A última vez que vi e ouvi Horácio Raccanello foi no final de 95, na sala de reuniões da Prefeitura de Maringá. Naquela ocasião, o então prefeito Said Ferreira estava formando a Comissão dos Direitos Humanos da cidade. O projeto foi idealizado pelo Crispim, que era vereador, e o Alberto da Rocha, o ouvidor municipal.
Não sei a quantas anda a tal comissão. Acredito que o mais importante dela foi ter como um de seus membros o professor e advogado Horácio Raccanello. Não havia muita gente na sala. Só autoridades, funcionários municipais e repórteres. Fazendo parte deste último grupo, eu tinha que pegar os dados sobre a dita comissão: nomes, início dos trabalhos e qual seria a forma de atuação.
A coisa estava pra lá de enfadonha, mas estava botando fé que o Horácio faria uma explanação sobre os direitos humanos. E fez. Não deve ter durado mais de 15 minutos, mas valeu. O seu poder de prender a atenção das pessoas era impressionante. Todos de olhos grudados naquele homem branco, alto, magro, calvície acentuada com seus 50 e poucos anos. Uma oratória precisa: timbre de voz, conhecimento e articulação.
E o semblante grave e mãos como que direcionando as palavras. Horácio salvou a reunião e no final todos foram cumprimentá-lo, inclusive este modesto escriba, fã anônimo entre tantos outros fãs maringaenses que ele conquistou com sua verdade e seriedade na política. Ao tomar conhecimento da morte do maior orador da história de Maringá – pelo menos, dos que ouvi – e uma das figuras mais representativas da política paranaense na luta pela democracia, fiquei entristecido, assim como os que militam na política da cidade, os seus alunos da UEM, seus colegas advogados e magistrados, e os seus muitos amigos e eleitores.
Existem pessoas que mesmo não sendo do nosso círculo de amizades nos deixam órfãos quando partem. Horácio foi uma delas. Na campanha para a prefeitura, em 82, por pouco Horácio não ganhou. Sem recursos, sua arma principal era o palanque. A verdade em cada afirmação e a força com que era transmitida lhe renderam votos e admiração. Said venceu e pela segunda vez Horácio viu adiado – e encerrado – seu projeto de ser prefeito da Cidade Canção. Foi secretário estadual da Justiça, conselheiro do Tribunal de Contas, professor e advogado.
Mas, ainda que tenha se afastado da política partidária, ele deve ter levado para o túmulo o sonho de ser prefeito de Maringá. Horácio Raccanello Filho passou pela vida, empunhou com honra e galhardia a bandeira do velho MDB, deixou sua marca. Felizmente, esta história, feita de luta pelos direitos humanos, de seriedade, coerência e coragem na política e de competência e brilhantismo como advogado e professor, foi escrita em Maringá. Mais do que a história de homem público, Horácio deixou um exemplo de cidadania.
(Livro Da minha janela, 2003)
Um comentário:
De Paula: Em débito com você por não ter mandado nada de mim para o livro sobre O Diário, bato no peito exclamando mea culpa, mea máxima culpa. Mas, oportunidades outras violão. Lembrando Horácio Racanello, em setembro de 74, ele passa na redação de O Diário então ali no 138 da Tuiti e me chama para ir ao comício do fenômeno Leite Chaves em Campo Mourão. Pedi licença pro Rubens Ávila (já tinha entregue o meu material e só estava esperando uns e outros prá ir pro Império). Num fusca do professor, rumamos prá Campo Mourão. A praça - não me lembro o nome, aquela central, a maior) estava coalhada de gente. Gente até em riba das árvores,das marquises das lojas. Então aconteceu que vi gente do antigo PTB no palanque - duas carretas emendadas pelas traseiras - como Amaury Silva, Leo de Almeida Neves, e resolvi cumprimentá-los. Na base do dá licença, demorei meia hora prá chegar ao 'palanque'. Mas foi só eu trepar (epa!) na carroceria e alguém griou: Olha lá o Leite Chaves!". Pronto, foi só o que bastou prá artilharia Caramurú pipocar. Meia hora de foguetório. Resultado. Quando o Senador do Paraná chegou, tinha foguete prá ele não. Até outro dia ele ainda me cobrava por isso. Realmente, até hoje pareço um pouco com ele. Minha mãe e milha mulher dizem que sou mais bonito. Abraços mil prá você com votos de crescente sucesso. Parreiras Rodrigues, ex-O Diário - Assessor de Imprensa do dep. Luiz Accorsi.
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