segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Livro: "O Jornal do Bispo" - Capítulo 5 - O EMBRIÃO EM 1960

Com a ajuda do padre André Torres, cujo nome consta no expediente das primeiras edições como J. Torres, dom Jaime começou, em 1960, a lançar ações na diocese e nas cidades da região buscando angariar recursos para a fundação da Folha do Norte do Paraná. O arcebispo ressalta que a finalidade era um jornal que não visasse lucros financeiros, mas caso isto ocorresse, eles seriam destinados para as obras do Seminário Diocesano.

Os maiores acionistas eram fazendeiros e donos de cerealistas, contumazes contribuintes da Igreja. Também faziam parte desse grupo comerciantes que haviam chegado a Maringá na década de 1940 e que hoje podem ser chamados de emergentes. Nunca foi novidade pessoas abastadas contribuir com a Igreja.

Em Maringá, as contribuições eram ainda mais generosas porque prevalecia acima de tudo a pessoa de dom Jaime, que transmitia respeito, credibilidade e, podendo ser acrescentado, uma certa dose de temor. Se o padre sempre foi uma autoridade em qualquer município, o que dizer de um bispo! E estamos falando de 49 anos atrás.

Ao longo das décadas, dom Jaime esteve presente como figura de proa nos principais acontecimentos de Maringá. Para muitas famílias, seu pedido era cumprido com toda deferência. Além de todos os aspectos que cercavam sua figura, o bispo tinha muitos amigos, que havia conquistado desde que chegou em Maringá, em 1957; amigos que o tem em alta conta até hoje. Passaram 52 anos desde sua chegada e dom Jaime continua tendo ardorosos defensores, prontos para tomar partido quando seu nome vem à baila.

Voltando a 1960, o campo era fértil para a venda das ações. A maioria dos acionistas tinha a consciência de que estava ajudando a Igreja. Nem se pensava em lucro. Era uma ajuda que o comandante da Igreja Católica de Maringá e região havia pedido e ponto final.

Então, foi criada uma sociedade anônima tendo dom Jaime como diretor-presidente. Em nome da diocese não havia ações, mas as primeiras foram adquiridas pelos próprios padres da paróquia, afinal, eles tinham que dar o exemplo. Nos dois anos que antecederam o lançamento do jornal foram negociadas ações, entre ordinárias e preferenciais, com cerca de mil pessoas. Em entrevista à revista NP, em 1962, o próprio padre André confirmou este total. Ele havia chamado o gaúcho Antonio Messias Pimenta, jornalista já falecido, que tinha um texto altamente sofisticado, para organizar o grupo que iria efetuar a venda.

As denominadas ações preferenciais sem direito a voto eram vendidas a Cr$ 1 mil (mil cruzeiros) e cobrado 10% correspondente à taxa de inscrição. Na edição de setembro de 2001 da revista Suma Econômica, de circulação nacional, da Editora Tama Ltda, consta a tabela de reversão de cruzeiro para real. O cruzeiro valia, em 1961, 5 centavos de real. Portanto, a ação de Cr$ 1 mil correspondia naquele ano a R$ 50,00.

Estas ações poderiam ser adquiridas em até dez prestações idênticas representadas por notas promissórias emitidas pelo subscritor em nome da Folha do Norte do Paraná S/A . No rodapé, à esquerda do documento, ia a assinatura de dom Jaime e, à direita, a do padre André, ambos como diretores. No centro, a assinatura do representante autorizado, o agente que havia vendido as ações.

Messias e sua equipe percorreram Maringá, todas as cidades circunscritas à Diocese de Maringá e até o Estado de São Paulo, emitindo o recibo de entrada inicial para os fiéis, uma espécie de dízimo diferenciado. Dom Jaime lamenta que alguns agentes tenham vendido as ações sem explicar corretamente aos compradores o objetivo. “Alguns acionistas foram até enganados. Alguns que colaboravam conosco enganavam alguns acionistas dizendo que eles teriam parte nos lucros do jornal. Então, querendo colaborar, mas também visando lucros, o que era muito justo, também compraram ações. Mas, isso a gente não sabia. Só depois a gente ficou sabendo quando alguns acionistas reclamaram seus direitos e que vimos que fomos ludibriados por alguns desses agentes que vendiam ações.”

No Diário Oficial do Estado do Paraná do dia 29 de setembro de 1961, páginas 11 e 12, consta a publicação da Escritura Pública da Folha do Norte do Paraná Sociedade Anônima. No dia 18 daquele mês e ano, dom Jaime havia registrado a escritura pública da empresa. Além do nome do bispo, constavam os nomes dos padres José Torres, João Phillippi e José Hass Filho. A empresa estava devidamente constituída e registrada um ano depois de iniciada a venda das ações. Para funcionar o jornal, haveria outros trâmites.

Em 10 de outubro de 1961, foi realizada uma assembléia geral extraordinária, quando foi aprovado um aumento do capital social da Folha do Norte do Paraná. Antes, o capital social era de Cr$ 1 milhão, dividido em mil ações ordinárias de Cr$ 1 mil cada. Com o aumento, a sociedade anônima estava autorizada a comercializar até Cr$ 29 milhões, divididos em 14 mil ações ordinárias e 15 mil ações preferenciais de Cr$ 1 mil cada. Dom Jaime afirma que o número de ações vendidas não chegou a 20% do total autorizado. O objetivo era investir Cr$ 100 milhões em que a Folha seria apenas o projeto inicial de uma cadeia regional de órgãos de comunicação.
Na assembléia geral extraordinária realizada no dia 27 de janeiro, com início às 10 horas, na avenida Duque de Caxias, nº 284, compareceram acionistas que representavam mais de dois terços do capital social. Uma tentativa havia sido feita em 16 de dezembro de 1961 para realizar a assembléia que definiria o aumento do capital social, mas não houve quorum. Nesta reunião de janeiro, dom Jaime presidia a assembléia e o padre André secretariava os trabalhos.

Foi o padre André, na condição de diretor da Folha do Norte do Paraná S/A quem havia feito a convocação através do O Jornal de Maringá, nos dias 20, 21, 22 e 23 de janeiro daquele ano e no Diário Oficial do Estado do Paraná, nos dias 20, 22 e 23.

Ficaram definidos na assembléia os mecanismos para a efetivação do aumento de capital. As ações foram distribuídas para 743 associados de Maringá e outras 42 cidades. A chamada de capital é que deu um reforço no caixa para a instalação da Folha. Os agentes subordinados ao padre André teriam um grande trabalho novamente. Teriam que entrar em contato com os acionistas para receber parceladamente a chamada de capital. Dos Cr$ 29 milhões, dom Jaime afirma que o recebimento não chegou a Cr$ 6 milhões. Se os acionistas pagaram mais do que este valor, não se sabe. Só há desconfiança.

A cópia da ata da assembléia geral extraordinária realizada em 27 de janeiro de 1962 e os nomes dos 743 acionistas, constando o valor adquirido, nacionalidade, profissão, estado civil e cidade onde residiam, foram registrados no 2º Cartório de Imóveis, títulos, Documentos e Pessoas Jurídicas de Maringá. Os primeiros acionistas eram da Diocese
(Fac-símile)
As ações começaram a ser negociadas em 1960
(Fac-símile)

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