sexta-feira, 13 de março de 2009

Livro: "O Jornal do Bispo" - Capítulo 62 – POR QUE A FOLHA DO NORTE FECHOU?

Por que a Folha fechou? Porque não se modernizou, porque surgiu O Diário, porque dom Jaime já não tinha interesse em mantê-la, porque a disseminação de outros órgãos de comunicação a deixou enfraquecida, porque a última administração não conseguiu torná-la auto-sustentável ou por tudo isto, por este conjunto de fatores.

Nos depoimentos, é possível encontrar as explicações. Cada um dos que tiveram relação com a Folha do Norte tem análises próprias, mas, em sua maioria, convergentes. As razões do jornal ter encerrado as atividades estão interligadas.

Dom Jaime avalia que o fechamento ocorreu devido à seriedade do jornal, negando que tenha desistido porque já não era tão importante para a Diocese ter uma publicação como no início dos anos 1960:

“O que comprometeu a Folha foi a linha da Folha. Nem pra lá, nem pra cá, nem no centro. Nada de bandalheira pra cá, nem de bandalheira pra lá. A gente queria um jornal sério. O que comprometeu a Folha do Norte foi a sua seriedade. Não é que viesse um outro jornal para combater, não. Nós nunca quisemos combater ninguém, imprensa, nada disso.”

Para Antonio Augusto de Assis, a Folha parou no tempo e, mesmo que se modernizasse, não haveria espaço para ela e para O Diário. Assis acrescenta ainda o desinteresse de dom Jaime:

“Fechou porque ela defasou. O equipamento dela era antigo e ficou economicamente inviável. Ninguém tinha dinheiro para pôr máquinas novas lá. A cidade também não comportava dois jornais modernos. Já tinha O Diário com equipamento novo. E a Folha com aquele museu lá, não dava. Ela foi moderna quando se instalou, mas em poucos anos ficou superada pelos novos equipamentos. E o bispo não tinha mais interesse em investir ali e os arrendatários não tinham recursos para investir também.”

O substituto de Frank Silva na Folha do Norte, Joel Cardoso, chegou a Maringá no início dos anos 1970, vindo de São José dos Campos. Na Folha ele iniciou sua carreira na imprensa da cidade. Começou trabalhando como “foca”, atuou como repórter policial, editoria local e finalmente assumiu a vaga de colunista social. Para Joel, a Folha sucumbiu diante da competitividade com outros jornais:

“Na década de 60 e início da década de 70 o domínio editorial era da Folha. Um jornal forte, que tinha como principal trunfo o fato de ter como diretor-presidente o bispo dom Jaime Luiz Coelho. Por vários fatores, inclusive por uma tentativa frustrada vendendo ações para a busca de recursos de modernização, o jornal acabou sendo terceirizado para a Editora Gráfica 10 de Maio. Na seqüência, outros jornais apareceram em Maringá e região com recursos modernos e a competitividade parece ter sido fatal para a continuidade da Folha do Norte do Paraná.”

José Antonio Moscardi culpa o desinteresse da Igreja, leia-se dom Jaime, e os conflitos entre a Diocese e direção da Folha:

“Eu acho que a Folha fechou justamente por causa da presença majoritária dela. A Igreja não tinha interesse em investir pesado na Folha do Norte para a compra de equipamentos, mesmo porque era tudo obsoleto, como linotipo, calandra. Para reverter este quadro, tinha que repensar tecnicamente 100 por cento. Jogar tudo fora e fazer o que O Diário fez. E a Igreja não tinha esse tipo de interesse. O Jorge Fregadolli, que era o gestor máximo da Folha, não tinha interesse em fazer grandes investimentos porque não estava investindo no que era dele. Por que faria isso, né? Então, ele foi levando até onde achava que dava, depois houve conflito político, uma coisa bem paroquial. Os conflitos entre a Igreja e a gestão da Folha é que determinaram o fechamento dela.”

Messias Mendes não vê relação entre o surgimento do O Diário e o fechamento da Folha:

“A Folha não se modernizou. Eu sei que depois que o Dutra e o Assis deixaram a Folha, ela caiu nas mãos do Jorge Fregadolli e ele não tinha assim tanta estrutura. A Folha se enfraqueceu. Para ela acompanhar a evolução do mercado e para ser o que é O Diário hoje, teria que ser modernizada com off-set, informatizada. Isso exigia investimentos muito grandes. Agora, porque não se aproveitou a estrutura da Folha do Norte para se fazer o que foi feito no O Diário aí é um problema que eu não sei. Não sei se a Mitra estava por trás disso, se não houve nenhum interesse em evoluir, parar por ali mesmo. Eu sei que para a época, a Folha do Norte teve um peso tão grande, às vezes maior que tem O Diário hoje.”

