sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Livro: "O Jornal do Bispo" - Capítulo 1 - A PERSONALIDADE

Dom Jaime Luiz Coelho é uma das personalidades mais marcantes e longevas da história de Maringá, tendo chegado a cidade em 1957. Nascido em Franca-SP, no dia 26 de julho de 1916, foi o primeiro bispo diocesano e o primeiro arcebispo, sendo substituído por dom Murilo Krieger em 1997.

O principal marco de dom Jaime na cidade é a Catedral Nossa Senhora da Glória, o imponente monumento de 124 metros de altura, inspirado antagonicamente no foguete russo Sputinik, que começou a ser erigido no início dos anos de 1960 para ser finalmente inaugurado em 1972. Dom Jaime foi o inspirador da obra, enfrentou resistências, buscou recursos junto ao poder público e aos fiéis de todas as classes sociais e concretizou o sonho de ver a Igreja Católica ostentar em Maringá o maior e mais alto templo religioso. É o décimo mais alto monumento do mundo e o segundo da América do Sul.

Foi também o fundador da Folha do Norte do Paraná. Dom Jaime pensava longe. Queria fazer da Folha o maior jornal do interior do Brasil para combater o esquerdista (como era chamado pelos militares e pela Igreja, e não sem razão) Última Hora, de Samuel Wainer. Se não chegou a tanto, o jornal do bispo pelo menos passou a ser uma referência no Estado para os leitores de mais de cem cidades e até onde alcançava seu poder junto às dioceses.

A sua ojeriza ao comunismo fez com que criasse a FAP (Frente Agrícola Paranaense) para se tornar uma barreira contra os vermelhos. Apoiou entusiasticamente a Revolução (termo utilizado pela ditadura militar) de 31 de março de 1964. A Folha, desde o primeiro exemplar, serviu aos interesses dos militares.

Ela propagandeou o capitalismo americano e execrou os marxistas. Sem partido, dom Jaime conclamava os católicos a perseverarem na fé cristã para resistir aos assédios dos que incentivavam uma mudança sem os dogmas da Igreja.

Com os militares no poder, o bispo colocou um freio no veículo de propaganda ambulante que a Folha se tornara antes de 31 de março. Passou para os questionamentos. A guerra declarada contra o comunismo já não era a sua principal bandeira de luta. Dirigiu suas baterias contra Moysés Lupion, o governador que virara as costas para Maringá.

Coerente na escrita, onde exercitava sua lavra todos os domingos na Folha ou quando havia uma ocasião especial, tornava-se eloqüente e temerário no púlpito, destilando toda a sua revolta e decepção.

Teve participação ativa na criação da Faculdade de Ciências Econômicas, o embrião da Universidade Estadual de Maringá, liderou um sem número de grupos de apoio às entidades assistenciais e foi um dos fundadores da TV Cultura, afiliada da Rede Globo na cidade.

Era amigo pessoal de Ney Braga. O governador o chamava carinhosamente de “meu padrinho”. Desde que chegou em Maringá, no dia 24 de março de 1957, vindo de Ribeirão Preto (SP), não se manteve distante da política partidária.

Enquanto combatia Lupion, quando chegou a encetar um movimento com outros bispos, tendo como objetivo a criação do Estado do Paranapanema, e enquanto defendia Ney Braga, se tornando o seu cabo eleitoral número um no norte do Paraná, não se descuidava da política doméstica.

Era um dos maiores líderes numa cidade que contava com cerca de 100 mil habitantes no final da década de 1950 e início da década de 1960. Uma liderança que unia a religião à política. Obter seu apoio era mais que meio caminho andado para a vitória. João Paulino, amigo de Lupion e prefeito em duas oportunidades, nunca fez parte do círculo de amigos de dom Jaime. O reflexo e a comprovação disso estavam nas páginas da Folha. Com espaço similar, ficou registrada no jornal do bispo a estima por outros dois prefeitos: Luiz de Carvalho e Adriano Valente.

Claro e definido, ele angariou admiradores e adversários ao longo das décadas. As maiores críticas dizem respeito ao provincianismo com que Maringá se manteve durante seu bispado e arcebispado e o fato de se aproveitar da sua liderança para interferir na política local.
Os elogios decorrem do seu espírito empreendedor, que extrapolou suas funções de religioso, e a defesa intransigente de Maringá, se tornando uma pedra no sapato dos governos Estadual e Federal.

Na década de 1970, tornou-se mais comedido e menos expansivo nos apoios, mas é notório que os principais candidatos iam à Catedral pedir sua bênção. Em 1979, brigou na Justiça para ter a Folha do Norte de volta. Vitorioso, fechou as portas do jornal para nunca mais abri-las. Hoje, aos 93 anos, não totalmente livre de suas obrigações sacerdotais, dom Jaime tem consciência do seu papel na história da cidade, porém, evita polêmicas, normalmente rejeita renovar discussões quando o assunto diz respeito a Maringá e seus políticos.

Em períodos eleitorais, contudo, seu espírito político aflora e retoma a antiga contundência, como se constata até hoje em seus artigos publicados na página 2 do O Diário do Norte do Paraná, desde que o jornal foi fundado em 1974.

O primeiro arcebispo de Maringá faz desse espaço dominical um de seus últimos redutos para fazer valer sua opinião sobre temas que envolvem principalmente política e religião. O púlpito continua a ser outro meio utilizado.

A Folha foi o paladino da moral e dos bons costumes. Se a moral e os bons costumes são termos subjetivos, que variam de lugar e de época, dom Jaime foi, em Maringá, a objetividade para definir estes conceitos. A história de dom Jaime é grande parte da história da cidade.


Dom Jaime, o fundador da Folha do Norte do Paraná
(Foto: Henri Júnior)

Ney Braga, em 1963, em Maringá, com dom Jaime. O governador chamava o bispo de “meu padrinho”
(Foto: arquivo pessoal de José Aparecido Borges)

Dom Jaime é entrevistado por Lindolfo Luiz; prefeito de Maringá, Américo Dias Ferraz à sua esquerda, em 1957
(Reprodução - Foto: Arquivo Museu Diocesano de Maringá



Um comentário:

Anônimo disse...

Grande De Paula. Parabéns por esta grande iniciativa. É gratificante conhecer a história da imprensa descrita em fatos concretos. Valeu!