Armando Nogueira disse que o jornalista é apenas um intermediário entre a notícia e o público. Nada mais do que isso. O veterano jornalista, que brinca com as palavras com a maestria dos gênios, enfatiza que o profissional da comunicação é tão somente uma testemunha dos fatos. A afirmação reveste-se de grande verdade e demonstra a humildade do autor.
Este exemplo deve ser seguido por todos que militam na imprensa. É necessário que o repórter saiba fazer a distinção e se colocar no seu devido lugar. Existem os homens que são notícias, existe um público à espera de informações sobre estes homens e existem os profissionais da imprensa para funcionarem como elo.
Quem tem a oportunidade de colocar suas matérias e opiniões numa folha de jornal, de empunhar um microfone ou mostrar a cara na televisão tem, obrigatoriamente, de conhecer estes limites. Repórter não é artista nem notícia. Em todo e qualquer acontecimento ele deve se recolher à sua condição de profissional. Ou seja, fazer seu trabalho.O reconhecimento virá a partir da competência e credibilidade com que se transmite a notícia. Não se consegue respeito e notoriedade com bajulação e estardalhaço. É tentadora a aproximação com o poder.
A inexperiência pode levar a um desvio de rota, tornando o profissional desencorajado a reportar fielmente a notícia, seja pela omissão ou pelo exagero.A necessidade premente de se aparecer é outro complicador. São vários os casos de repórteres que se sentem os deuses do pedaço, que não conhecem outras cercanias além do umbigo. O entrevistado passa a ser um coadjuvante. E isso, para o leitor, telespectador ou ouvinte, é o que há de mais deprimente e irritante.
O ator Robert de Niro disse, em uma de suas raras entrevistas, que nunca gostou de jornalistas, porque eles são frustrados. Segundo o consagrado ator, o jornalista gostaria de ser artista, e, como não consegue usa a profissão apenas pelo poder que ela representa. Ele tem uma boa dose de razão. Ao verificarmos a leva de profissionais ou pseudos, que infesta nosso cotidiano, tentando superar o objeto da notícia ou a própria, percebemos a veracidade da afirmação.
Todo jornalista gosta de ser reconhecido. Todo profissional anseia por isto. Ele quer ver sua matéria comentada e repercutida. Mas é preciso saber distinguir a sinceridade do oba-oba, detectar o que existe de verdade num elogio. É fundamental ter o senso crítico apurado. A vida é um eterno aprendizado e, assim como em todas as profissões, devemos ter humildade para ouvir, não nos embriagar com conquistas e nem nos abater com derrotas.As melhores crônicas ou as melhores reportagens ainda estão por vir. Armando Nogueira é o mestre que continua nos encantando porque compreendeu isto há muito tempo.
(Livro Da minha janela, publicado em 2003)
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