Parece que foi ontem que você nasceu. Era um dia como hoje. Friozinho. Um belo sol, mas que não esquentava. Por volta das 2 da tarde você apareceu na vida da gente. Tenho péssima memória, mas jamais esqueci o peso e a metragem: exatamente 3 quilos e 600 gramas e 52 centímetros.
Não fugi nada da ridícula corujice de pai fresco. Fiquei babando olhando para sua cara inchada enquanto a enfermeira do outro lado do vidro fazia sua apresentação. Pôxa, estou ficando emocionado ao lembrar daquele dia. Há quase 16 anos. Agora fico procurando detalhes. Uma tia pregou a camisa do Corinthians na porta do quarto do hospital.
Parece que foi praga de corintiana. Caramba! Você consegue ser mais fanático do que eu! Já o nosso ódio pelo Palmeiras é o mesmo. Olho pra você e vejo quanto o tempo passou sem que eu percebesse. Faltam dois centímetros para você me alcançar. E olha que eu não sou baixo. Já estamos usando a roupa um do outro.
Teu pé 42 é maior do que o meu. Já está difícil lutar com você. Antes, eu te dominava facilmente. Hoje, tenho que pedir pra você ir mais devagar senão me arrebenta. Teu jeito de caminhar é igual ao meu, tuas mãos são iguais às minhas e temos gosto e senso crítico parecidos.
Gostos e críticas podem ter minha influência direta, inconsciente, acredite, e isso me dá uma grande felicidade. Uma baita alegria me ver em você. Felizmente, você não é minha imagem e semelhança, tem personalidade própria, que é bastante forte, mas é muito bom saber que eu tive minha cota de colaboração.
Hoje não é nenhum dia especial para falar de você. Seu aniversário está longe e não estou, absolutamente, com nenhuma culpa premente ou acumulada. Para mim todo dia é seu aniversário. A inspiração trouxe você na ponta dos meus dedos e ficou impossível deixar de redigir este depoimento que está para cair no balaio da pieguice e do estilo sentimentalóide, se é que já não caiu. Pouco importa, você importa. (1998)
(Livro Da Minha Janela, publicado em 2003)
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