quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Livro: “O Jornal do Bispo” – Capítulo 33 – O SONHO MUTILADO

Quando o assunto é jornalismo, Elpídio Serra é sinônimo de desilusão. Funcionário da Folha do Norte por dez anos, de 1965 a 1975, começou como secretário de redação e chegou a redator-chefe.

Tinha apenas 12 anos quando entrou no jornalismo: como auxiliar de revisor no O Jornal de Maringá, onde ficou por quatro anos. Em 1962, foi para a Rádio Cultura escrever boletins. A transferência para a Folha ocorreu em 1965, um ano depois de Joaquim Dutra arrendá-la.

Pelo tempo em que lá trabalhou e por ter ocupado a chefia, Elpídio é um dos profissionais que mais compreendem o que se passou com a Folha do Norte. Mas, ele não faz uma análise individualizada do jornal. Prefere pôr todas as publicações no mesmo nível quando avalia a dependência ao poder vigente para poder sobreviver. Para Elpídio, nada mudou em mais de quatro décadas.

A desilusão, somada a uma boa dose de indignação, é decorrente, segundo ele, do provincianismo da imprensa maringaense que, na sua avaliação, continua como nos tempos de dom Jaime e Ivens Lagoano Pacheco.

Uma desilusão que o fez parar de escrever há quase 20 anos e a se tornar um crítico ácido. O desiludido e indignado, Elpídio não escolhe palavras para explicar porque resolveu aposentar a máquina de escrever.

“A desilusão é muito grande. Antes a gente vibrava muito, mas, depois, ou ia ser empregado do Frank Silva ou empregado do Fregadolli. Aí eu comecei a analisar. Eu pensei: acho que não dá, não. Aí, eu comecei a me perguntar se era um vendedor ou um jornalista. Aí começou a desilusão. Comecei a trabalhar com a Folha de Londrina, um período na sucursal de Maringá. Não gostei do ambiente. Fui correspondente da Folha de S. Paulo aqui na região, fui convidado a trabalhar em São Paulo. Fui para lá e comecei a me realizar novamente, mas minha família não se adaptou. Os jornais de Maringá também eu não queria e surgiu então a possibilidade da Cocamar. Eu gostava de fazer jornalismo, mas aquele jornalismo não tinha mais espaço para mim. Montei o Jornal da Cocamar e fiquei lá até 1991.”

Em 1991, Elpídio lecionava geografia na UEM e houve pressão para que os professores fizessem pós-graduação. Optou em continuar os estudos e foi fazer mestrado em São Paulo. Foi convidado a voltar à Cocamar, mas surgiu a oportunidade de doutorar-se e então continuou em São Paulo.

Numa sala simples do bloco G-34 da UEM, o professor, mestre e doutor Elpídio dá plantão diário atendendo acadêmicos do curso de geografia. Suas palavras parecem conter mais do que desilusão e indignação ao analisar o jornalismo maringaense.

Contêm mágoa. Inconscientemente, ele culpa este sistema, que ignora a qualidade e privilegia o faturamento, de ter mutilado seu sonho de estar até hoje exercendo uma paixão que começou na tenra idade.

Elpídio, que nasceu em Cambé (PR) em maio de 1946 e que em outubro do mesmo ano já estava em Maringá, volta a dispara:

"É aquele negócio: eu quero fazer jornalismo, mas, mais do que isto, eu quero um emprego. Tem gente boa por aí, mas de que adianta fazer jornalismo se depois ninguém publica?”

(Assim como todas as entrevistas concedidas para este livro, esta também foi realizada em 2001)
Elpídio Serra trabalhou por 10 anos na Folha do Norte
(Foto: Tabajara Marques)

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