sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Livro: “O Jornal do Bispo” – Capítulo 35 – POLÍCIA FEDERAL INVADE A FOLHA DO NORTE E EMPASTELA EDIÇÃO

Nos meses que antecederam o Ato Institucional nº 5, o AI-5, o golpe fatal no resto de democracia, decretado em dezembro de 1968, os movimentos grevistas pipocavam no País. No dia 1º de outubro, Maringá entrou no circuito grevista. Os empregados da Cia Norpa Industrial, empresa que comprava e industrializava soja, cruzaram os braços.

Foi a primeira greve da história de Maringá. O Jornal de Maringá chegou a publicar matéria a respeito da onda de paralisações, que incluía a cidade. No dia 5, chegou a dar o seguinte título: “Maringá pode parar”.

Escrever sobre greves na Folha não era permitido por dom Jaime. o arrendatário Joaquim Dutra concordava que o jornal não deveria se meter em assuntos que desagradavam o governo Federal.

Ocorre que no dia anterior à greve da Norpa, os repórteres da Folha resolveram entrar no clima, escrevendo matérias a respeito. Afinal, aquilo que estava acontecendo era uma grande novidade e um jornal como a Folha, que ia para todas as cidades da região, não poderia ficar indiferente.

Mais do que a motivação esquerdista, valia era a novidade. Por volta da 1 da madrugada do dia 1º de dezembro, quando os protestos em frente à Norpa começaram, a redação da Folha foi invadida.

Houve vazamento de informação. A Polícia Federal de Londrina ficou sabendo que ia ser publicada a matéria e mandou seus agentes para Maringá. O editor Elpídio Serra estava naquela hora na redação esperando o jornal ser rodado.

“O agente Guilherme, eu me lembro dele até hoje. Ele disse: -Vocês estão publicando. Eu disse: - Não, não estou publicando. E aí, enquanto eu estou falando com ele, um outro agente já está na oficina, já tinha empastelado o jornal. Enquanto eu estava discutindo com ele, dizendo que não estava publicando nada, já tinham mexido na página toda. Então o jornal não publicou nada.”

A direção da Folha foi informada do episódio logo em seguida, mas partindo da premissa de que “bom cabrito não berra” Joaquim Dutra preferiu não polemizar. Com dom Jaime foi o contrário. Não somente ficou revoltado com o ocorrido, considerando uma afronta, como, logo de manhã, foi à Norpa apoiar o movimento.

O bispo assumiu declaradamente a posição ao lado dos grevistas. Para Elpídio, o episódio ilustra a personalidade de dom Jaime, que quando tomava uma posição ia até o fim. A sua coragem em tomar posições contrárias ao regime militar foi alimentada pela mudança do discurso da Igreja, que intensifica a discussão sobre os excluídos neste período.

Elpídio elogia esta postura do arcebispo, se recordando de um outro fato:

“Dom Jaime nunca vacilou. Se ele achou uma posição, vai até o final, ele não arreda, ele tem palavra, ele sustenta o que diz. Quando houve o assentamento em Paranacity, a terra invadida era da Usina Santa Terezinha, um grupo forte em Maringá, economicamente. Aí dom Jaime vai para lá e a expectativa dos empresários é de que ele vai mandar as pessoas se retirarem. Dom Jaime rezou a missa e disse: - Vocês ficam, vocês têm direito, a terra pertence a vocês! Um discurso totalmente diferente de antes. Ele mudou e quando mudava, mudava em função dos fatos novos e sustentava a mudança.”

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