sábado, 10 de novembro de 2007

Só para ver a paisagem


As palavras surgem com dificuldades. Hoje, não vai ter nada de mediúnico, se é que algum dia teve. É transpiração absoluta, é a cabeça latejando. São muitos os temas com possibilidades de render uma história, mas eles chegam, passeiam na mente, mas não tomam corpo. Saem ou se escondem para voltar mais tarde quando já não me interessam tanto. Hoje, não vão surgir frases prontas, nada de entrega a domicílio, de transferência imediata do cérebro para os dedos.

Mas não vou desistir. Quem sabe, escreverei sobre o Hino do Galo, que fiz com o Cláudio Viola, e os arranjos do Ronaldo Gravino. Com aquela voz versátil aliada a um instrumental vibrante, o artista Ronaldo deu vida às nossas estrofes ufanistas e esperançosas no clube maringaense.

Nesta sôfrega busca rastreio notícias. Lembro que a Cidade Canção faz aniversário no mês que vem. Então, vou deixar para quando maio chegar. No mês das mães, das noivas e de Maringá, pretendo fazer minhas modestas homenagens relembrando fatos históricos ou aqueles bem pessoais. Quero me irmanar ao sentimento maringaísta e comemorar com orgulho e satisfação o aniversário da menina sexagenária.

O surto da dengue, como nunca se viu por essas bandas, também renderia. O trânsito endiabrado, com pouco espaço para muitos carros, ônibus, motos, bicicletas e carroças é outro assunto que poderia chamar a atenção do estimado leitor, que muito me honra ao dedicar alguns minutos de seu precioso domingo para abrir esta página.

Daria para discorrer sobre os meninos e as senhoras pedindo dinheiro nos semáforos. A prefeitura pôs placas pedindo para que a gente não dê dinheiro, mas as moedas continuam a ser dadas, alimentando a mendicância. Os flanelinhas, aqueles metidos a valente, também são um bom e revoltante tema. Na pressão e na ameaça, eles pedem para cuidar do seu carro. E você, desamparado, olha para os lados e, com bom senso, aceita a extorsão.

São tantos assuntos, mas nenhum deles me inspira suficientemente para pô-los na tela. Então, fico procurando algo ameno que poderia exercitar meu debilitado, mas sempre presente, espírito poético. Penso nos canteiros de flores que estão sendo formados na Tiradentes, reforçando o título, pelo menos para mim, de mais bela avenida da cidade.

Agora pouco vi uma fila de crianças de uma escolinha. Todas elas uniformizadas, de mãos dadas, atravessando a faixa de pedestres, com uma tia na frente e outra atrás. Cheguei a pensar em escrever sobre elas, sobre esta turma que começa a dar os primeiros passos para enfrentar as inseguranças nas faixas desta vida, deste mundo de futuro incerto. Mas hoje vou ficar na superfície. Como alguém que senta no banco da praça só para ver a paisagem.

(Publicado no jornal O Diário do Norte do Paraná, em 01/04/07)

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