sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Livro: “O Jornal do Bispo” – Capítulo 15 – JOÃO PAULINO E OS CONFLITOS COM A FOLHA DO NORTE E COM DOM JAIME

Com João Paulino Vieira Filho à frente da Prefeitura de Maringá, a Folha do Norte do Paraná foi aberta e fechada. JP, como era conhecido, governou o Município de 1960 a 1964 e de 1977 a 1982. A Folha foi fundada em 1962 e cerrou as portas em 1979. Apenas uma coincidência, afirmou o ex-prefeito, que durante seus 80 anos de vida foi também advogado e promotor público.

Tendo a franqueza como uma de suas principais virtudes, João Paulino foi daquela estirpe de políticos em fase de extinção, que não queria e nem sabia adotar posturas para agradar, abominava eufemismos e dizia o que pensava “na lata”. O tempo não abrandou ou alterou seus conceitos, mantendo por isso, até seus últimos dias, um grande número de admiradores e, como não poderia ser diferente, um séquito, ainda que menor, de adversários.

Com a imprensa, o relacionamento sempre foi dos mais difíceis. JP justifica que nas duas oportunidades em que assumiu a Prefeitura o caixa estava praticamente zerado, tomou medidas, principalmente na segunda gestão, politicamente incorretas ou temerárias sob o ponto de vista promocional.

“Eu também não era assim de soltar dinheiro para a imprensa ou para jornalistas. Eu me lembro que, quando assumi pela segunda vez, dispensei um monte de jornalistas que tinha verba da prefeitura, como também acabei com aluguel pago para delegados, para a Junta de Conciliação e Julgamento, para entidades e autoridades. Fui limpando para fazer a prefeitura ressurgir. Claro, os jornais precisariam de dinheiro para sobreviver e o grande anunciador seria a Prefeitura. Isto criou uns embaraços.”

Se não bastassem as diferenças com jornais e jornalistas, a relação com dom Jaime era conflituosa. Assuntos políticos que extrapolaram as cercanias de Maringá, ganhando contornos estaduais e até nacionais, caso das ligas camponesas e a FAP, provocaram a divisão.
Contudo, ambos mantinham o respeito mútuo, já que sabiam da importância de cada um para a cidade e por isso preferiam não abordar questões que caducaram e já haviam sido por demais comentadas em décadas passadas.

JP preferia ignorar, mas não deixou passar a oportunidade de falar sobre a construção da Catedral. Em nenhuma das três placas comemorativas, na entrada do monumento, entre as dezenas de nomes de autoridades, consta o de João Paulino Vieira Filho. O ex-prefeito confirmou que enquanto chefiou o Executivo, não doou um tostão para a construção da Catedral, esclarecendo que a lei não permitia e que se o fizesse teria que contemplar as outras igrejas.

Ressaltou, porém, que construiu a praça em torno, chegando a demolir três obras próximas para liberar o projeto paisagístico do local.

A briga com a Santa Casa por atraso da Prefeitura no pagamento, briga comprada por dom Jaime, que foi notícia na imprensa, principalmente na Folha do Norte, é outro fato lembrado por João Paulino. O pagamento voltou a ser regularizado, mas o distanciamento foi ampliado. O ex-prefeito negou que a Prefeitura tenha feito repasses aos jornais na sua gestão e, enfaticamente, disse que nunca ligou para nenhum jornalista ou dono de jornal.

E o que fazia quando uma determinada matéria o atingia ou a sua administração?
“Eu ia fazer obras. Eu ia para Curitiba atrás de dinheiro, ia para Brasília. Eu nunca me ative às discussões da Câmara, nunca ouvi e nem sabia direito o que falavam lá. O passado está lá, o presente está aqui, vamos comparar o que foi feito e o que deixou de ser feito. Como é que isto hoje está sendo apreciado. Eu deixei para o tempo julgar, porque o povo não é tolo, não é bobo, né? Então, eu não ouvia, eu cuidava da vida da Prefeitura.”

Logo no início da Folha do Norte, João Paulino passou a ocupar as manchetes. A celeuma com o vereador Helenton Borba Cortes, sobre questão partidária, era acompanhada em capítulos pelo leitor da Folha. A cada dia surgia uma declaração, que teria uma resposta na edição seguinte.

Dois meses e meio antes de falecer, quando concedeu esta entrevista (a última de sua vida, em 7 de setembro de 2001), JP lembrava que as discussões estavam restritas às questões políticas e destacava a honestidade e a credibilidade de seu oponente político.

Por maiores que tenham sido as rusgas com dom Jaime, por mais demoradas e intensas que tenham sido as polêmicas, João Paulino sempre soube fazer o devido registro histórico, colocando o arcebispo como um dos alicerces da imprensa da cidade e para quem o maringaense deve agradecer pelos seus feitos. Para a Folha, ele também destinou elogios, adjetivando-a de equilibrada e ética.

Os elogios não são gratuitos. Ao mesmo tempo em que teceu loas ao jornal do bispo, relembrou um fato ocorrido na sua segunda gestão, contraditório ao seu espírito anti-promocional e de linha dura quando o assunto tratado era verba para a imprensa. O Diário tinha iniciado uma forte campanha contra a administração João Paulino logo após a Prefeitura ter renovado contrato com O Jornal de Maringá, que continuaria sendo o órgão oficial do Município.

“Uma vez eu sofri uma campanha muito grande no O Diário, do Frank. Muito pesada. Porque ele tinha ciúme do O Jornal, que era oficial e eu não queria tirar. E eu mantinha lá no O Jornal uma verba razoável e aí fizemos um acerto no sentido de expor fatos da Prefeitura. Aí, ele parou a campanha.”

O Município passou a ter o seu próprio órgão oficial em 1983, quando Said Ferreira assumiu a prefeitura pela primeira vez. João Paulino foi candidato a vice-governador na chapa de Saul Raiz, em 1982, deixando o cargo para seu vice, Sincler Sambatti, já falecido.

JP voltou a ocupar um cargo público, em 1997, na prefeitura, na gestão de Jairo Gianoto, como presidente da Urbamar, onde ficou menos de um ano. Até o fim de sua vida se manteve na ativa, procurando se inteirar das questões relacionadas à sua fazenda próxima a Paranacity.
Além de prefeito de Maringá, JP também foi deputado federal. Nasceu em Antonina-PR, em 1921, e faleceu em Maringá, dia 20 de novembro de 2001.
1960: o prefeito João Paulino confere obras no estádio Willie Davids
(Reprodução foto - site: www.maringa.com)

João Paulino (2º à esq.) e dom Jaime, em 1963
(Museu Diocesano)

JP: “Dispensei um monte de jornalistas que tinha verba da Prefeitura”
(Antonio Roberto de Paula. Foto de 7 de setembro de 2001 )


Desfile de carros da Prefeitura de Maringá, na avenida Brasil, na primeira gestão de João Paulino - 1960-1964
(Reprodução)

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