quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

APRESENTAÇÃO LIVRO ONLINE - O JORNAL DO BISPO

O Jornal do Bispo – A história da Folha do Norte do Paraná foi o tema da minha monografia de conclusão do curso de Comunicação Social no Cesumar (Centro Universitário de Maringá), em 2001. O título do trabalho foi Os homens da Folha do Norte do Paraná. Passados oito anos, houve a necessidade de realizar muitas atualizações para a publicação. Decidi também alterar o título.

A Folha do Norte do Paraná ficou conhecida, com toda a razão, como o jornal do bispo. Quem viveu em Maringá e na região nos anos em que o jornal circulou sabe os motivos do cognome. Se você não viveu aquela época, vai saber depois de ler este livro.

Vários foram os motivos que me levaram a escrever sobre a Folha. Ela ficou marcada na história de Maringá, pois representa a passagem do jornalismo artesanal e romântico para o profissional e quase impessoal. A Folha cresceu com a cidade, mas sucumbiu diante da modernidade.

Analiso ser importante resgatar a história da Folha porque não existe nenhuma publicação a respeito. No Museu Diocesano, localizado no quarto piso da Catedral Nossa Senhora da Glória, e no Museu da Universidade Estadual de Maringá, é possível conhecer parte da história, através dos exemplares catalogados.

No entanto, não há registro de depoimentos específicos de diretores e jornalistas que pertenceram ao jornal. A história da Folha estava, até então, materializada nas publicações. O relato dos personagens deu alma à frieza das páginas amarelas guardadas nos museus.

Este trabalho tem a pretensão de mostrar aos que querem enveredar pelo tortuoso e gratificante caminho do jornalismo a motivação daqueles profissionais, o trabalho num jornal em que a Igreja Católica era a patroa e o relacionamento com os poderes constituídos.

Tenho esta pretensão, mas mesmo que não a atinja já estarei colaborando para contar, sob o meu ponto de vista, construído através dos relatos ouvidos de profissionais que atuaram no jornal, este período do jornalismo maringaense, que teve início em 1962 e terminou em 1979.

Sinto-me gratificado em saber que a monografia sobre a Folha, tem sido fonte de consulta de estudantes do curso de Comunicação Social. Mas, entendo que é necessário que mais pessoas, das mais diferentes áreas de atuação tenham acesso a um importante capítulo da história de Maringá.

Ressalto que O Jornal do Bispo é um levantamento jornalístico e não um trabalho histórico. Esclareço que não tenho sequer noções de metodologia para desenvolver um amplo trabalho de pesquisa histórica. Quis, contudo, que houvesse um respaldo histórico. Prevalece o meu conceito sobre a Folha, mas tudo dentro da fidelidade que me foi passada pelas entrevistas e documentos.

Para a composição deste trabalho, tive que realizar pesquisas na Arquidiocese de Maringá, Museu Diocesano, 2º Cartório de Registro de Imóveis, Títulos e Documentos, Junta Comercial do Paraná, Prefeitura do Município de Maringá, Câmara do Município de Maringá e arquivos pessoais. Em 2001, protocolei ma Prefeitura de Maringá requerimento solicitando uma certidão de atividades da empresa Folha do Norte do Paraná S/A, mas a Secretaria de Fazenda informou que não havia nenhum documento a respeito.

Ao longo dos meses, conversei com muitas pessoas, entrevistei dezenas. Antes de iniciar o trabalho, já esperava as dificuldades. Tracei um rumo, que alterei logo na primeira entrevista. A cada contato com um entrevistado aumentava a aflição. A insegurança só veio a diminuir à medida que os fatos foram sendo delineados e as checagens feitas através dos depoimentos.

Alguns entrevistados tiveram que ser estimulados vendo as publicações da Folha para lembrarem do trabalho que lá realizaram. Moracy Jacques, o fotógrafo que mais tempo trabalhou no jornal, não pôde colaborar com nenhuma fotografia para a realização deste trabalho.

