quarta-feira, 17 de junho de 2009

O mundo é um outdoor

Os outdoors me perseguem, me cobram e querem me deixar em baixo-estima. Impossível passar indiferente por aquelas enormes placas que anunciam de tudo: jeans, camisas, ternos, cama, mesa e banho, carros, shows, perfumes, eletroeletrônicos, computadores, motéis, advogados, cursos, relógios, excursões, celulares, operadoras, calçados, lojas e shoppings... Ofertas, promoções, descontos, prazos, sorteios, cheques pré...

Os outdoors mudam de cara toda semana. Novas marcas e tipos surgem nos retângulos espalhados na zona central e nas entradas da cidade. O Novo Centro de Maringá se tornou o oásis dos outdoors. Enquanto não se completam as construções daquela nobríssima área, os terrenos vagos vão sendo ocupados pelas gigantes propagandas.

Entre as que se destacam, que há algum tempo não é reformado, para a alegria geral masculina, é a do anúncio de uma empresa de lingerie. Uma mulher de calcinha e sutiã tomando todo o espaço. Um democrático espaço de visualização, pois enquanto as mulheres analisam as peças, a gente analisa como as peças ficam na moça.

Voltando aos outdoors mutáveis. Quanto mais olho para eles, mais eu me sinto fora do que está contextualizado ou do que é proposto a ser. Olho para a marca e o estilo do meu relógio e não são aqueles em exposição. Gosto de sapatos, talvez a única extravagância que faço na vida é comprá-los além do que permite minhas irrisórias posses.

Mas nos outdoors não vejo nenhum modelo parecido com meus pares. Não consigo acompanhar as tendências. Olho para os que estou calçando e percebo uma defasagem de pelo menos uns três anos.

Nada demais. É só seguir que logo a próxima propaganda vai fazer com que eu me esqueça desta. Vem mais uma cobrança. “Você tem que ser mais e melhor”. Recebo o aviso. Melhor: assimilo o golpe. O bom de ter uma certa idade é que você não veste todas as carapuças que lhe oferecem. Se eu não fizer o tal curso, não dirigir o tal carro e não viajar para tal lugar, minha vida vai seguir. Então, que ela siga sem eles. Mas, convenhamos, dá uma vontade de fazer o tal curso, dirigir o tal carro e viajar para tal lugar. Ah, isso dá.

É o poder da propaganda, que tem a precípua função de nos informar que a gente pode ter acesso ao mundo dos felizes, belos, simpáticos, saudáveis e bem sucedidos seres. Mas que, por mais que se esforce, você nunca vai estar inteiramente dentro. Sempre faltará algo. Então, lancemos mão da reconfortante frase do francês George-Louis Leclerc, o Conde de Buffon (1707-1788): “O estilo é o próprio homem”.

(Antonio Roberto de Paula - publicado no jornal O Diário do Norte do Paraná, dia 26 de agosto de 2007)

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