terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Livro: "O Jornal do Bispo" - Capítulo 7 - A MONTAGEM

Entre julho e agosto de 1962, dom Jaime e os padres da Diocese de Maringá tinham outras atribuições além das missas e o atendimento aos fiéis. A venda de ações seguia de vento em popa, com Pimenta no comando da equipe. Agora, a preocupação era formar a equipe que iria trabalhar no escritório, na redação e nas máquinas.

A sede seria no prédio de madeira, na avenida Duque de Caxias, nº 284, com saída para a rua Néo Alves Martins, onde hoje funciona a agência do Banespa, que passou a ser Santander. Uma extensa área, formando um “L”, que abrigava o setor administrativo, redação e oficinas, nesta ordem. Há controvérsias quanto ao proprietário do imóvel. Dom Jaime diz não se lembrar quem era o proprietário. Joaquim Dutra, que arrendou o jornal em 1964 afirma que mensalmente pagava, além do arrendamento, o aluguel para a Diocese de Maringá.

Na Prefeitura de Maringá, o tempo e a desorganização se encarregaram de consumir os documentos de 40 anos atrás dos imóveis da quadra 28 da zona 1, onde se localizava a Folha do Norte. O imóvel já estava sob a responsabilidade de dom Jaime bem antes da abertura do jornal. Como prova foi a assembléia geral realizada no dia 27 de janeiro de 1962, na Duque de Caxias, nº 284.

Para fazer funcionar o melhor jornal do interior era necessário bem mais do que rotativas de última geração. O material humano era escasso e dom Jaime não queria profissionais do O Jornal de Maringá. Não apenas para não criar atrito com o concorrente, mas principalmente porque o intuito era fazer da Folha uma grande novidade, uma inovação profissional e material na imprensa da cidade.

Profissionais de peso não topariam sair das capitais para se aventurar no que era, até então, um projeto de publicação. Por isso, os primeiros trabalhadores da Folha do Norte foram recrutados, em sua maioria, na cidade. Além de padres da diocese, como o padre Novaes, dom Jaime buscou radialistas que tinham programas na Cultura e Difusora e escolheu estudantes do curso científico. Foi dessa maneira que Frank Silva e Tatá Cabral, repórteres da Cultura, e Borba Filho, comentarista esportivo da Difusora, acabaram tendo o primeiro contato com o jornal. E da mesma forma os estudantes José Aparecido Borges, hoje aposentado da Câmara Municipal de Maringá, Nilton Pereira, juiz de direito, considerado um brilhante editorialista, e João Amaro de Faria, advogado que já foi procurador jurídico da Câmara Municipal.

Como fotógrafo, foi contratado Reinaldo de Almeida César, que faleceu em setembro de 2001, em Curitiba. O gosto pela fotografia o tornou um empresário bem sucedido, sendo dono da rede de Fotos Íris. Gumercindo Carniel, que nunca havia visto uma impressora na vida, ficou responsável para chefiar a equipe que trabalharia nos maquinários.

Dezenas de garotos iriam fazer a entrega do jornal nas residências e na venda avulsa. Nas primeiras edições, a Folha publicou o seguinte anúncio: “Seja repórter amador da Folha do Norte do Paraná. Telefone para 2904 e 2832”.

O diretor superintendente era J. Torres, que vinha a ser o padre André. Compreensível a duplicidade de nomes porque, em algumas congregações, o sacerdote acrescenta o nome de algum apóstolo ao seu ou simplesmente retira o nome de nascimento. Padre André era o braço direito de dom Jaime, era o financeiro da Folha do Norte. Como diretor responsável foi chamado Hugo Mendonça de Sant’ana.

Na região, a Folha se estruturou de uma maneira bastante sólida. As paróquias pertencentes à Diocese de Maringá ficaram encarregadas da distribuição dos jornais. Para garantir a entrega, além dos ônibus de passageiros, foram adquiridos cinco jipes, número que triplicou em menos de dois anos. Somente o jipe conseguia enfrentar a precariedade das estradas. A lama e os buracos não impediriam que a Folha estendesse seus tentáculos para cerca de cem cidades, inclusive na divisa com o Mato Grosso.

A venda de anúncios era feita por uma equipe comandada pelo padre André. Se, para ser inaugurada, a Folha dependesse do departamento comercial para vender assinaturas, ficaria apenas no sonho de Dom Jaime. Naquela época, o escandaloso número de analfabetos somado ao avassalador poder do rádio, inviabilizava qualquer publicação. Somente através das ações avalizadas pela Diocese foi possível colocar o jornal em funcionamento.

A rotativa de segunda mão, adquirida em São Paulo
(Arquivo pessoal de Gumercindo Carniel)
Neste prédio, na avenida Duque de Caxias, funcionava o setor administrativo da Folha
( Tabajara Marques)
Onde hoje é a agência do Santander, na rua Néo Alves Martins, ficavam as oficinas
(Tabajara Marques)

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