quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Livro: “O Jornal do Bispo” – Capítulo 13 – OS SONHOS DO PADRE ANDRÉ

O padre José Torres, ou padre André, como era conhecido, havia chegado ao norte do Paraná em 1950, vindo de Minas Gerais. Dom Jaime tinha tanta confiança nele que o colocou na direção da Folha do Norte. Em 1960, confiou-lhe a organização da venda das ações. Padre André era um dos maiores acionistas. Na assembléia geral extraordinária para deliberar sobre o aumento do capital social em 10 de outubro de 1961, dom Jaime adquiriu 600 cotas e padre André veio em seguida com 100, assim como dois outros padres da Diocese de Maringá.

Na entrevista concedida à revista NP, de Aristeu Brandspein, em setembro de 1962, pouco antes do lançamento da Folha, é possível perceber a ambição do padre André Torres em relação à Folha do Norte. Seguramente, ele não estava em Maringá apenas para cumprir suas obrigações sacerdotais. Também é de se supor que pelo menos parte deste estado de espírito tomava conta dos membros da Diocese.

Para um bispo que tinha a intenção de dividir o Paraná, formando o Estado do Paranapanema, os objetivos eram bem mais abrangentes do que a circulação do jornal. A revista NP, de 3 de setembro, em seu editorial, divulgou os sonhos do padre André, que eram os sonhos da Diocese de Maringá.

“Será lançado em Maringá, como primeiro passo para a estruturação de uma poderosa cadeia regional de órgãos de informação, o matutino “Fôlha do Norte do Paraná”. Trata-se de um investimento da ordem de CR$ 100 milhões, com sede própria provisória, rotativa em fase final de montagem, oito linotipos, tituleira, material completo de clicheria e estereotipia, etc. A iniciativa é comandada pelo Padre André Torres, que não limita seus projetos ao matutino, que está para sair. Os planos do Padre André empreendem: a) transformação da “Fôlha do Norte do Paraná” em jornal do norte do Estado, efetivamente; b) criação de uma cadeia de jornais locais, capitaneados pelo órgão diário regional; c) seis estações de rádio disseminadas por aquêla região paranaense; uma estação de TV em Maringá; d) o lançamento da revista “Paraná em Foco”, rodada com apresentação de jornal, na rotativa da “Fôlha do Norte do Paraná”, que tem mais de 2 mil acionistas participando do empreendimento. E pretende lançar (ainda este mês) com 32 páginas e em duas cores; está contratando pessoal e se propõe a incrementar a posição de Maringá como centro geográfico e de irradiação econômica sôbre a zona do café. A distribuição da “Fôlha” será feita aos municípios mais afastados por avião, que se pagará também no transporte de passageiros. Um detalhe: o Padre André espera rapidamente aumentar sua circulação. “O segrêdo é levar o matutino também à zona rural.” O plano é simples: a distribuição será realizada nas escolas – os professores entregarão, todo o dia, o jornal aos alunos cujos pais sejam assinantes. A “Fôlha do Norte do Paraná” terá ampla cobertura da Igreja no interior do Paraná. “Nosso jornal” – disse a NP o Padre André – “Não será de direita nem de esquerda, mas de centro, no que esta palavra significa em termos de democracia. Faremos um jornal católico, mas não um jornal religioso.”

A maioria destes sonhos não chegou a ser realizado. Em menos de dois anos no comando da Folha, padre André foi defenestrado do cargo antes mesmo de Joaquim Dutra assumir como arrendatário. Padre André perdeu o cargo, deixou a batina e foi embora de Maringá. Ninguém sabe para onde.



Operários da construção civil dão uma pausa no trabalho, na avenida Brasil, no início dos anos de 1960
(Arquivo pessoal de José Aparecido Borges)


Avenida XV de novembro, em 1963; à esquerda o edifício Maria Tereza, em construção
(Arquivo pessoal de José Aparecido Borges)

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