Professor e historiador João Laércio Lopes Leal declamou
"E passaram 60 janeiros"
E passaram 60 janeiros
Maringá das casas de madeira
com suas singelas varandas
Cercas de balaústres
separando terrenos e unindo vizinhos
Longas conversas ao luar
Habitantes iluminados e felizes
Cúmplices de um tempo e de um lugar
Maringá da poeira e do barro
Das ruas de lâmpadas amarelas
De seus lentos veículos
Dos geradores, limpa-pés, fogões de lenha
Pomares e galinhas no terreiro
Maringá com seus homens de chapéu
Suas mulheres de sombrinha ou lenço na cabeça
Aventureiros
Eternos jovens aventureiros
Ignorando ou rindo do futuro
E fincando os pés no presente
Maringá com suas crianças
De pés descalços
Correndo livres
Subindo em árvores
Maringá domingueira
De sapatos engraxados e missa
De batizado e quermesse
Maringá festeira
Dançando nos bailes da saudade
Bailarinos da alegria e da esperança
Deslizando pelo assoalho de um rústico salão
Ao som de marchinhas e boleros
Maringá do mato e dos córregos
Dos bichos e das aves
Da botina e do facão
Do arreio e da espora
Do machado e da enxada
Do martelo e do serrote
Dos balcões dos bares
Das modas de viola
Dos desafios, das dores
E das conquistas
Chuvas de manga
Arco-íris alvissareiro
Sol brilhante
Lua cheia
E uma canção que virou cidade
Cidade que ficou sendo Maringá
A que mais dava o que falar
E a música foi atravessando o tempo
Saindo do lugarejo
Das carroças
Das jardineiras
Entrando no asfalto
Saindo das varandas e quintais
Subindo em prédios
E deixando a mata e as picadas
Entrando nas avenidas
E continua ecoando
Terra desbravada
Traçado definido
Expansão
Maringá de 60 janeiros
O avanço do concreto
Das cores e sons
Construções
E reconstruções diárias
Rápidas mutações
Inexatos entendimentos
Gente em movimento
Em todas as direções
Motores em rotação
Néons nas fachadas
O piche e novos muros
Gente que chega
Gente que vai
Volta ou nunca mais aparece
Gente que fica
Eternos jovens
De comportadas e calculadas aventuras
Maringá verde
De encantos e tensões
Acelerando
Pedindo passagem
Resoluta
Maringá pólo
De atrações gerais
De faces múltiplas
Seguindo independente
Paisagens não tão serenas
A sisudez se acentuando
A terra não tão à mostra
Os sentimentos não tão expostos
Mas ainda que mude todo dia
Ainda que a memória falhe
Que os retratos repousem
Em álbuns esquecidos
Sempre alguém vai suplicar
Para que nunca se esqueça
Da Maringá do mato e dos córregos
Dos bichos e das aves
Das modas de viola e dos bailes
Dos eternos aventureiros
Das crianças de pés descalços
Correndo pelas ruas empoeiradas
Desdenhando do futuro
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