sábado, 25 de abril de 2009

Raízes dos momentos felizes

- Zizi, sabe aquela música?
- Aquela que você vive cantando e assobiando? “Todo mundo tem um amor na vida e por ele tudo é capaz.”
- Você tá de brincadeira. Nem tô lembrado disso.
- Como, não? Desde que te conheço, do nada vem a imitação do Leno e da Lílian:”Eu tenho uma paixão que é proibida só porque sou pobre demais.”
- É outra música.
- Qual?
- Regra Três, do Vinicius e do Toquinho.
- Canta um pedacinho.
- Aquela que a gente cantava com os amigos no bar, lembra?
- Já faz tanto tempo... Canta um pedacinho.
- “Tantas você fez que ela cansou, porque você rapaz, abusou da regra três.”
- Assim você me entristece.
- Pôxa, mas por que?
- Eu me sentia a própria regra três, a reserva.
- Não acredito que você tá me falando uma coisa dessas.
- É meu caro, trinta anos se passaram, mas quem apanha não esquece.
- Lá vem a dramática.
- Dramática, não. É a pura verdade. Pensa que eu não sei dos teus rolinhos com a Rosana, a Cíntia. Que ódio! Só de lembrar da cara da Cíntia, parece que vai me dar um treco. A Ana Maria também...
- Você tá de brincadeira. Nunca tive nada com elas. Tudo amizade.
- É, me engana que eu gosto. Mas o que deu em você pra lembrar desta música?
- Tava pensando como é importante ter alguém do lado e respeitar. E esse alguém não pode nunca perder a esperança, acreditar sempre no companheiro e saber perdoar.
- Pera aí, Eugênio. Vai devagar com o andor. Pelo que eu sei, a letra não é bem isso que você tá dizendo. É o contrário: ela manda o cara passear.
- Certo, certo. Mas ela radicalizou. Quero dizer que a música é uma lição para o cara aprender a respeitar a mulher. Agora, tem o seguinte: ela tem que saber perdoar.
- Geninho, canta mais um trecho pra mim. Espera aí! A gente não tem ela num CD?
- Tem nada. Já procurei.
- A música mexeu contigo...
- É, viajei pra aqueles tempos em que a gente se conheceu, da minha turma do Científico, da tua turma do Normal, da grapete, da cuba, do Continental, as músicas no toca-disco, a gente cheio de sonhos. Viajei pra lá e agora, olhando pra você, te vejo tão linda como na saída do colégio, esse eterno sorriso.
- Pôxa, foi lindo isso. Me emocionei... Bateu uma saudade. Canta mais um trechinho.
- “Da primeira vez ela chorou, mas resolveu ficar, é que os momentos felizes tinham deixado raízes no seu penar. Depois perdeu a esperança porque o perdão também cansa de perdoar.”
- Geninho, nunca vou perder a esperança.
- E também nunca você vai precisar perdoar. Você é minha titular absoluta desde que começamos com essa história. E sem reserva!
- Sei lá se é verdade, mas que é bom ouvir, lá isso é.
- Vem cá, Zizi.
- Geninho...

(Antonio Roberto de Paula - Texto publicado no jornal O Diário do Norte do Paraná, dia 5 de abril de 2009)

Um comentário:

Wilame Prado disse...

Oi de Paula!
Obrigado pelo comentário no blog, é sempre bom saber que caras como você leem meus textos - injeção de ânimo!
Admito, meu caro, o título paulista é de vocês, e com mérito!
Quanto à sua última crônica, parabenizo pelo modo como conseguiu transformar em prosa poética a história da família De Paula. Comemorem bastante, pois, nos dias de hoje, difícil é ver uma família unida!!

Um abraço.