Wilson Serra analisa a questão desde o início da fundação. Para ele, foi dado “um passo maior do que a perna”:

“O jornal sempre teve problemas de gestão administrativa. Ele nasceu com o oneroso objetivo de concorrer com o Última Hora. Para concorrer com um dos principais jornais do País era preciso muito investimento. Foi um passo maior do que a perna e o jornal fechou temporariamente. Foi reaberto por Dutra e pelo Assis. Foi, certamente, a melhor, quem sabe a única, época empresarial do jornal e, portanto, a mais sólida, e mais estável. Entretanto, e também não sei quais os motivos, Dutra abandonou a sociedade para abrir um novo jornal. Sem a visão empresarial de Dutra – Assis era um jornalista e poeta, sem sequer um novo investimento tecnológico desde a sua fundação, a Folha foi cedendo espaço para O Diário, já impresso em off-set. Acabou fechando.”

A concorrência de um contraponto editorial e a falta de um perfil empresarial definido foram, para Reginaldo Benedito Dias, as possíveis causas do fechamento:

“Não posso assegurar, mas especular algumas hipóteses. A primeira é que talvez a linha editorial de O Diario tenha se mostrado mais atraente em um mercado que não permitia muitos concorrentes. Então esse era um aspecto, o contraponto editorial. Outro aspecto que merece ser investigado é que, pelo que consta, a Folha do Norte não tinha o perfil empresarial muito profissionalizado. Então, talvez Maringá precisasse de um jornal com um perfil empresarial mais definido.”

Verdelírio Barbosa é incisivo ao negar que a abertura do O Diário implicou no fechamento da Folha:

“Não, não. A Folha vinha mal há muito tempo, tanto é que quando assumiu lá, o Joaquim Dutra, com o Assis, esse pessoal, a Folha já estava até desativada, então não teve influência nenhuma, não. A Folha já estava com os dias contados.”

Moracy Jacques pensa totalmente o contrário de Verdelírio:

“Foi uma transformação, porque eu considero hoje O Diário, a Folha do Norte que cresceu.”

Ao explicar as razões do fechamento, Joaquim Dutra ressalta que os objetivos de dom Jaime nunca foram comerciais:

“Não podemos pensar em jornal daquela época como hoje. Antes era tudo muito caro. Dom Jaime tinha a Folha como um veículo de comunicação social, o sonho dele não era comercial, queria um veículo que representasse a Igreja, que divulgasse a Igreja. A Folha não fechou comigo. Depois que saí, não sei os rumos que a Folha tomou. Quero frisar que eu e dom Jaime sempre nos demos bem. Ele é uma pessoa que prezo muito.”

Além da Folha não ter se modernizado, Elpídio Serra atenta para um outro fato que, em primeira instância, balançou as estruturas do jornal do bispo:

“Quando o Joaquim Dutra e o grupo da Rede Paranaense de Rádio montaram O Diário o que eles fizeram? Pegaram 100 por cento da equipe da Folha do Norte. Na época, o jornal tinha um fusca que distribuía o jornal, que fazia reportagem, que levava o vendedor de publicidade, que transportava o diretor. Era um fusca para todas as funções."
Walter Poppi acompanha a opinião de Elpídio:

“O Joaquim Dutra saiu e fundou O Diário. Aí ficou o Assis e o Fregadolli e começou a desavença com dom Jaime. Ficou aquele atrito uns quatro ou cinco anos. O Diário começou com off-set e a Folha ficou com aquela rotativa lá e quando dava defeito não tinha mais técnico. O pessoal já estava todo modernizado. O fator mecânico também influenciou. Funcionários começaram a sair. Foi uma crise.”

Pelo que se pode depreender, os mais variados fatores determinaram o fechamento. O que fica latente, sobretudo, é a constatação de que o jornal precisava ser empresa para crescer ou se manter, mas dom Jaime quis continuar a abrigá-lo em sua paróquia. Quando já não era mais possível lutar contra os ventos da modernidade, quando percebeu que o jornal fugia de seu controle e que a missão estava praticamente cumprida, o criador matou sua cria.

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