quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Livro: “O Jornal do Bispo” – Capítulo 32 – O CACHIMBO PELO EMPREGO

No final de 1963, Messias Mendes, então com 14 anos, era o office-boy da agência de notícias Transpress. Ele corria, literalmente, para as emissoras de rádio e redações dos dois jornais da cidade, levando matérias nacionais e estaduais.

O trabalho era cansativo. Depois de fazer a entrega de um lote de matérias lá vinha outro. E assim foi levando até 1965, quando a Transpress fechou em Maringá. O contato diário com o ambiente das redações fez com que Messias fosse pedir emprego na Folha, já sob nova direção, arrendada para Joaquim Dutra e Antonio Augusto de Assis, tendo Ivens Lagoano Pacheco como editor-chefe.

“O Ivens é uma espécie de referência da história do jornalismo de Maringá. Muito irreverente, naquela irreverência gaúcha, ele brincou comigo. Era para eu comprar um cachimbo para ele, e se ele gostasse do cachimbo eu estaria empregado.”

E lá foi Messias tentar cumprir a missão para obter o emprego. Passou na Livraria Iracema, do cearense Ermenegildo Gomes de Castro e, sendo baiano da Pintadas, invocou a solidariedade nordestina.

Na livraria, que também era um bazar e abrigava quinquilharias de toda a espécie, Ermenegildo escolheu o mais bonito cachimbo. Messias levou para Ivens, que botou o fumo e acendeu. Em seguida, mandou contratá-lo e já sapecou-lhe um apelido que felizmente não saiu da redação: Perereca. O motivo até hoje é inexplicável.

O garoto Messias passou a trabalhar com um grupo de primeira. Além de Ivens e Assis, compunham a redação os irmãos Serra, Ismael, Elpídio, depois Wilson; o respeitado repórter policial Antonio Calegari, que se tornou editor-chefe do Jornal do Comércio, no Rio de Janeiro; Quester Carrara, atualmente um especialista na área educacional; Borba Filho, editor de esportes, que depois se tornou técnico de futebol; Valdir Pinheiro, que de tipógrafo passou a colunista esportivo, entre outros.

Esta proximidade com a redação e o gosto pela escrita, no entanto, não foram suficientes para que Messias começasse de cara a escrever na Folha. Teve que trabalhar na expedição, fazer pacotes de jornal, subordinado de Elpídio Serra e depois companheiro de Serrinha, o Wilson, hoje editor-chefe da Rede Paranaense de Televisão.

“Eu estava sempre escrevendo, mostrando meus textos, alguns achavam que eu tinha jeito.”

Messias criou coragem e pediu uma chance para escrever sobre amadorismo. Wilson Serra, que deixou o jornal para trabalhar na TV Tibagi, era o responsável pela coluna Amadorismo e o indicou para substituí-lo.

Do esporte amador para o profissional, do profissional para o policial. Em jornal do interior na década de 1960, fazia-se de tudo, passava-se pelas editorias constantemente. Até hoje é assim em muitas cidades.

O Grêmio Esportivo de Maringá era uma das maiores forças do Estado: bicampeão paranaense, tri do norte. A Folha destinava amplo espaço ao futebol, dedicando até três páginas ao Galo do Norte e aos clubes paulistas.

Apesar de dom Jaime ter arrendado a Folha, ele mantinha um representante na redação. No final da década de 60 era o seu sobrinho João Amélio. E foi João Amélio o responsável pela saída de Messias do jornal.

“Ele continuava achando que eu tinha de trabalhar como office-boy. E aí ele mandou eu entregar leite. Eu tinha de entregar leite nas casas dos funcionários. Mas, eu já era conhecido e tinha que sair pedalando bicicleta... Eu disse: - não vou. Então, ele disse: - tá na rua. Então, tudo bem. Ele me demitiu.”

Da Folha para o O Jornal, onde ele ficou quatro anos. Depois para a Rádio Atalaia fazendo sonoplastia para os apresentadores de programas Santana, Tatá Cabral e Frambel Carvalho.

O passo seguinte foi a Folha de Londrina, vindo depois as assessorias, o SBT e a direção da seccional maringaense do Sindicato dos Jornalistas de Londrina. Depois de 46 anos, ainda na labuta, o baiano de Pintadas enfatiza o romantismo que predominava na época. Destaca a gana na busca da informação, a verdade a imperar, a ética a prevalecer. As românticas redações ficaram perdidas no tempo.

"Hoje, a preocupação é com o aperfeiçoamento técnico. O jornalismo está igual ao futebol: aumento da competitividade e diminuição da arte."


Grupo de funcionários da Folha do Norte, em 1966: Messias Mendes é o garoto agachado, à frente
(Foto - arquivo Gumercindo Carniel)
Messias Mendes: primeiro chefe foi Ivens Lagoano Pacheco
(Foto: Nelson Jaca Pupin)

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