sábado, 14 de fevereiro de 2009

Livro: “O Jornal do Bispo” – Capítulo 21 – JOAQUIM DUTRA, O ARRENDATÁRIO DA FOLHA DO NORTE, PIONEIRO DA COMUNICAÇÃO

Joaquim Dutra cumpria, até 2002, a rotina diária de ir à Rádio Cultura de Maringá, sua menina dos olhos. Já não precisava tomar decisões do dia-a-dia, mas sempre era ouvido nas questões importantes. Ele e seu amigo e sócio Samuel Silveira chegaram a ser proprietários de 14 emissoras de rádio, um canal de tevê, a Cultura, afiliada da Globo em Maringá, e O Diário do Norte do Paraná.

Dutra desfez-se de todos estes órgãos nos últimos 30 anos, mas da Cultura, a emissora do Leão, só abriu mão no início de 2002, quando a vendeu para Frank Silva. Na emissora mais antiga da cidade, fundada em 1951, Dutra foi sócio com Silveira, Carlos Piovezan Filho e Reginaldo Nunes Ferreira.

Figura das mais respeitadas de Maringá, Joaquim Dutra recebeu da Câmara Municipal, em 1979, o título de cidadão benemérito da cidade. Dono de um espírito empreendedor ímpar, sempre topou desafios, vencendo a maioria deles. Nascido na cidade paulista de Mogi-Mirim, ele chegou à cidade em 1950, acompanhando a família, que veio abrir um hotel.

Aos 83 anos, sofrendo de mal de Parkison, o primeiro arrendatário da Folha, se desculpa em não poder dar informações precisas sobre o jornal devido à fraca memória. Quando começa a falar, no entanto, ele discorre sobre os fatos mais importantes, praticamente sem hiatos de esquecimento.

Diz que o motivo que o levou a arrendar a Folha do Norte não foi pela possibilidade de ganhar dinheiro, mas sim porque não poderia deixar uma publicação daquela importância para Maringá e região sucumbir nas mãos de quem não era do ramo:

“O contrato de arrendamento foi um negócio mais feito na confiança. Foi um contrato inicial e aquilo serviu de orientação. A Folha não foi um exemplo de jornal, mas foi um jornal sério. Ela veio para moralizar a imprensa.”

Dutra não coloca a Folha como apenas um veículo de comunicação que passou pelas suas mãos. Fala do jornal com a convicção de que ele foi necessário para, se não acabar, pelo menos diminuir a picaretagem instalada em Maringá no meio jornalístico.

Assim, como dom Jaime, ele abominava o comunismo. Não foi por acaso que o bispo aceitou sem restrições o arrendatário. Dutra enfatiza que a boa intenção de um órgão de imprensa leva ao respeito e deste ao temor:

“Uma imprensa quando é bem dirigida, quando é bem intencionada, ela é temida pelos políticos e pelas pessoas de lado esquerdo. Então, como ela é temida, ela é respeitada, ela impõe respeito. Era assim a Folha, que tinha como redator principal o Assis, um bom redator, sempre bem intencionado, direto, um elemento ideal para tocar o jornal naquela ocasião.”

Nos quase dez anos no comando, Joaquim Dutra soube dinamizar os departamentos porque unificava o empresário e o maringaense que lutava por uma imprensa forte. Dava a importância eqüitativa ao comercial e à redação.

Deixou a Folha em 1973 para que o grupo de Jorge Fregadolli assumisse. O motivo, segundo Dutra e que dom Jaime não confirma, foi a compra de uma rotativa off-set. O empresário do ramo da comunicação não leva mais em conta esta história, continua a ter dom Jaime em alta conta e distribui elogios a todos com quem trabalhou na Folha.

O que lhe vem forte à mente, deixando-o ainda revoltado, quando o assunto é a década de 1960, é a figura do vereador maringaense Bonifácio Martins, um emérito comunista.

“Na Revolução de 64, foi briga por microfone. O Rio Grande do Sul fez a Cadeia da Legalidade e o resto do Brasil fez a Cadeia da Democracia. A guerra se baseou em conversas, em microfone. E nesta ocasião tinha um vereador aqui em Maringá que era comunista declarado. Aquele negócio das emissoras ficarem 24 horas por dia no ar, durante aquela revolução, ele veio três vezes atrás de mim para que eu mudasse a programação. Ele falava claramente: - Se você não mudar de estação, nós vamos cassar a licença da sua rádio. Mas a nossa índole, o nosso entendimento era tudo do lado de cá. Então, eu liguei para o Samuel Silveira, que estava em Curitiba e contei a ele o que estava acontecendo. Ele me disse: -Olha, Joaquim, se for para fechar a rádio, feche, mas nós não vamos passar para a Cadeia da Legalidade. O vereador fugiu quando acabou a Revolução, ele fugiu de Maringá e eu fui encontrar ele um dia comendo uma pizza lá em Cuiabá.”

Joaquim Dutra conta a história como se ela tivesse acabado de acontecer e dá um sorriso satisfeito de vitória. Quanto à sua menina dos olhos, a Rádio Cultura, ele só se desfez quando percebeu que havia concluído a sua obra na área de comunicação do Paraná.

(Nota do autor: a entrevista com Joaquim Dutra foi realizada em 2001)



Joaquim Dutra, arrendatário da Folha do Norte de 1964 a 1973, vendeu a Rádio Cultura de Maringá para Frank Silva, em 2002
(Foto: José Roberto Furlan)

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