terça-feira, 10 de março de 2009

Livro: "O Jornal do Bispo" - Capítulo 56 - UNIÕES E ATRITOS AO LONGO DOS ANOS

Nas administrações de Luiz de Carvalho e Adriano Valente à frente da Prefeitura de Maringá, os repórteres ficaram engessados para tecer críticas ou quaisquer comentários desairosos. Carvalho e Valente tinham laços de amizade com o bispo e foram grandes colaboradores na construção da Catedral Nossa Senhora da Glória, o que João Paulino não havia sido.

Em 1973, quando a Catedral já havia sido inaugurada, Silvio Barros assumiu a prefeitura e, depois de muito tempo, os repórteres puderam exercitar a lavra ofensiva, que há muito tempo estava represada. Não durou muito. Joaquim

Dutra havia deixado a Folha e o grupo que assumiu precisava de outros recursos além dos comerciais. Neste período, percebe-se críticas esporádicas e amplas reportagens relacionadas à administração municipal.

Silvio e dom Jaime se atritaram inúmeras vezes. Se dependesse do bispo, as críticas à administração municipal seriam maiores, mas o jornal não estava nas mãos da Diocese.

O prefeito ameaçava cobrar na Justiça os impostos dos imóveis da Igreja quando era atacado na Folha, deixando dom Jaime possesso. Neste período entra em cena com mais vigor a figura do colunista político, que não tinha vínculo empregatício com o jornal e, na maioria das vezes, podia escrever o que quisesse.

O colunista servia aos interesses do jornal quando era necessário fazer pressão para obtenção de vantagens. Algo comum hoje em dia não apenas em Maringá.

Na volta de João Paulino à prefeitura, em 1977, os tempos eram outros, o jornal estava preocupado em se manter e não havia espaço para jornalistas panfletários, para os que defendiam uma causa ou uma posição.
Havia as tais colunas assinadas, mas o espírito da redação coadunava com o departamento comercial. Por isso, enquanto João Paulino esteve no poder, a Folha, se não foi uma parceira da administração municipal, adotou uma postura quase indiferente.

Com os militares na presidência, a linha continuava inalterada: sem críticas e com grandes espaços para os releases do Planalto.

Também sem alterações com os que sucederam Pimentel no Palácio Iguaçu: Haroldo Leon Peres, Parigot de Souza, Emílio Gomes, Jaime Canet e Ney Braga, de volta, nomeado por Figueiredo.

Verifica-se em relação à Câmara Municipal um acompanhamento discreto. A divulgação de projetos perde espaço para questões político-administrativas envolvendo vereadores e prefeito, eleições da Mesa Executiva e uma ou outra contenda entre os edis.

O Legislativo maringaense foi utilizado várias vezes para que a Folha pudesse colocar João Paulino em situação desconfortável. Se a relação de JP com a Folha foi conflituosa, principalmente na primeira gestão, ela não foi diferente com a Câmara Municipal.

Existem contradições nas afirmações dos dirigentes do jornal e dos repórteres quando o assunto é repasse de dinheiro por parte do poder público para divulgação. Dom Jaime nega. Joaquim Dutra diz que em alguns casos a Folha recebia por anúncios institucionais. A maior parte dos repórteres confirma.

Trata-se de um assunto nebuloso. É possível afirmar que nas mãos da Diocese a Folha não recebia do poder público porque ela era auto-sustentável. Já com os arrendatários, principalmente na fase final, nota-se um volume maior de matérias informando sobre os trabalhos que estavam sendo realizados na administração municipal.

A Folha não diferiu em nada da maioria dos jornais de hoje, que sobrevivem graças ao atrelamento ao poder, sacrificando a informação. “Você é pago para fazer matérias, não para vê-las publicadas” ou “Se você quer independência, monte um jornal para você”. Estas frases, até hoje ouvidas em redações, raramente eram dirigidas aos repórteres da Folha. Eles já sabiam de antemão o que deveria ser feito.
Dom Jaime fazia restrições aos militares depois de 1964, mas a Folha não deixava transparecer
(Reprodução)Edição de 1974: buracos são manchete
(Reprodução)

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