sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Dadá e Lori

“Lori – Não fique encanado com o que aconteceu. Deixa de ser bobinho. Gosto de você e ponto final. Nunca entrei numas porque você tem 37 anos mais do que eu. Os meus amigos gostam de tirar uma, mas são gente fina. É o jeito deles. Quando eu dei risada junto foi porque achei a piada uma grande sacada. Eu te conheço, eu sei da tua força. Esta coisa de Viagra virou gozação geral. Neguinho passou dos trinta e já começam a falar que é preciso tomar. Também achei de mau gosto te chamarem de vovô. Dei uma dura neles e prometi que se fizerem isto de novo vou apelar. Tô com saudades de você. Você faz uma falta danada. Fico olhando pra aquela espreguiçadeira vazia e lembro quantas noites eu ficava sentada no chão com a cabeça repousada no seu joelho enquanto a gente assistia aqueles instrutivos documentários da GNT. Fiquei sabendo que você não passou bem na terça-feira. Garanto que foi a gota. Torço pra você melhorar desta bagaça. Por que não me ligou? Tua Dadá te ama muito e sabe que o contrário também é verdadeiro. Tire esta carranca de Lourival e venha ser o meu Lori. Saio com a turma quase todos os dias. Chapo legal tentando tirar você pelo menos algumas horas da cabeça. Mas não tá fácil, Lori. Quanto mais eu bebo, mais eu vejo você se aproximar com aqueles passinhos lentos e aquela cortesia que é só sua. Tô numa ressaca danada e rezo para este telefone tocar e você do outro lado da linha me dizer: “Como passou de ontem para hoje minha querida Dadá?” Lori: estou péssima, parei de ir à escola, tô matando a academia e o meu cartão de crédito tá estourado. Te amo. Tua Dadá.”

“Querida Dadá – Folgo em saber que ainda pensas em mim. Fiquei deveras preocupado ao saber, através desta missiva tensa e apaixonada, que estás deixando de cumprir teus deveres. Tu bem sabes do meu temor em relação ao álcool. Apavoro-me com a idéia de tu saíres com teus amigos e atravessares noites em claro bebendo e pouco se alimentando. Os anos vão te cobrar mais tarde. Hoje tu tens apenas 17, mas é preciso que prepares o teu futuro levando uma vida saudável no presente. Confesso que me entristeci sobremaneira com as saliências de teus caros amigos. Não ousei responder-lhes porque entendo ser minha altivez a melhor resposta. Busquei ignorá-los, que é onde se enquadra a minha índole. O meu afastamento abrupto e, garanto-lhe, momentâneo, foi para que eu me recolhesse e analisasse, isento de interferências, esta nossa relação. Concluí, minha querida, que os meus dias convergem para os teus, que, juntos, as nossas noites têm a mesma intensidade, que a minha vista do horizonte é a mesma que a tua, enfim, que os nossos sonhos se completam. Amo-te com todas as minhas forças, inclusive com aquelas a que tu te referiste, e mesmo quando o físico me impossibilitar de materializar esta paixão estarei com o coração transbordando de amor. Esta tua correspondência me encheu de felicidade. Poderia ligar-te, mas certamente não conseguiria exprimir todo o meu sentimento. Breve te encontrarei e peço-te que não preocupes com pequenos problemas. Um beijo do Lourival, ou, como tu preferes, Lori.”

(Livro Da minha janela, publicado em 2003)

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