Uma saudade infinita. Daquelas que divertimento nenhum aplaca. Um incômodo constante, uma dor que corrói forçando as lágrimas. Um balanço permanente de revolta e aceitação. Em certos dias a balança pende mais para um lado. Abrir a porta para esperar quem nunca vai chegar.
Tocar a vida e sentir culpa por ter esquecido ainda que momentaneamente. Momentos que duram anos. E, de repente, uma música toca. Aquela música cantada a plenos pulmões que fazia divertir os que ouviam por causa da voz desafinada.
A foto amarelada na última página de um álbum esquecido em que o clic perenizou o instante de felicidade. De repente, o retorno. Ao passar por aquele bar, onde garrafas vazias se amontoavam, naquela mesa quadrada com o logotipo da cerveja, nos enchendo de alegrias, nos fazendo indestrutíveis, sem a compreensão de que se é feliz justamente por existir um ponto final.
Se assim não fosse não se correria contra o tempo tentando abraçar o mundo. Abriríamos burocraticamente espaços para sorrir e chorar. Chorar ao recordar situações, nas coincidências de fatos, em datas específicas, como a de hoje. Uma saudade infinita acompanhada de hiatos.
Mas é preciso viver. Há uma saudade para cada um que se vai nos deixando lacunas, aumentando nossa orfandade.
Somos a soma de tudo com o que e com quem nos relacionamos. Por isso, quem parte leva um pouco da gente e deixa sua marca. Portanto, morremos um pouco em cada despedida e perpetuamos quem esteve conosco. A vida é colecionar emoções. Então não podemos deixar que a saudade interfira no processo de marcar e ser marcado pelas pessoas que amamos.
(Do livro Da minha janela, publicado em 2003)
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