sábado, 7 de fevereiro de 2009

Livro: "O Jornal do Bispo" - Capítulo 2 - OS PIONEIROS DA IMPRENSA MARINGAENSE

O lançamento da Folha do Norte ocorreu em 1962. Um outro jornal surgiu na cidade doze anos antes. Foi O Jornal de Maringá, em 18 de junho de 1950. Quando se fala em pioneirismo na imprensa de Maringá aparecem os nomes de Ivens Lagoano Pacheco e Samuel Silveira e não sem razão. Foram eles que deram uma linha realmente profissional ao matutino O Jornal de Maringá. Antes, porém, um jovem casal deu início a um trabalho com pouca estrutura e muito idealismo.

O escritor Arthur Andrade sustenta em seu livro Maringá - ontem, hoje e amanhã, lançado em 1979, que coube a Avelino Ferreira, falecido em 22 de julho de 2004, com 80 anos, que chegou em 1948, a iniciativa pioneira de fundar um jornal em Maringá. Nas pesquisas que fez, Andrade obteve os depoimentos de Ferreira e sua esposa Leonor do Lago Ferreira, publicando-os nas páginas 128, 129 e 130 do seu livro. A seguir, os depoimentos na íntegra, transcritos do livro Maringá - ontem, hoje e amanhã:

“Avelino Ferreira, e eu, Leonor do Lago Ferreira, chegamos em Maringá em 19 de março de 1948, recém-casados, naquela crua, mas linda cidade. Efetivamente estávamos acostumados com a cidade grande e naturalmente foi um impacto ao defrontarmos com uma cidadezinha começando a se formar, aquele barro, aquela poeira, mas apesar disso, tínhamos dentro de nós muita vontade de lutar, de fazer nossa vida. Avelino veio para trabalhar com seu cunhado Francisco Luca, em uma alfaiataria localizada na rua Santos Dumont, em frente onde se situa hoje o Bar e Sorveteria Oriental. Em Marília, de onde procedíamos, ele trabalhava com tipografia e nesse ramo de atividade muitas vezes chegou a observar e participar da impressão de jornais. Daí o gosto pelo aspecto jornalístico e como sempre sonhou em ter um jornal, teve a idéia de montar um. Porém, não tínhamos recursos para isso. Mas nossa idéia encontrou guarida na pessoa do Sr. João de Oliveira, ex-proprietário da tipografia e livraria Maringá de quem Avelino alugou as máquinas e fundou seu jornal. Foi uma luta dramática, pois ele mesmo montava os tipos, sem o auxílio de energia elétrica que naquela época não havia chegado em Maringá. Trabalhava com uma máquina impressora à base de um motor à gasolina e à luz de um lampião. No início ele não tinha nenhum redator e era eu quem corrigia os erros de português e o auxiliava em tudo o que fosse possível para que sua idéia tivesse ressonância entre os maringaenses. Em nossa casa nós costumávamos ouvir um noticiário que levava o nome de O Jornal, Rádio Nacional do Rio de Janeiro, num pequeno rádio à bateria que trouxéramos conosco. O nosso jornal precisava de um nome, daí, por minha sugestão, surgiu a idéia de denominá-lo O Jornal de Maringá. É com grande alegria e porque não dizer com um sonho concretizado, a 18 de junho de 1950, circulava na cidade o primeiro número de O Jornal de Maringá. Nessa primeira histórica edição, se não me falha a memória, foram confeccionados cerca de trinta exemplares.”
E prossegue o Sr. Avelino: “Dentre as primeiras pessoas a receberem, lembro-me de alguns, pois todos, seria impossível já que faz tantos anos. Mas mesmo assim, recordo-me de Odwaldo Bueno Neto, Arlindo Marquesini, Angelo Planas, Napoleão Moreira da Silva, Alfredo Nyffeler, Alberto Ribeiro de Andrade, João de Oliveira, Tirso Rodrigues Alves, Dr. Jorge Ferreira Duque Estrada, Esmeraldo Leandro, Dr. Gerardo Braga, a família Peralta, e quero aproveitar para realçar o grande incentivo, o grande impulso moral que recebi de David Rabelo e da família Aliberti, sem dúvida alguma eles acreditavam no meu empreendimento. Confesso-lhe que foi uma jornada da minha vida das mais árduas, pois veja você que o jornal era composto a mão, tipo por tipo, cada letra é um tipo, e nós tínhamos de compor um dispositivo chamado componedor; depois formavam-se as colunas, fazia-se a paginação, tiravam-se provas, corrigiam-se os erros e depois disso tudo levava-se à impressora. Tudo era feito à noite onde eu trabalhava até por volta de duas ou três da madrugada e no dia seguinte, bem cedo, eu mesmo saía bem cedo para entregar o jornal e trabalhar em outra atividade profissional para sustentar minha família. Não resta dúvida que o trabalho executado era uma verdadeira obra artesanal. Devo dizer também que grande parte da população de Maringá não tinha muito interesse em que a cidade tivesse um jornal, pois algumas pessoas alegavam que era muito melhor comprar ou assinar o jornal “O Estado de São Paulo”, pois assim ficariam sabendo das notícias que se passavam no mundo e não em Maringá onde nada acontecia ou trazia ao interesse dos leitores. Talvez também por eu ter apenas vinte e dois anos, com uma idéia muito avançada para a época. Tudo é possível. Mas como você sabe, idealismo sem recurso financeiro não funciona. Daí fiquei com a responsabilidade do O Jornal durante seis meses, passando logo após o encargo a meu irmão Caetano Ferreira que, no entanto, ficou com tal incumbência durante pouco tempo. A seguir, José Saldanha, que era tipógrafo, deu continuidade ao nosso trabalho, porém, não mais como O Jornal e sim como Maringá Jornal. Aproximadamente durante um ano, Saldanha continuou a imprimir aquele matutino, pois a partir de 1951 ou 1952 surgiu então a figura de Olmiro Prompt que passou a gerir os destinos do Maringá Jornal como órgão dos Jornais Associados Paranaenses. Sua participação foi efêmera, chegando inclusive a ocorrer a paralisação da impressão do jornal durante alguns meses.”