Em que pese o seu esforço e da sua família na procura, nenhum material foi encontrado em sua residência e na sua produtora de vídeo. Não existe um arquivo de fotos da Folha. As que obtive foram de ex-funcionários.

Idealizei esta obra partindo do pressuposto de que a história teria que ser contada, evidentemente, pelos personagens que a viveram, tendo, porém a liberdade de fazer minhas considerações quando as julgasse necessárias. As minhas impressões estão respaldadas nas informações que me foram prestadas pelas pessoas citadas nos capítulos, pelos sentimentos que captei e emoções que senti.

É por isso que tomo a liberdade de escrever esta apresentação em primeira pessoa, já que este é um trabalho que considero minha realização pessoal, uma idéia que há muito estava na minha cabeça e que hoje coloco à disposição das pessoas para contribuir com o resgate de parte da história da imprensa de Maringá.

Felizmente, pude entrevistar as pessoas que exerceram papel fundamental na história da Folha do Norte do Paraná, como o 1º arcebispo de Maringá, dom Jaime Luiz Coelho, os arrendatários Joaquim Dutra e Jorge Fregadolli, e o jornalista Antonio Augusto de Assis, que permaneceu durante 12 anos como diretor de redação.

Felizmente também consegui tomar depoimentos de outros profissionais que, se não tinham posição de grande destaque, contribuíram sobremaneira para a execução desta tarefa com valiosas informações técnicas e pessoais. As referências às citações do entrevistado estarão no corpo do texto e não em anexo para facilitar a leitura e impor mais força aos capítulos.

Quase todo entrevistado, quando remetido para algum lugar do passado, faz aflorar situações que julga devidamente sepultadas. É criada, então uma empatia. O entrevistador não fica imune e procura se posicionar neste lugar do passado. Para mim não foi difícil porque cheguei em Maringá em 1959 e algumas lembranças da década de 1960 e muitas da década de 1970 carrego comigo.

Algumas figuras de proa da Folha já não estão entre nós, como Antonio Messias Pimenta e Waldir Pinheiro. Assim como o colunista Osvaldo Lima, que foi entrevistado para este trabalho. José Torres, o Padre André, há muitos anos saiu de Maringá sem deixar endereço. Não consegui contato com os jornalistas Antonio Calegari, Francisco de Oliveira, o Mini-Chico, entre outros. Apesar destes hiatos, pretensiosamente afirmo que os objetivos foram alcançados.

Asseguro que não foi tão difícil fazer com que os entrevistados “soltassem a língua” em questões tidas como polêmicas, como a venda das ações para a instalação da Folha e os embates entre dom Jaime e os arrendatários. Avalio que o fato da Folha ter fechado suas portas há décadas, os espíritos estejam desarmados hoje.

Dom Jaime Luiz Coelho, que havia me concedido entrevistas em outras oportunidades, se mostrou receptivo. Ao contrário das outras vezes, em que queria informações sobre o que seria divulgado, nesta isto não aconteceu. Acrescento que o arcebispo não leu nenhum capítulo deste trabalho.

Das 21 entrevistas, 19 foram gravadas em fitas K-7. O material está arquivado com as degravações correspondentes. Wilson Serra e Joel Cardoso responderam as perguntas via e-mail. É importante frisar que dezenas de pessoas colaboraram para a pesquisa sem que tenham sido oficialmente entrevistadas, como Hélio Baiardi Oliveira, João Amaro Faria, Ercílio Santinoni, entre outros que, com suas informações e sugestões, colaboraram sobremaneira para a execução desta obra. Ao longo deste trabalho, sempre que solicitados para dirimir dúvidas, esclarecer pontos ou acrescentar informações, os 21 entrevistados, em sua maioria, mostraram grande boa vontade.

O Jornal do Bispo é, em linhas gerais, uma homenagem a dezenas de profissionais, alguns dos quais tive o prazer de trabalhar e desfrutar de sua amizade, que ajudaram a construir Maringá fazendo um jornalismo com amor e determinação.

Nenhum comentário: