
“Querida Dadá – Folgo em saber que ainda pensas em mim. Fiquei deveras preocupado ao saber, através desta missiva tensa e apaixonada, que estás deixando de cumprir teus deveres. Tu bem sabes do meu temor em relação ao álcool. Apavoro-me com a idéia de tu saíres com teus amigos e atravessares noites em claro bebendo e pouco se alimentando. Os anos vão te cobrar mais tarde. Hoje tu tens apenas 27, mas é preciso que prepares o teu futuro levando uma vida saudável no presente. Confesso que me entristeci sobremaneira com as saliências de teus caros amigos. Não ousei responder-lhes porque entendo ser minha altivez a melho
r resposta. Busquei ignorá-los, que é onde se enquadra a minha índole. O meu afastamento abrupto e, garanto-lhe, momentâneo, foi para que eu me recolhesse e analisasse, isento de interferências, esta nossa relação. Concluí, minha querida, que os meus dias convergem para os teus, que, juntos, as nossas noites têm a mesma intensidade, que a minha vista do horizonte é a mesma que a tua, enfim, que os nossos sonhos se completam. Amo-te com todas as minhas forças, inclusive com aquelas a que tu te referiste, e mesmo quando o físico me impossibilitar de materializar esta paixão estarei com o coração transbordando de amor. Esta tua correspondência me encheu de felicidade. Poderia ligar-te, mas certamente não conseguiria exprimir todo o meu sentimento. Breve te encontrarei e peço-te que não preocupes com pequenos problemas. Um beijo do Lourival, ou, como tu preferes, Lori.”

(Livro Da minha janela, publicado em 2003)