sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Memórias de um Carnaval adolescente


Estamos no Carnaval de 1974. Olímpico e Country novamente se rivalizam para fazer os melhores bailes. Com decoração caprichada, os salões do Teuto Brasileiro, Centro Português, Maringá Clube e Acema também estão lotados. Quem é associado vai aos clubes, em pelo menos uma das noites. É uma tradição, quase uma obrigação.
Os jornais fazem ampla cobertura dos bailes. As marchinhas predominam. Sambas clássicos também são executados. Nada de sertanejo, jovem guarda, axé e pagode em ritmo acelerado. Durante meses os blocos prepararam suas fantasias. Há vários concursos. Quem não quer usar máscara, pintar a cara ou pôr roupas extravagantes vai de bermuda, camiseta e tênis Bamba.
O lança-perfume já é proibido. Proibido, mas difícil de fiscalizar. A festa vai até o amanhecer. A noite agitada termina com banhos de piscina. Os festejos do Momo começaram na sexta-feira e vão até a terça, entrando na quarta de Cinzas.
Continuamos ainda em 1974. A cidade ainda é Maringá, a região é central, o baile é de Carnaval. É o sábado de Carnaval. Mas o público não é sócio de clube, não tem fantasia, não bebe uísque e nem cheira lança-perfume. Estamos no Ginásio do Maringá Clube, batizado de Ginasião. É o baile do povão. A Prefeitura alugou o local e transformou a quadra em salão de baile. As arquibancadas são a extensão do salão. Ali se dança, descansa, se abraça e se amassa.
A folia começou às 10 da noite e vai passar das 5 da madrugada. A barra só parece ser pesada. A segurança é frouxa, não houve revista na entrada. A polícia conhece quem é quem e, portanto, não há necessidade de grande aparato. As marchinhas acionam a alegria. Os inevitáveis arranca-rabos começam e terminam rapidamente. Pessoas de todas as idades brincam no salão e nas arquibancadas.
As mulheres de blusa e short comportados e os rapazes de bermuda, sem camisas. O bar vende cerveja e destilados. A entrada nos sanitários é tumultuada. Casais se enroscam no chão, junto à parede. É a paixão e o álcool embalando o Carnaval.
Passa da meia-noite. O prefeito e a primeira dama chegam com o Rei Momo. O vocalista da banda anuncia as autoridades. Todos batem palmas. Eles estiveram em todos os clubes e não iam deixar o Ginasião de fora. Saem logo. Muita gente faz questão de cumprimentar e agradecer o prefeito e a sua, diga-se de passagem, bela esposa pela festa.
Depois de Máscara Negra vem a indefectível “Ai, ai, ai, ai, tá chegando a hora, o dia já vem raiando meu bem e eu tenho que ir embora”. Amanhece, quase todo mundo a pé, em direção aos pontos de ônibus. Amanhã tem mais. Mas os bailes populares foram para outros lugares até acabarem de vez. O Ginasião ficou aqui, bem guardado.
(Publicado no jornal O Diário do Norte do Paraná em 18/02/07)

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