sexta-feira, 22 de maio de 2009

Um anjo chamado Vó Maria

Hoje, acordei pensando na minha Vó Maria, que nos deixou em 2005, aos 89 anos. Jesus Cristo disse que na casa do Pai tem muitas moradas. Então, estou convicto de que Deus a chamou para morar numa delas. O sinônimo de Vó Maria era caridade. Pelo bem que essa mulher fez na terra, teve bônus de sobra para entrar no reino dos céus.

Ela era pobre, mas isso nunca foi empecilho para ajudar as pessoas com um prato de comida, um agasalho, um par de sapatos e até uns trocados. Quando penso nela, vem imediatamente a lembrança de um coração bondoso.

Morei com a Vó Maria em Maringá nos meus tempos de garoto. Primeiro na avenida Mauá e depois na sossegada Floriano Peixoto, Vila Sete. Alguns baluartes da mediocridade passaram a chamar o bairro de Zona Sete.

Neste lugar, localizado entre a Igreja Divino Espírito Santo e a avenida São Paulo, reduto da comunidade japonesa, passei bons momentos na primeira metade dos anos de 1970. Na casa simples de madeira, que ainda está de pé, vivi sem grandes preocupações. A vida naquela época só não era um paraíso porque havia uma eterna pressão: o número exagerado de notas vermelhas no boletim.

Uma pressão que começou nos primeiros anos de escola, se estendeu pela adolescência e terminou quando pararam de pedir para os pais ou responsáveis assinarem o dito cujo.
Minha vó sempre ameaçava contar minhas desobediências para o meu pai, genro dela. Ameaçava e contava. Não todas, porque se assim o fizesse, acho não estaria aqui para lembrar essa e outras histórias.

O velho não tinha o costume de ouvir os dois lados, como geralmente se faz hoje em dia. Ele sempre ouvia um só lado, que nunca era o meu, e decidia que eu era o culpado. Por isso, a Vó Maria me ameaçava cada vez que eu chegava tarde, matava aula para jogar bola, quando respondia para ela e minhas tias e coisas do tipo.

Era sua ferramenta para tentar me travar. No final, eu sabia que ela pegaria leve no relatório para o meu pai. Eu era o seu neto mais velho e abusava desta condição. E ela fazia vista grossa até porque meu comportamento não era assim tão condenável.

Levo comigo uma culpa que não vai me abandonar enquanto pisar este chão. Nos seus últimos anos de vida, a visitava poucas vezes. Quando isto acontecia, eu fazia uma brincadeira qualquer e ela, debilitada, me endereçava um sorriso – misto de reprovação pelas minhas longas ausências e de alegria por me ver – como se eu ainda fosse aquele moleque levado que sabia que seria perdoado. A Vó Maria foi e é um dos meus anjos.

(Antonio Roberto de Paula - Texto publicado no jornal O Diário do Norte do Paraná, dia 11 de janeiro de 2009)

Nenhum comentário: