quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Livro: “O Jornal do Bispo” – Capítulo 26 - O ROMÂNTICO ASSIS

No seu apartamento na rua Arthur Thomas, no centro de Maringá, o professor universitário aposentado de língua portuguesa, jornalista e poeta Antonio Augusto de Assis desfila histórias importantes e curiosas sobre a Folha do Norte do Paraná, jogando luz sobre fatos que o tempo foi tornando obscuro. A história de Assis se confunde e se funde com a própria história do jornalismo maringaense.

Calmo e sereno, o carioca A. A. de Assis, como é chamado, nasceu em 7 de abril de 1933, em São Fidélis-RJ, chegou em Maringá em 1955. Antes, morou em Bauru (SP), onde trabalhou numa agência Chevrolet. Veio para ser empregado no comércio de peças para automóveis. Ficou menos de um ano neste emprego porque o seu gosto, revelado desde a idade de 16 anos no Rio, quando trabalhava num jornalzinho, era escrever.

Começou no A Hora, cujo diretor era Anibal Goulart, depois no O Jornal de Maringá e na Tribuna de Maringá. Assis lembra que a Tribuna, de André Tavares, era um jornal guerreiro, tinha na redação Ary de Lima, já falecido, que foi vereador e deputado, e ficou marcado para sempre na história da cidade por ser autor do Hino a Maringá.

Na Tribuna e no A Hora, jornais de curta duração, que iniciaram as atividades na metade da década de 50 e em menos de dois anos fecharam as portas, os profissionais faziam de tudo. Uma clínica geral, como Assis compara o trabalho que realizavam.

Ele trabalhou ainda na revista NP, a primeira grande revista da região, de Aristeu Brandspein, e esteve algum tempo na Rádio Cultura. A opção em trabalhar em jornal nada tinha de financeira.

“Ficar rico ninguém ficava, nem os donos. Depois é que os donos começaram a ganhar dinheiro aqui. Era o jornalismo romântico. Fazia-se jornal por idealismo, prazer, o cheiro de tinta. A gente era bobo. Era muito mais romântico do que profissional. A gente se empolgava.”
As andanças pelos jornais e rádio duraram até 1965, quando foi convidado para ser o diretor de redação da Folha do Norte, onde permaneceu até 1977. Mesmo não possuindo tino comercial, chegou a ser um dos arrendatários da Folha junto com Jorge Fregadolli, quando Joaquim Dutra inaugurou O Diário.

Assis era o homem de confiança, inclusive de dom Jaime, que mesmo tendo arrendado o jornal, acompanhava a par e passo todas as edições. O calmo e sereno Assis era a certeza de que o radicalismo não se instalaria na redação. Também era a certeza de competência e credibilidade.

O romântico Assis, que registrou este traço marcante de sua personalidade nas dezenas de livros que escreveu sobre poesia, foi o homem certo para aparar arestas, desarmar espíritos e conduzir um jornal que a provinciana Maringá exigia.

Sob um olhar distante, ouvindo os protagonistas, tem-se a convicção, ou pelo menos a impressão que Maringá vivia sem grandes abalos nos anos 1960. O tempo se encarrega de abrandar os fatos. Seus personagens, ao lembrar com saudades uma época, tendem a diminuir as mágoas ou até mesmo esquecê-las a ponto de elogiar o antigo oponente.

Mas a cidade tinha sua dose de fervor político. Dentro das condições que eram impostas à redação, a Folha buscou a fidelidade para informar. As questões políticas relacionadas à administração municipal, Câmara de Vereadores e à discussão partidária eram abordadas costumeiramente, mas nada que descambasse para golpes rasteiros, como denúncias vazias com o objetivo de achaque.

João Paulino sempre foi a bola da vez. Prefeito nas décadas de 60 e 70, era alvo de críticas. Assis conta que nada de pessoal havia nas críticas e nenhum interesse escuso. O grupo de João Paulino detinha o poder, portanto, era vidraça.

“Os políticos da cidade se sentiam incomodados e usavam a ditadura nacional para também pressionar a imprensa local. Era o João Paulino, o Haroldo Leon Peres, o Nei de Carvalho, o Túlio Vargas. A Folha brigou com o João Paulino desde o começo. O dom Jaime tinha uma polêmica muito grande com o João Paulino. Mesmo quando a Folha mudou de direção, o João Paulino olhava a Folha como uma espécie de inimigo. Até ele me chamava de “meu cordial inimigo”. Eu sempre gostei muito dele e parece que ele gostava de mim, mas, na hora da política, a gente cruzava as espadas. Até pouco antes de morrer, ele me encontrava na rua e lembrava daqueles bons tempos.”

Assis mudou o rumo de sua vida em 1979, quando foi dar aulas de português na UEM, onde ficou até se aposentar. Depois que saiu da Folha, em 1977, ficou dois anos fazendo uma coluna no O Diário chamada Gente muito gente, que a cada dia focalizava uma pessoa da cidade.

Da janela de seu apartamento, a visão da cidade não é das melhores. Edifícios interpuseram-se à frente, dificultando a paisagem. Os dias de hoje, evidentemente, são bem mais tranqüilos. Nada de apagar incêndios, acomodar situações. Hoje já não é preciso diminuir o ímpeto de intrépidos repórteres como Elpídio Serra, Wilson Serra, Messias Mendes, José Antonio Moscardi e Antonio Calegari, dos quais ele se lembra pela amizade, competência e criatividade com que redigiam seus textos. Não é preciso mais dar força para o novo repórter, mostrar o caminho das pedras. Assis fechou o ciclo no jornalismo diário.

Deixou, contudo, uma porta aberta para dar vazão à sua paixão pelas letras: faz poesias. Usa rimas para falar da vida, do amor. É pela poesia que Assis é conhecido em todo Brasil, sempre colecionando prêmios nos concursos literários que participa. Além de poeta, Assis escreve contos e crônicas de rara sensibilidade.

“Hoje já tem escola de jornalismo. Não havia. Eu nunca fiz escola de jornalismo. Fiz curso de letras, mas com 16 anos eu já trabalhava em jornal. Comecei como revisor e acabei entrando na coisa porque gostava. No curso superior de jornalismo se aprende tudo tecnicamente. Peca um pouco hoje neste aspecto de romantismo. Eu gostava do jornalismo romântico. A gente tinha até certos ídolos da imprensa nacional como o David Nasser, Carlos Lacerda, Nelson Rodrigues, Carlos Heitor Cony. Era um romantismo puro.”

Assis aprendeu a escrever, escrevendo. Aliou o talento natural à leitura e foi colocando no papel o que a mente pedia. As redações de jornais foram a escola de Assis.


João Paulino e dom Jaime juntos no palanque: só mesmo no apoio aos militares
(Reprodução foto -arquivo Diocese de Maringá)
O diretor de redação Antonio Augusto de Assis: 12 anos de Folha do Norte
(Foto: Nelson Jaca Pupin)

Um comentário:

Anônimo disse...

Bom ver o jornalista e pioneiro maringaense Joe Silva nessa foto ao lado de Dom Jaime