segunda-feira, 9 de março de 2009

Livro: “O Jornal do Bispo” - Capítulo 55 – O MOÇO QUE AJUDAVA FERVER O CALDEIRÃO

Funcionário da TCCC (Transporte Coletivo Cidade Canção) e ator de teatro amador, José Antonio Moscardi era leitor assíduo da Folha de S. Paulo, o que lhe despertou o gosto pela escrita. Por volta de 1975, ele elaborou um texto e mostrou a Pedro Chagas Neto, então editor de O Diário. Pedro gostou e disse que ele levava jeito.

Foi o sinal verde para Moscardi entrar na carreira de repórter. Sua primeira chance, no entanto, não surgiu no O Diário, mas sim na Folha do Norte. Entrou no dia 1º de agosto de 1976 e saiu no dia 1º de agosto de 1978.

Nesses dois anos, escreveu de tudo. Começou redigindo textos comerciais. Depois, Fregadolli o colocou para fazer matérias policiais.

Até Moscardi se tornar um repórter da área política, fez várias matérias do dia a dia da polícia. Encerrado o aprendizado, Moscardi passou a fazer uma coluna política chamada Caldeirão.

“Era muita polêmica na época, muita polêmica. Era uma coisa que fervia mesmo e Jorge Fregadolli tinha um cuidado para não melindrar prefeito, nem vereador, diretores de autarquia. Era assinada por mim. A coluna deu muitos problemas. Eu e o Walter Poppi éramos os redatores. Eu cobria a Câmara de Vereadores, a antiga, que ficava na avenida Tiradentes.”

Além de sofrer censura quase diária de Fregadolli, Moscardi tinha que conviver com Silvio Iwata, cuja função era diretor de setor, um nome de fachada para poder acompanhar o trabalho da redação .

“O cargo de Silvio Iwata era muito curioso: chamava-se diretor de setor. Quer dizer, é uma faca sem lâmina que perdeu o cabo. O que é diretor de setor? É qualquer coisa aí. O Assis era o diretor de redação e o Fregadolli era o comercial. Eu não sei se o Iwata tinha esse papel de censor, mas ele era o fiel da balança, ele era o elo entre o clero e a direção da empresa. Eles se entendiam harmoniosamente.”

Em 1978, Moscardi foi para O Jornal de Maringá convidado por Verdelírio Barbosa. A coluna Caldeirão já havia sido extinta. Neste período, a situação na Folha era dramática. Logo começaria a disputa entre dom Jaime e a Editora 10 de Maio. Além de Assis, que também fazia uma coluna diária, a redação contava com Walter Poppi, Renato Diniz Dominici, que tinha o apelido de Chumbinho, os fotógrafos Jorge Tazima e João Mantovan, e os colunistas Jorge Fregadolli, com sua Vitrine, e Joel Cardoso, que assumira o social no lugar de Frank Silva.

A Folha do Norte teve para Moscardi um significado similar a de outros órgãos de comunicação em que trabalhou, entre eles a revista Pois É, da década de 80. Instado a comentar sobre algum fato realmente representativo na sua passagem de dois anos na Folha, Moscardi num grande esforço, se lembra de um furo de reportagem dado pela Folha.

Um furo não apenas nos jornais do Estado, mas também nos de circulação nacional, que teve a participação decisiva dos contatos de dom Jaime com o Vaticano.

“Quando o papa morreu em 1978, morreram dois papas naquele ano e nós tivemos três papas. Aí a Folha deu um furo naquela época. Então o jornal esgotou nas bancas naquele dia, na morte do papa. Nós conseguimos segurar o jornal até às 22 horas e fazer a notícia.”

O papa Paulo VI faleceu em 06/08/78. Seu sucessor foi João Paulo I, que faleceu em 28/09/78. João Paulo II assumiu em 16/10/78, ficando no comando da Igreja Católica até 02/04/05, data da sua morte.

Se a Folha não marcou tanto a vida profissional de Moscardi, pois lá ficou apenas dois anos, na pessoal ela foi decisiva. Foi na Folha que ele conheceu Shirlei, que trabalhava como secretária. Lá começaram a namorar e pouco tempo depois se casaram. Moscardi e Shirlei têm três filhos. Aos 54 anos, ele é dono de gráfica em Maringá.


Moscardi: emprego e casamento na Folha

(Foto: José Roberto Furlan)

Nenhum comentário: