terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Livro: "O Jornal do Bispo" – Capítulo 23 – A ROTATIVA DA DISCÓRDIA

Em 1973, Joaquim Dutra pensou em modernizar a Folha. Resolveu comprar uma rotativa off-set sem consultar dom Jaime. Foi a Curitiba e manteve contato com o representante paranaense da empresa norte-americana Tejaner, que comercializava a máquina. As negociações começaram e só não foram concluídas porque surgiu um complicador.

Um complicador que atendia pelo nome de dom Jaime, o presidente-proprietário do jornal. Ao ficar sabendo da compra, o bispo não gostou nada da idéia. Ele não concebia o fato do arrendatário fazer uma mudança tão brusca no matutino sem sequer pedir sua opinião.

A off-set seria a primeira do norte do Paraná. Nem a Folha de Londrina, que a cada dia se solidificava, possuía uma. Além do próprio espírito centralizador de dom Jaime, que nunca gostou de ficar fora das decisões, havia uma outra preocupação. Dutra analisa que o bispo temia perder o controle da Folha.

Para acalmar dom Jaime, dirimindo quaisquer dúvidas, o arrendatário foi conversar com o bispo, praticamente pedindo uma autorização para a compra. Tudo esclarecido e imaginando que a situação estava resolvida, Dutra acertou a compra com a Tejaner, pagando US$ 100 mil pela rotativa. Contudo, a relação com o bispo voltou a ficar complicada. Dom Jaime proibiu que a rotativa fosse colocada na Folha. Dutra é quem conta:

"Foram dizer para o dom Jaime que eu queria ficar dono do jornal dele. E isso nem passou pela minha cabeça. Dom Jaime ia para a Europa naqueles dias e me avisaram que era bom eu conversar com ele antes de viajar porque ele não estava querendo mais que eu colocasse a máquina. Mas eu já tinha comprado. Então eu fiquei coagido, entre a cruz e a espada. Eu comprei uma máquina caríssima." Dom Jaime ficou irredutível, a máquina chegou, ficou na caixa e Dutra ficou desesperado. Ele reitera que não queria e nem tinha condições de tomar o jornal do bispo, pois era simplesmente o arrendatário. Tentou contornar a situação, mas foi em vão. "Tenho a impressão que foram envenenar o dom Jaime. E daí, eu fiquei com a máquina e pensei: - O que eu faço agora?"

Com uma máquina de US$ 100 mil na mão, sem poder utilizá-la e sem poder cancelar o contrato com a empresa norte-americana, apelou para seus sócios e amigos da Rádio Cultura e propôs montar um outro jornal na cidade. Samuel Silveira, Carlos Piovezan Filho e Reginaldo Nunes Ferreira toparam a empreitada.

O grupo contava ainda com um irmão de Dutra, que residia em Arapongas. Na sua saída, Dutra desfalcou a Folha, levando vários profissionais, entre eles, Frank Silva. No dia 29 de junho de 1974, surge mais um jornal em Maringá: O Diário do Norte do Paraná. Com impressão em off-set e Rubens Ávila como chefe de redação. Dom Jaime nas oficinas da Folha, ao fundo os radialistas da Cultura, Ferreira Sobrinho e Sônia, do Clube do Caçula, na década de 1960
(Arquivo pessoal de Gumercindo Carniel)

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