O afável Antonio, que vivia a brincar com as letras, partiu na segunda-feira, dia 10. O meu xará fechou a janela serenamente e foi fazer versos em outros lugares. A literatura nos fez amigos, mas nunca consegui deixar de chamá-lo de seu Antonio. Nossas conversas, invariavelmente, eram sobre poesias, crônicas e histórias que poderiam parar em livros. O divertido Antonio iluminava qualquer ambiente.
Em dezembro passado ele meu autografou seu último livro “Paraíso e outros contos”. E foi naquele mês, num sarau, que tive a honra de vê-lo declamar uma poesia que fiz em homenagem a Maringá chamada “Teus longos verões”. Procurei imagens daquele dia. Revi fotos e vídeo do poeta Antonio, feliz, falando da sua cidade numa reunião de amigos.
O Trópico de Capricórnio atravessando teu coração, terra vermelha arroxeada. As tuas matas tropicais com os teus longos verões. Vermelho-roxo coração, mata e calor dos trópicos, sol intenso e brilhante. Vejo Antonio declamando, trazendo a emoção que cada palavra exigia. Tenho tudo documentado. Mais: tenho tudo guardado no coração.
O boa-praça Antonio, que fazia dos encontros que promovia ou em que comparecia uma celebração, se despediu sem aviso prévio. Aproveitou seus últimos dias fazendo o que mais gostava: organizando eventos e recebendo amigos. Sua razão de viver era unir pessoas em torno de algo que realmente valesse a pena. Antonio soube viver.
No seu cartório, clientes e poetas, escrituras e poesias viveram em harmonia. A estante lotada de livros na sala onde dava expediente e recebia os amigos materializava a paixão pelas letras. Seus versos em mais de uma dezena de publicações mostram seu talento e amor pela poesia. Os amigos que conquistou, de todos os cantos e idéias, comprovam o quanto é bom viver na busca da paz e do entendimento.
Antonio carregava na palma da mão sua Academia, sempre falando com orgulho e satisfação dos escritores, das conquistas, das reuniões e dos projetos. E agora a gente fica contando histórias do Antonio poeta, vereador, deputado, cartorário, nascido na paulista Cedral em 1941, maringaense do distrito de Floriano e que formou uma bela família. A gente fica preenchendo o vazio com ternas recordações do digno Antonio.
Recordações como naquela noite de dezembro, quando o vibrante Antonio declamou os últimos versos da poesia sobre a Cidade Canção: Puxo a felicidade para cá. Nem sei se é verdadeira, mas faço a ode costumeira e sigo a buscar emoções sob os teus longos verões. O poeta Antonio fechou a janela e entrou no coração da gente. Eternamente.
(Publicado no jornal O Diário do Norte do Paraná, dia 16/03/08)
Um comentário:
De Paula, excelentes, corretos e exatos os textos sobre o Facci.
Uma pessoa única, era amigo e educado. Insubstituível.
Nestes momentos de dor e perda Deus nos conforta com novas descobertas (ou nos ajuda a confirmar antigas impressões). Você, De Paula, tem a alma iluminada, vive do bem, acredita na poesia - como o Facci.
Este é o mundo dos meus sonhos, onde as pessoas sejam capazes de se respeitar, de ajudar os outros, mesmo com a simplicidade dos versos, ou apenas com a douçura das palavras amigas ou através de abraços silenciosos e solidários.
Valeu amigo! Ao lembrar do grande Facci você mostra sua grandeza e nos anima a continuar acreditando que a caminhada da vida precisa valer a pena e ter sentido. Sentido que deveras tem, a começar pelos amigos de verdade. Tão raros, mas sempre imprescindíveis.
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