Depois dos depoimentos, Arthur Andrade dá seqüência à história: “Somente com a chegada de Ivens Lagoano Pacheco e com a participação efetiva de Samuel Silveira, é que pudemos ver novamente nas bancas de nossa cidade, circulando no dia 5 de abril de 1953, O Jornal de Maringá, com seu título original e sob nova direção, dando prosseguimento a uma luta iniciada por Avelino Ferreira, o iniciador da verdadeira história do O Jornal de Maringá.”
Avelino Ferreira também informou a Andrade que durante os anos de 1954 e 1955 surgiu um outro jornal em Maringá: A Hora, dirigido pelos irmãos Zimmermann.
Contudo, é importante registrar que um ano antes do lançamento do O Jornal de Maringá, circulou na cidade o semanário Voz do Norte. A edição número 1 é de julho de 1949. O diretor era Orlando Simões de Almeida, o gerente José Silveira e o secretário Vitor Costa. Em 1974, o Diário do Norte do Paraná fez uma reportagem de página inteira do Voz do Norte, inserindo inclusive uma reprodução da capa da primeira edição.


A edição número 2, de 1950, do O Jornal de Maringá: reprodução do livro Maringá, ontem, hoje e amanhã, de Arthur Andrade


Reprodução da edição número 5 do O Jornal, em 17 de maio de 1953; Ivens Lagoano Pacheco é o diretor responsável, diretor comercial Ignácio Nassif e os redatores Helenton Borba Cortes, Mario Clapier Urbinati e João Alfredo Menezes


Repdução da edição número 74 do O Jornal, em 7 de abril de 1954; Ivens Lagoano Pacheco continua como diretor responsável.

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