Nesta calçada larga, comprida e movimentada, em que eu caminho agora, vejo gente de todos os tipos, idades, tons, tamanhos e reações. Nesta calçada, em que manobro meu corpo, esbarrando e desviando das pessoas, eu e muitos vamos enquanto outros tantos vêm. Vamos, sem saber exatamente para onde, e eles vão atrás de não sei o quê.
Vem uma grande curiosidade de saber o destino de cada um destes estranhos seres. Quanto mais vão andar? Por que são rápidos? Por que são lentos? Por que voam? Por que se arrastam? Por que andam? Por que ficam no meio do caminho?
Rostos anônimos, sós e em bandos, seguem, dão meia-volta, interrompem a caminhada ou atravessam a rua. Carregam seus pacotes de sonhos e sacolas de dores ou estão com as mãos livres, livres para conquistar pessoas e coisas, livres para abrir caminhos sem companhia.
Cobrem os corpos ou partes deles com tecidos sem estampa ou coloridos, compridos ou curtos, comportados ou ousados, para informar a personalidade e o estilo através deles. Cortam os cabelos, raspam, deixam crescer, penteiam, amarram, deixam os fios espalhados, fazem tranças, pintam, descolorem, põem adereços. Usam metais nos dedos, braços, no pescoço, nas orelhas, furam a pele. Fazem desenhos nos corpos, põem letras pequenas e enormes, pinturas singelas, fantasmagóricas, religiosas... Tudo para ser únicos
As cabeças viram para todas as direções buscando apreender o que for possível na festa de cores e sons. Ou abaixam a cabeça, nariz rumo ao chão. Vão absortos, ou são levados, entrincheirados em seus mundos. Homens que andam eretos e curvados, senhores de si e intimidados, livres e presos.
Na calçada cada um desfila a seu modo. Os homens são bichos em exposição. Uma passarela em que assistimos e somos assistidos. Verificamos todas as diferenças para concluir o quão profundamente somos iguais. E isto nos conforta.
Nesta calçada que me leva, corredor dessa gente sisuda, alegre e indiferente, imponente e cabisbaixa, tento caminhar em linha reta, mas sou obrigado a fazer curvas; tento acertar uma postura, mas o corpo às vezes cambaleia; os passos querem ser firmes, mas às vezes vacilam; quero não me incomodar e passar incógnito, mas sei que estou sendo visto ou vigiado; quero simplesmente andar, mas não fico incólume; e quero me fazer entender; mas sou mais um rosto.
Sou parte deste todo, partícula, complemento exclusivo, mas descartável, massa desta massa, só mais um anexo da história geral, só mais um na larga, comprida e movimentada calçada, sem saber exatamente para onde vou, atrás de não sei o quê.
(Publicado no jornal O Diário do Norte do Paraná, em 08/04/07)
Vem uma grande curiosidade de saber o destino de cada um destes estranhos seres. Quanto mais vão andar? Por que são rápidos? Por que são lentos? Por que voam? Por que se arrastam? Por que andam? Por que ficam no meio do caminho?
Rostos anônimos, sós e em bandos, seguem, dão meia-volta, interrompem a caminhada ou atravessam a rua. Carregam seus pacotes de sonhos e sacolas de dores ou estão com as mãos livres, livres para conquistar pessoas e coisas, livres para abrir caminhos sem companhia.
Cobrem os corpos ou partes deles com tecidos sem estampa ou coloridos, compridos ou curtos, comportados ou ousados, para informar a personalidade e o estilo através deles. Cortam os cabelos, raspam, deixam crescer, penteiam, amarram, deixam os fios espalhados, fazem tranças, pintam, descolorem, põem adereços. Usam metais nos dedos, braços, no pescoço, nas orelhas, furam a pele. Fazem desenhos nos corpos, põem letras pequenas e enormes, pinturas singelas, fantasmagóricas, religiosas... Tudo para ser únicos
As cabeças viram para todas as direções buscando apreender o que for possível na festa de cores e sons. Ou abaixam a cabeça, nariz rumo ao chão. Vão absortos, ou são levados, entrincheirados em seus mundos. Homens que andam eretos e curvados, senhores de si e intimidados, livres e presos.
Na calçada cada um desfila a seu modo. Os homens são bichos em exposição. Uma passarela em que assistimos e somos assistidos. Verificamos todas as diferenças para concluir o quão profundamente somos iguais. E isto nos conforta.
Nesta calçada que me leva, corredor dessa gente sisuda, alegre e indiferente, imponente e cabisbaixa, tento caminhar em linha reta, mas sou obrigado a fazer curvas; tento acertar uma postura, mas o corpo às vezes cambaleia; os passos querem ser firmes, mas às vezes vacilam; quero não me incomodar e passar incógnito, mas sei que estou sendo visto ou vigiado; quero simplesmente andar, mas não fico incólume; e quero me fazer entender; mas sou mais um rosto.
Sou parte deste todo, partícula, complemento exclusivo, mas descartável, massa desta massa, só mais um anexo da história geral, só mais um na larga, comprida e movimentada calçada, sem saber exatamente para onde vou, atrás de não sei o quê.
(Publicado no jornal O Diário do Norte do Paraná, em 08/04/07)
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