sábado, 7 de fevereiro de 2009

Livro: "O Jornal do Bispo" - Capítulo 4 - EFERVESCÊNCIA

O professor e historiador Reginaldo Benedito Dias, que já escreveu vários livros e artigos sobre a história político-administrativa de Maringá, confirma, embasado nas pesquisas que realizou, a similaridade da cidade com os demais municípios do país em relação à influência comunista nos movimentos sindicais.

¨Em Maringá, a força comunista estava concentrada nas lideranças dos sindicatos rurais, destacando a figura de José Rodrigues dos Santos, que participou da formação de sindicatos rurais e urbanos, sendo o primeiro presidente da Federação dos Trabalhadores Rurais do Paraná e fundador da confederação da categoria.Dias cita ainda o sindicalista José Lopes dos Santos e o vereador comunista Bonifácio Martins, que era filiado ao PR (Partido Republicano) na legislatura 1956-60 e ao PST (Partido Social Trabalhista) na legislatura 60-64. Essas escolhas partidárias eram necessárias porque o PCB (Partido Comunista do Brasil) estava na ilegalidade. Reginaldo fala da importância de Bonifácio Martins:“Ele teve um papel destacado na luta por moradia. Era um grande orador e ficou perpetuado na memória do maringaense não apenas como um vereador comunista, mas também como um grande vereador. Um vereador que até hoje se inclui entre os melhores porque só visava ao papel do parlamentar, no sentido de propor projetos, de fiscalizar o Executivo, de fazer o grande debate e de ter essa face característica de mobilizar a população."


A afirmação de que a Folha do Norte foi criada com o claro objetivo de fazer frente à influência do marxismo é referendada por Dias:

Aquela conjuntura histórica era marcada por acentuada polarização ideológica. Era os tempos da “guerra fria”, a polarização ideológica liderada pelos EUA e pela URSS. Para proteger o seu rebanho da influência da esquerda marxista, dom Jaime e os bispos paranaenses propuseram formas de organização próprias aos católicos. Os trabalhadores do campo, vistos como mais suscetíveis, foram privilegiados por meio da Frente Agrária Paranaense. A criação da Folha do Norte faz parte desse embate ideológico. A Igreja era ciosa da importância dos grandes meios de comunicação para a evangelização. Dom Jaime tivera intimidade com a mídia radiofônica e viria a participar da fundação da Televisão Cultura em Maringá.

O professor e historiador Dias explica o posicionamento de dom Jaime e da Igreja Católica antes de 1964:

"O movimento de 31 de março de 1964, que depôs o presidente João Goulart, foi o desenlace da disputa ideológica daquele período. O bispo e o prefeito, acompanhados pelas principais autoridades do município, apoiaram o movimento. Na verdade, a cúpula da Igreja Católica brasileira apoiou a ruptura institucional de 31 de março, chamada por seus autores de “Revolução” e pela historiografia de “Golpe de Estado”. A Igreja Católica julgava a intervenção temporária e necessária para espantar o fantasma do comunismo."

E depois de 1964:

"Entretanto, no final da década, uma vez consolidada a ditadura, a Igreja mudaria seu posicionamento, cerrando fileiras com a oposição. Postou-se ao lado das vítimas da repressão. Na década de 1970, viria a exercer notável e decisivo papel na articulação do povo para as lutas da redemocratização. Dom Jaime, em outras ocasiões, externou solidariedade a movimentos sindicais, como em 1968, quando intermediou o fim da greve da Cia. Norpa Industrial, fato que analiso em minha pesquisa de mestrado."

Dias comenta sobre Bonifácio Martins, José Rodrigues dos Santos e José Lopes dos Santos após 31 de março:

"De qualquer forma, em 1964, naquele clima instaurado, as principais lideranças de esquerda foram alvejadas pelos tentáculos do aparato repressivo do regime instaurado. Bonifácio Martins não foi cassado pela Câmara Municipal, mas, por razões de segurança, evadiu-se de Maringá. José Rodrigues dos Santos e José Lopes dos Santos, que estavam desempenhando funções sindicais no Rio de Janeiro e em Curitiba, tornaram-se clandestinos. Os três foram processados pelo regime. José Rodrigues dos Santos viria a ser preso na década de 1970, por meio da Operação Marumbi. Só voltaria a morar em Maringá na década de 1990."

Reginaldo Benedito Dias, que foi chefe de gabinete da administração petista em Maringá, na gestão 2001-2004, era criança quando estes fatos aconteciam, mas hoje, sendo professor e historiador e, mais ainda, pelo fato de ter nascido em Marialva e chegado ainda pequeno a Maringá, ele tem a noção, ainda que parcial, do que a Folha do Norte representou e da influência de dom Jaime:


“Quando conheci a Folha do Norte era um jornal que atuava num circuito mais ou menos normal porque a FAP foi se desarticulando depois do golpe militar. O bispo tinha lá a sua coluna, era um jornal que tinha uma linha bem definida. Agora, não dá para subestimar a influência do bispo na década de 60. Hoje, muita gente não tem idéia de qual era a influência do bispo na cidade, naquele momento.”

Sobre a dimensão da liderança do bispo, explica:

"Quando dom Jaime chegou a Maringá para a implantação da Diocese, a cidade não havia consolidado grandes líderes políticos. Os dois primeiros prefeitos não tiveram sucesso na construção dessa liderança. Foi então que chegou dom Jaime, com vocação e talento para a liderança, e preencheu esse espaço."

Dom Jaime concede entrevista a Lindolfo Júnior. À esquerda, Ivens Lagoano Pacheco
(Reprodução – foto Museu Diocesano)

Professor e historiador Reginaldo Benedito Dias:“As principais autoridades de Maringá, o prefeito e o bispo, apoiaram o movimento de 31 de março de 1964, crentes de que era necessário, no clima de polarização ideológica da “guerra fria”, deter a ascensão do comunismo no Brasil”
(Foto de 2001 - Assessoria de Imprensa -Prefeitura Municipal de Maringá)

Os principais objetivos da Folha do Norte era propagar a fé cristã e combater o comunismo
(Reprodução)



Jornal Última Hora - agosto de 1961: renúncia de Jânio Quadros da Presidência da Reública e a volta de Jango ao Brasil. Dm Jaime queria fazer da Folha o maior jornal do interior do Brasil para combater o Última Hora, de Samuel Wainer. O azul da capa da Folha do Norte e o nome do jornal em branco com fundo azul não foram simplesmente coincidências
(Reprodução)

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