Crockett, Batman, todos da Disney, e do melhor, o mais temido, o inesquecível Fantasma, o espírito que anda.
Ainda naquela década surgiu a revista semanal Placar, especializada em futebol. Chegava às bancas na quarta-feira. Lia no mesmo dia. Tinha quase todos os exemplares e podia recitar escalações de times, resultados e títulos, falar da Seleção Brasileira e das Copas. O gosto pela leitura da Placar despertou em mim a escrita. Foi a minha porta de entrada no jornalismo.
Companheiro nas aventuras desses heróis intrépidos e lendários e de tantos outros, que a empoeirada memória não consegue mais se lembrar, e jogador de futebol imaginário ao lado de craques como Pelé, Tostão e Gérson, teci a fantasia da minha infância que continuo a usar até estes dias reais.
Os livros, as revistas e os gibis ainda me remetem a muitos mundos. Os sonhos ainda não foram embora. Acho que eles estarão comigo permanentemente. Assim, faço um cotidiano mais leve e tento não levar tão a sério as inevitáveis agruras diárias. As publicações são paradoxais. São fuga e tentativa de compreender a vida. Elas abrem perspectivas. São os canais para o entender o ser humano e se entender.
São muitas histórias dentro das minhas histórias. Folheando páginas intermináveis, que começaram contando a vida do agora santificado padre Kolbe; passando pelo Fantasma, montado em seu cavalo Herói; pelo romântico futebol, em que a batida da bola acelerava o coração, e o amor à camisa movia o jogador; nos romances, em que o bem sempre vencia no final; nos exemplos de vida e nas nada exemplares biografias; e hoje, ainda vagando pelo passado, no presente carimbado nos jornais, e na comportada angústia do que virá. Vou folheando páginas. Vou tecendo a fantasia. Apesar da rudeza, dos contornos reais, a fantasia nunca vai cessar.
Texto de Antonio Roberto de Paula publicado na revista Maringá Ensina, edição de agosto-setembro-outubro 2010