terça-feira, 3 de março de 2009

Livro: “O Jornal do Bispo” – Capítulo 42 - OS CENSORES E O DESENCANTO DE DOM JAIME COM A REVOLUÇÃO DE 64

Os jornalistas sofriam censuras das mais diversas na Folha do Norte. Começava pelo próprio Assis, depois era dom Jaime. E, para completar, a Polícia Federal. O agente Guilherme dava plantão semanal na Folha. No fim, depois de tantas visitas, acabou ficando amigo do pessoal da redação.

A ação da Polícia Federal era tão intensa que até matérias policiais eram censuradas. Num daqueles anos de mordaça uma edição deixou de circular porque foi publicada uma reportagem de um indigente que havia matado um outro indigente. Os policiais não concordaram com a maneira com que o repórter Antonio Calegari havia descrito o assassinato.

Toda Sexta-feira Santa uma grande procissão tomava conta das ruas próximas à praça da igreja onde hoje é a Catedral. Dom Jaime na frente e dezenas de padres das paróquias na seqüência. No final da década de 1960, o bispo estava desencantado com os rumos da Revolução, como era chamado o Golpe Militar de 31 de março de 1964.

Nesta época, ele subia em um caminhão transformado em palanque e descarregava toda a sua ira na ditadura militar, nos adversários políticos e em quem mais quisesse. Estes discursos eram acompanhados por agentes da Polícia Federal, mas o bispo nunca foi molestado.

Quem sofria era Assis, que chegava a mandar algum de seus repórteres para gravar o pronunciamento. No sábado de manhã, ao ouvir as palavras contundentes de dom Jaime, o editor se desesperava. “Meu Deus do céu!!” “Calma, Assis, isto é só uma gravação”, diziam. Evidentemente, estes discursos nunca foram publicados.

Homem na lua em 1969: artigo de dom Jaime sobre o assunto
(Reprodução)

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